Thursday, June 18, 2009

Estava tomando meu café em casa antes de ir para o trabalho e fui interrompida por uma coruja, que entrou voando pela janela aberta e deu um rasante na bancada da minha cozinha, largando um envelope ao lado do meu prato. Não foi nem preciso um olhar mais atento para saber que aquela era uma das corujas de Hogwarts e ao pegar o envelope, o brasão que selava o pergaminho confirmou minha suspeita. Rasguei o envelope e a carta era curta, mas as poucas palavras que McGonagall havia escrito foram suficientes para acabar com meu bom humor matinal. Dobrei o papel outra vez e atirei no balcão, empurrando o prato de frutas para o lado. Remo apareceu na cozinha logo depois e percebeu minha mudança de humor.

- O que foi? – perguntou preocupado – Aconteceu alguma coisa?
- Sim – peguei a carta outra vez e estendi a ele – Ligue pro escritório e diga que precisa de ausentar hoje, nós vamos até Hogwarts.

Ele me olhou sem entender, mas quando leu o conteúdo da carta, também perdeu o humor depressa. Dessa vez ela não ia escapar ilesa.

*****

- Louise, Remo! – fomos recebidos por um sorridente Hagrid assim que pisamos nos terrenos da escola – Quanto tempo não vejo vocês! O que trazem os dois até Hogwarts?
- Uma filha que aparentemente não tem limites – respondi irritada e Hagrid riu.
- Clara andou aprontando e McGonagall pediu que viéssemos conversar com ela – Remo explicou.
- Ah sim, ela e os outros são bem levados mesmo, estão sempre metidos em confusão e cumprindo detenção – ele denunciou o bando – Eu mesmo já apliquei uma outro dia, me ajudaram a cuidar dos animais na floresta.

Hagrid ia nos acompanhar até o castelo, mas paramos ao ouvir um estampido vindo de Hogsmeade. Depois outro, e mais outro, e assim foi por quase 2 minutos. Alex, Logan, Yulli, Segei, Lu, Mirian, Sam, Josh e Quim entraram um por um nos terrenos da escola e balancei a cabeça, incrédula. Então aquela visita não seria apenas por causa da Clara, mas sim porque todos estavam passando dos limites. Eles já vinham caminhando rindo ao perceberem que estávamos todos reunidos ali pelo mesmo motivo e Hagrid nos acompanhou até o escritório de McGonagall.

A diretora já estava nos esperando e entrar naquele escritório e vê-la nos encarando com um ar tão severo fez com que me sentisse com meus 16 anos outra vez. Descobri que por mais que o tempo tivesse passado e não fosse mais uma adolescente, Minerva McGonagall ainda me intimidava. E a julgar pela expressão no rosto das minhas amigas, intimidava a elas também. A impressão que tinha era de que sairia dali com uma detenção e menos alguns pontos para a Lufa-Lufa. Clara ia me pagar muito caro por essa humilhação interna.

- Não tenho cadeiras suficientes, mas acomodem-se, por favor – Minerva indicou algumas cadeiras e eu e as meninas sentamos – Acho que todos leram minha carta, então sabem por que estão aqui.
- Sim, imaginamos que nossos filhos sejam um pouco bagunceiros – Alex arriscou responder e o nariz de Minerva tremeu levemente.
- “Um pouco”? – ela falou soando um pouco nervosa – Seus filhos estão fora de controle! Vocês não deram educação a eles? Não souberam impor limites? Eles não obedecem a ninguém, simplesmente fazem o que querem e a hora que querem! Já considero um avanço que assistam às aulas junto dos outros ao invés de determinarem seus próprios horários! Descontar pontos não surte efeito e detenção é só um passatempo para eles, são punidos repetidamente e não aprendem. De Setembro pra cá, foram cerca de 20 detenções cumpridas, cada um. Isso é uma média de 2 detenções por mês! – ela terminou de falar e voltou a respirar.
- Minerva, eles são apenas crianças – o quadro de Dumbledore falou, sorrindo para nós.
- Crianças? – a voz exaltada de Fineus Nigellus Black saiu de outro quadro – Aquilo não são crianças, são demônios! Estão destruindo a reputação da minha amada casa!
- Ora Fineus, francamente! – agora ouvíamos a voz suave de Dilys Derwent – A Sonserina nunca teve uma boa reputação!
- Nunca fomos conhecidos como baderneiros e mal educados. Ao menos não até agora! – ele tornou a esbravejar.
- Já chega, fiquem quietos! – Minerva ordenou e Fineus fez cara feia, mas voltou a dormir.
- Minerva, o que eles tanto aprontaram durante o ano? – Remo perguntou – Que tipo de coisa eles estão fazendo?
- Eles implicam com colegas de classe, pregam peças em todo mundo, não respeitam as regras e estão sempre brigando – ela listou – Todos sabemos que existe uma espécie de tradição que diz que Sonserinos e Grifinórios não conseguem conviver em harmonia, mas eles levam isso ao pé da letra e passaram dos limites com essa “guerra” semana passada, ao começarem um duelo no meio da aula de DCAT! Ártemis, é claro, faz parte do grupo que duela contra a Grifinória.
- Minerva, por que não nos escreveu antes, contando tudo isso? – Lu perguntou indignado.
- Porque de alguma forma eu pensava que poderia disciplina-los, mas estou jogando a toalha – pela primeira vez, Minerva pareceu cansada – Não vou expulsa-los agora no fim do ano letivo, mas quero que fiquem avisados que se essas crianças não entrarem na linha, não chegarão ao terceiro ano em Hogwarts.
- Com licença, Minerva – ouvimos uma batida na porta e Ben apareceu. Sorriu ao nos ver e olhou para a diretora – Temos um problema nas masmorras...
- O que foi agora? – ela perguntou e nos lançou um olhar acusador.
- É melhor ir até lá.

