Do diário de Alex McGregor
O cheiro de café invadiu os meus sonhos e eu abri os olhos devagar, e vi que Logan estava parado ao lado da cama, segurando uma xícara numa mão e tinha os olhos fixos em mim. Ele estava usando apenas uma calça de pijama e seu cabelo estava bagunçado. Espreguiçei-me lentamente e vi que ele não perdia nenhum dos meus movimentos. Peguei o café e bebi um longo gole e falei, enquanto ele se deitava na cama novamente:
- Você sabe como acordar uma mulher. – provoquei e ele respondeu:
- Desconfio de que você só está comigo, porque sei fazer um bom café.
- É verdade, isso é essencial num homem. – e quando coloquei a xícara na mesa de cabeceira ele disse:
- Agora vou mostrar como você pode acordar mais relaxada...
- Ora, será que ainda temos talentos escondidos?? - rimos e nos beijamos.
Estes encontros matinais, estavam virando rotina, desde que voltamos a sair juntos, há duas semanas. Estávamos nos encontrando em sua casa, em Londres, e parecia que a cada dia descobríamos coisas novas um do outro. Depois de algum tempo, estávamos deitados lado a lado, e vi que ele tinha os olhos fechados. Suspirei e ele abriu os olhos me encarando sério:
- Vamos nos casar!
- Isso foi um pedido?- perguntei sorrindo, achando que era uma brincadeira, mas ele entrelaçou os dedos nos meus e disse:
- Amo você, e acho que você sente o mesmo por mim... Vamos oficializar isso. - e notei que ele estava preocupado, pois me viu ficar séria:
- Já parou para pensar que eu não poderei te dar filhos? Eu ainda sou auror, isso foi uma dos motivos por terminarmos da outra vez.
- Você sabe que meus ‘rapazes’ são lentos, mesmo que você quisesse, eu é quem não poderia te dar mais filhos. E você tem o Ty, sabe que adoro aquele garoto. E eu aceito sua profissão e todos os riscos dela, porque isso faz parte de você.
- Não poderia casar sem meus amigos novamente... - teimei
- E eu faço questão da presença de seus amigos, sei que eles vêm primeiro para você, e também aceito isso. Casa comigo?
- Sim, eu me caso com você. – respondi e ele me abraçou, enquanto voltávamos a nos beijar.
-o-o-o-o-o-o-
Eu e Logan, aparatamos próximos ao hospital trouxa, em que eu e Kyle éramos voluntários e eu estava preocupada com a mensagem que havia recebido naquela manhã. Entramos na recepção e os que me conheciam vinham me dar os pêsames pela morte de Kyle e olhavam Logan curiosos, então eu o apresentava como meu noivo, esperando ver algum tipo de recriminação nos olhos das pessoas, mas elas acabavam sorrindo e nos cumprimentando. Eu queria manter o meu trabalho no hospital, e Logan queria fazer parte disso também. Encontrei a chefe das enfermeiras, e nos abraçamos:
- Alexandra, que bom que pode vir hoje. Como você tem passado?- disse uma mulher de cabelos castanhos, e fios prateados presos num coque severo, e olhos de um castanho claro, protegidos por óculos de aro de tartaruga.
- Estou bem, senhora Wheaham. Quero lhe apresentar meu noivo, Logan Warrick. – ela me olhou séria e depois olhou Logan de cima a baixo antes de estender a mão e dizer:
- Esteve aqui há alguns anos atrás não?- olhei curiosa para Logan e ele confirmou:
- Estive sim senhora, a senhora continua com ótima aparência, além de boa memória. – e mulher me explicou após sorrir para ele:
- Lembra-se quando perdeu um bebê, acho que uns 9 anos atrás? Ele veio visitá-la durante a noite...
- Eu não sabia disso... – murmurei e Logan apertou minha mão, sinalizando que me contaria isso depois, e a mulher mudou de assunto:
- Quero que conheça uma pessoa. É um garoto, está bem machucado, e assim que estiver melhor, será levado para um orfanato. - e fomos andando pelo corredor até a ala pediátrica e nos entregou o prontuário médico que à medida que lia, eu ia ficando horrorizada. O menino sofrera maus tratos, havia sido encontrado desacordado no meio de uma poça de sangue, após uma denúncia anônima, sobre uma briga doméstica. A mãe era uma conhecida da polícia, viciada em drogas e já havia sido presa por prostituição. Segundo testemunhas, ela foi espancada por seu cliente e o homem resolvera que ela não era o suficiente e espancou o menino também. Ele estava foragido e ela morreu em conseqüência das agressões.
- Quer que o ajudemos... Por quê? – perguntou Logan, e vi que ele estava indignado com a situação do garoto.