Minerva levantou de sua poltrona e saiu do escritório, pedindo que a aguardássemos. Ben deu passagem a ela e quando ouvimos a gárgula de pedra se fechando, ele começou a rir.

- Levaram bronca dela? – ele perguntou debochado.
- Nossa, eu to suando até de nervoso, me senti com 16 anos de novo! – respondi, minha mão um pouco gelada.
- O que essa mulher tem que assusta tanto? – Yulli perguntou também nervosa.
- Gente, ninguém merece depois de mais de 20 anos de formados, levarmos puxão de orelha de Minerva McGonagall! – Alex falou rindo de nervoso.
- Nunca fui chamado pelo diretor para levar bronca, é um absurdo entrar aqui pela primeira vez por causa da minha filha.
- Você nunca levou uma detenção? – perguntei incrédula e ele confirmou com a cabeça.
- Nossa, mas que vida academia chata você teve... – Sam comentou e rimos.
- O que foi que aconteceu nas masmorras? – Lu perguntou – Foram as crianças?
- Acho difícil eles terem culpa dessa vez, apareceram algumas pixações na parede – Ben respondeu – Parece que foram alguns grifinórios ofendendo os sonserinos, é a segunda vez que acontece.

Ficamos conversando por cerca de 10 minutos sobre os problemas que as crianças estavam causando na escola e ouvimos a gárgula se mexer, mas ao invés de um passo só, ouvimos vários subindo as escadas. Segundos depois, nossos filhos estavam dentro do escritório e levaram um susto ao nos verem em pé lá dentro. Ben se despediu e desceu correndo, deixando o escritório.
- Chamei os senhores aqui apenas para que saibam que seus pais já estão cientes de tudo que aprontaram na escola desde Setembro e para avisá-los que, a partir de agora até o fim do ano letivo, vocês estão proibidos de circular pelos corredores, pátio e qualquer parte dos terrenos da escola fora do horário de aula. Será do salão comunal para o salão principal para tomar café e almoçar, de lá para as salas e ao fim das aulas do dia, voltam para o salão comunal e lá devem permanecer até o dia seguinte – Minerva tomou fôlego novamente e falava de uma vez só – Se pegar vocês circulando pelos corredores depois do horário das aulas, vou começar a considerar expulsão mesmo tão próximo do fim do ano letivo.
- Mas diretora, não é justo só a gente pagar o pato pelo duelo na aula! – Clara começou a falar e de repente todos falavam ao mesmo tempo e ninguém entendia quase nada.
- É, os grifinórios também brigaram e foi o James que começou! – Haley protestou.
- O que chegou aos meus ouvidos foi que a Srta. Lupin lançou o primeiro feitiço – Minerva respondeu.
- Sim, mas porque ele provocou! – agora era Keiko falando e mais uma vez todos começaram a falar se atropelando.
- Não que isso seja da conta dos senhores, mas os alunos da Grifinória também serão devidamente punidos – ela respondeu estranhamente paciente – Agora outro assunto: quem foi o autor da brincadeira de mau gosto agora na masmorra?

Agora a sala caiu em silencio. As crianças trocaram olhares suspeitos, mas ao mesmo tempo negavam com a cabeça uns para os outros. Minerva observava a comunicação silenciosa entre eles, mas se cansou rápido.

- Srta. Lupin, não adianta negar, pois sei que foi a autora da brincadeira na primeira vez que aconteceu – ela falou e olhei furiosa para Clara, mas ela evitava me encarar – Existem testemunhas e elas me confirmaram alguns dias depois de já ter punido James Thruston e Brittany Dashwood que foi a srta. que escreveu nas paredes da masmorra e fez parecer que tinham sido os dois. Mas sei que não fez isso sozinha, então a hora de me dizer quem a ajudou é agora.
- Ninguém me ajudou, eu fiz tudo sozinha – Clara respondeu depressa, mas Ártemis reagiu de forma suspeita ao ouvi-la falar.
- Está me dizendo que entrou no salão comunal da Grifinória e colocou as latas de spray nos pertences de seus colegas sem nenhum aluno da casa lhe ver? – Minerva insistiu e Clara confirmou com a cabeça – Pois eu não acredito.
- Fui eu que coloquei as latas de spray na mala deles – Ártemis se acusou – Clara me entregou na porta do salão comunal e eu fiz o resto.
- Arte! – Clara exclamou olhando para ela.
- Você não fez a brincadeira sozinha, não é justo levar a culpa sozinha também – ela se justificou e Lu parecia orgulhoso por ela ter assumido sua parcela de culpa, mas Mirian parecia prestes a esganá-la.
- E dessa vez, também a ajudou? – Minerva perguntou e todos negaram ao mesmo tempo.
- Dessa vez não tivemos culpa, diretora! – Clara falou – Estávamos dentro do salão comunal quando Penny disse que tinham pixado as paredes da masmorra.
- É difícil acreditar, considerando o histórico de todos vocês – ela insistiu.
- Mas não fui eu dessa vez, eu juro! – Clara agora parecia desesperada para que Minerva acreditasse nela – Não sei quem foi, mas eu não tive nada a ver com isso!
- Só pode ter sido o James, ele ainda está mordido por ter apanhado da Clara na aula do tio George – Haley acusou o garoto e os outros a apoiaram.
- Minerva, nós sabemos que eles não têm credito para que acredite no que dizem, mas se eles estão negando com tanta veemência, acredito que não tenham tido culpa mesmo – falei em defesa deles, embora minha vontade fosse ajudar a dar bronca.
- Sabemos quando nossos filhos estão mentindo, embora eles pensem que possam nos enganar – Yulli falou e Keiko engoliu seco – E se eles estão afirmando que dessa vez não fizeram nada, eu acredito neles.
- E apesar das coisas que fizeram, uma coisa é fato: eles têm coragem de assumir quando são pegos – Alex também saiu em defesa das crianças.
- Sim, eles sentem um estranho prazer em se orgulhar de tudo de errado que fazem – Sam falou e eles sorriram orgulhosos – Tirem esses sorrisos da cara, só estamos defendendo porque levar a culpa sem ter feito nada não é justo! – e os sorrisos murcharam depressa.
- Muito bem, se estão certos de que eles não tiveram culpa, vou apurar para saber quem foi o verdadeiro culpado. Por enquanto, estão salvos. Agora podem ir, acho que já dei todos os avisos que queria. E não se esqueçam que a regra de não perambular pela escola fora do horário de aula já está valendo. Quando a aula de Transfiguração terminar, todos de volta para o salão comunal. Só saiam de lá para o jantar.

Todos assentiram com a cabeça e começamos a descer as escadas um atrás do outro. Já de volta ao corredor, cada um puxou seu filho pela orelha para uma bronca particular e agarrei Clara pelo braço, arrastando para um canto.