- Bem, Alexandra e Kyle, algumas vezes conseguiram ajudar algumas destas crianças, e mesmo seus pais, nunca entendi direito o que faziam, mas o faziam bem e as coisas melhoravam. Este menino não fala nada, come apenas para se manter vivo, acostumou-se a passar fome, e nem mesmo nosso psicólogo consegue atravessar aquele muro que ele ergueu em torno de si. Sinto que este menino precisa de um tipo de ajuda que o ‘meu’ mundo não pode oferecer.
Olhei para Logan e ele fez que sim com a cabeça e eu disse para a enfermeira:
- Faremos tudo que pudermos.
- Venham comigo, está na hora da medicação dele. - e pegou os remédios e injeções, e a seguimos para entrar no quarto.
- Olá Ethan! Trouxe uns amigos meus para conhecê-lo.
Olhei para a cama e vimos um garoto com uns 8 anos, mas tão magrinho que parecia ter menos idade. Tinha cabelo loiro escuro, e olhos castanhos, que refletiram medo ao nos ver e ele disse tenso:
- Não vou para nenhum orfanato, prefiro morrer. - e fez uma careta de dor.
- Eu tenho cara de assistente social?- perguntei e olhei-o nos olhos. Ele me encarou um tempo e depois suas orelhas ficaram vermelhas e ele respondeu:
- Não. Você é diferente demais para ser uma delas.
- Obrigada, eu acho. Sou Alexandra, mas pode me chamar de Alex. - respondi sorrindo.
Logan se aproximou e levantou a mão para cumprimentá-lo e o menino se encolheu com medo. Logan recolheu sua mão e disse, como se não houvesse acontecido nada:
- Sou Logan. Como você está hoje?
- Estou bem, logo vou poder ir embora daqui, e ninguém vai... O que vocês querem?- perguntou.
- Não seja mal educado com meus amigos Ethan, são boas pessoas. - a enfermeira chamou-lhe a atenção, e ele nos olhava desconfiado. Ela foi aplicar a injeção e o menino disse teimoso:
- Não vou tomar isso.
- Você precisa tomar a injeção com o antibiótico. Pode ser do jeito fácil ou difícil. – ele olhou para o Logan, e achando que ele fosse obrigá-lo, fez mais marra.
- Não vou tomar. - e Logan disse solidário:
- Eu não gosto destas injeções também enfermeira Wheaham, não conte comigo. - e o menino o olhou com maior interesse, quando Logan foi para mais perto da porta. Olhei para Logan não acreditando no que via e intervi:
- Quer que eu segure sua mão, enquanto conto uma história? Isso ajudava ao meu filho quando ele tinha que tomar vacinas.
- Você tem um filho? Como ele é?- ele perguntou e me aproximei da cama.
- Hoje ele tem 16 anos, mas odeia tomar remédios, e quando era da sua idade e precisava tomar injeções, ele sempre fugia. Até derrubou o médico uma vez, o pobre homem caiu por cima de um armário de remédios, e precisou levar uns pontos. – e o garoto começou a rir comigo, ai perguntei:
- Posso segurar sua mão? Você sabe que a enfermeira não vai sair daqui sem te dar a injeção. - e ele timidamente fez que sim com a cabeça. Aproximei-me e comecei a contar sobre um lugar onde existiam dragões, e quando a enfermeira aplicou a injeção ele apertou minha mão forte, e quando ela acabou ele continuava a me segurar. Ficamos um tempo assim e ele disse, se soltando constrangido, e a enfermeira saía do quarto:
- Obrigado.
- Não há de que... – notei quando ele bocejou:
- Quer que a gente vá embora? Você deve estar cansado. - sugeri.
- Façam como quiser... - e quando levantei da cadeira ele falou como quem não quer nada:
- Gostei do seu cheiro. Deixou o ar daqui melhor. Se quiser voltar, não vou reclamar.
- Obrigada Ethan, muito gentil de sua parte. - ele ficou corado, para disfarçar provocou Logan:
- Eu não tenho medo de injeção, como alguns por aí. – e antes que Logan respondesse, ele fechou os olhos, parecia adormecido. Saímos do quarto e abracei Logan.
- Você tem medo de injeção?- perguntei rindo.
- Medo não, é cautela. Você viu o tamanho daquilo?- e riu comigo.
- Gostei dele Logan, e ele precisa de ajuda.
- Eu sei meu bem. Quando o vi segurando sua mão, pensei que se ele quiser ficar conosco por um tempo, seria bem vindo.
- Não será fácil. - disse pensativa.
- Eu sei que não, mas podemos fazer dar certo. E ele e eu já temos um ponto em comum.
-O quê?
- Ele também gosta do seu cheiro. Sinal de bom gosto. - riu me apertando, nos despedimos da enfermeira Wheaham e dali cada um foi para o seu trabalho, o dia ainda não havia terminado.
Wednesday, December 05, 2007
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