- Ai mãe, meu braço! – ela reclamou quando a soltei, alisando o braço – Você tem a mão pesada, sabia?
- Agradeça por já estar grandinha o suficiente ou ia esquentar sua bunda! – respondi irritada e ela calou a boca, mas cruzou os braços emburrada – Qual é o seu problema? Por que faz essas coisas? – ela deu de ombros. Aquilo me enfureceu ainda mais - Tivemos que ouvir um sermão da Minerva sobre não termos imposto limites a você!
- Por que atacou o garoto na aula do seu tio? – Remo perguntou.
- Porque ele é um babaca! – ela respondeu ainda emburrada.
- Olha o vocabulário, Clara! Não foi essa a educação que lhe demos, exijo respeito quando estiver falando comigo e sua mãe! – Remo perdeu a paciência e ela se espantou com seu tom de voz. Pela primeira vez o vi furioso com algo que ela tivesse feito. Nem mesmo quando conseguiu ser expulsa do colégio francês Remo levantou a voz.
- Desculpa – ela murmurou de cabeça baixa.
- Eu só queria entender o que passa pela sua cabeça para desrespeitar a diretora, desobedecer tudo que lhe mandam fazer! – recomecei a falar – Responda direito, por que atacou o garoto na aula do George?
- Eu sou culpada, pode me punir, tudo bem? – ela se esquivou e não respondeu.
- Clara, sua mãe lhe fez uma pergunta, responda!
- Com licença – fomos interrompidos por um homem de terno que segurava o braço de um menino com o uniforme da Grifinória. Clara fez uma careta ao ver o garoto e tornou a cruzar os braços – Não sei se lembram de mim, mas sou Anthony Thruston, era da Grifinória quando estavam quase se formando.
- Anthony, mas é claro que lembro de você – Remo apertou sua mão e sorriu – Era do terceiro ano quando me formei.
- Sim, isso mesmo. Desculpe interromper a conversa, mas meu filho tem algo a dizer a você – ele puxou o garoto para frente.
- Pai, por favor... – o menino suplicou, mas ele estava irredutível.
- James, faça o que estou mandando! – esbravejou – Não lhe eduquei para ser grosseiro com as pessoas e ofender quem nem ao menos conhece! – o garoto balançou a cabeça derrotado e encarou Remo.
- Desculpe por ofendê-lo dizendo que lobisomens são bestas irracionais e que não são domesticáveis – ele falou de uma vez só e Remo e eu nos espantamos.
- Ainda não terminou, não é? – Anthony apertou o ombro do garoto e ele bateu o pé, mas o olhar severo do pai o fez ceder e ele encarou Clara.
- Desculpe por ofender seu pai, Lupin – ele falou azedo e Clara não respondeu, mas Remo a olhou feio e ela descruzou os braços.
- Desculpas aceitas – ela respondeu entediada e também a olhei atravessado – Desculpa ter batido em você – ela completou, mas com um leve tom de deboche.
- Pronto, agora estamos todos bem – Anthony falou outra vez – Remo, sinto muito meu filho tê-lo ofendido. Eu não o eduquei para ser assim, não sei por que age dessa forma.
- Tudo bem, não me ofendeu de verdade – Remo respondeu olhando para Clara – Ofendeu mais a minha filha, mas ele já se desculpou com ela, então está tudo bem.
- Que bom. Agora vamos, James. McGonagall me chamou aqui para fazer queixa de você e quero que escute tudo que ela tem para me dizer! – ele se despediu e puxou o filho pelo braço, entrando no escritório da diretora.
- Por que não disse que atacou o garoto por ele ter ofendido seu pai? – perguntei assim que eles saíram.
- Porque eu ia ter que repetir o que ele disse – ela respondeu de cabeça baixa e Remo e eu nos olhamos.
- Bom, por essa briga não vamos castigá-la, mas ainda tem as outras pendentes – falei outra vez e Remo me apoiou.
- Exato. Pode esquecer praia e viagem com o seu irmão. A única viagem que fará nessas férias será para o Rancho, para o casamento do Ty. Depois disso, vai passar os 2 meses em casa.
- As férias inteiras?? – ela perguntou indignada – Mas eu vou morrer de tédio!
- Não se preocupe quanto a isso, minha querida – falei no mesmo tom de deboche que ela usava – Sempre estão precisando de voluntários para os projetos sociais do hospital, vou arrumar uma vaga para você.
- Ah ótimo, trabalho voluntário... – ela resmungou.
- Se não aprende nada nas detenções, vai aprender ajudando os outros – Remo falou e ela revirou os olhos, inconformada.
- Agora tome o rumo da sala de aula e não esqueça que está proibida de circular pelos corredores até o fim do ano letivo. Se voltarmos aqui ainda esse semestre, peço sua transferência pra escola de magia mais longe que existir! – ameacei.
- Esse semestre? Então quer dizer que em Setembro zera tudo? – ela perguntou debochada.
- Não abuse da minha paciência, Clara – respondi lhe lançando um olhar furioso e ela desfez o sorriso que tinha no rosto.
- Anda, vá para a sala com os outros – Remo a empurrou para junto dos outros encrenqueiros.

Ficamos observando eles andarem juntos pelo corredor, já conversando como se nada tivesse acontecido. Estava uma fera por ela estar a um passo de ser expulsa de mais uma escola, mas não conseguia deixar de sentir uma pontada de orgulho por ter defendido o pai dos comentários maldosos do colega, mesmo que tenha escolhido partir para a agressão para fazê-lo se arrepender. E o modo como ela e os amigos se apoiavam e se defendiam era impossível não ser comparado a nós mesmos quando ainda estudávamos em Hogwarts. No fundo, eles tinham a quem puxar.

Sunday, June 07, 2009

Por Alex McGregor Warrick

Abril de 2011

- Ela é bonita, até fria em sua expressão, tem um ar ‘superior’, mas acho que isso é só fachada, porque os olhos demonstram apreensão. Talvez ela tenha medo de perder o menino para o pai, por isso este ‘casamento’. Ty tem sorte de eu não ser a mãe dele, acho que o pegaria pelas orelhas. - disse Louise e Yulli completou:
- Vamos convir que qualquer menino ficaria encantado em descobrir que seu pai é um jogador de quadribol famoso, e que tem uma família tão peculiar, com vampiros, meio vampiros, lobisomens, astros da musica...E sem contar os vários jogadores de quadribol que volta e meia estão por aqui. Competição pesada. - e Mirian concordou com ela, enquanto tomávamos alguns drinks gelados, pois como a temperatura estava agradável, as bebidas geladas eram servidas à vontade.
Observei as pessoas em volta, e notei que Ty estava ocupado falando com barriga da Miyako, enquanto os amigos em volta riam. Rory o olhava espantada, como se nunca tivesse visto como Ty era.
Sabia que Miyako e Gabriel já tinham conversado com o Ty sobre o ‘casamento instantâneo’ dele com a Rory e ele ficava dando voltas para evitar ficar a sós comigo. E parecia que ele havia pedido às pessoas para fazerem um cordão de isolamento em torno da mãe do garoto. Porém era engraçado, que as pessoas ate ficavam próximas a ela, mas não ‘junto dela’ .Via o jeito que ela olhava para Julian com Ty e percebia que ela só não ia embora, por causa do menino.
E Julian, era uma grata surpresa. Inteligente, educado, Haley, Ártemis, Kika e Hiro o adoravam, mesmo antes de saberem que ele era da família, e Olívia estava preocupada com a nova situação e ainda não sabia como agir. Não falava com Julian, mas para não ficar sozinha e perder as brincadeiras, aceitava ficar perto dele, mas sempre que podia agarrava e beijava o pai, talvez para mostrar que Ty era dela.
Depois de algum tempo, tracei uma linha reta até Rory, Edward e Ethan, estavam próximos conversando com Blade Silverhorn, e meu filho me olhou cauteloso. Pisquei para tranqüilizá-lo e ele sutilmente foi se afastando com os outros.
- Julian é um bom garoto Rory, você o criou bem. - e não pude disfarçar uma pontada de ressentimento na voz, e ela percebeu, ficando na defensiva:
- Fiz o possível, para cuidar bem do meu filho, senhora McGregor.
- Agora sou Warrick, você se tornará a senhora McGregor, segundo o anúncio do Ty. Pode me chamar de Alex. Torno a dizer: você fez um ótimo trabalho com ele, criar filhos sozinha, é difícil. - respondi e perguntei séria:
- Está preparada para fazer parte de uma família como esta? - e com os braços abrangi as pessoas ao nosso redor.
- Ninguém nunca está 100% preparado para um casamento...Mas farei o meu melhor.
- Rory, porque esta fazendo isso? Ty a forçou?
- Não, ele nunca faria isso, a senhora sabe disso.
- Como também sei, que quando meu filho quer algo, ele usa tudo que pode a favor dele. Mesmo se tiver que jogar sujo. Você o amou muito não?
- Porque a senhora pergunta isso?
- Só amor justifica ter um filho sozinha como você fez, sem amparo financeiro e num país estranho. Annabeth me contou que você obteve bolsas de estudos para vir para cá.
- Sim, a professora Carter me convidou para atuar no jornal da escola, e isso foi o melhor para mim naquela época. Apesar de não ser rica, nunca faltou nada ao meu filho, e não estou casando com o Ty por dinheiro. - ela disse orgulhosa.
- E está casando com ele porque? Sejamos francas: você teve doze anos para nos procurar e exigir o reconhecimento do Julian, porque não o fez? E agora, você aparece e vai se casar com o Ty. Meu filho está te ameaçando de alguma forma?
- Não, Ty não está me ameaçando. E não os procurei antes, porque tinha que proteger o meu filho.
- De quem? Nós? Ou para se vingar do Ty?
- Não, nunca faria nada para prejudicar ao Ty. Eu ia contar ao Ty sobre Julian, só não estava totalmente preparada...e queria que Julian já estivesse grande, para saber se defender. - eu a olhei feio e ela se explicou:
- Minha mãe ainda é uma fugitiva e eu tive que medo que ela usasse meu filho para chegar até vocês.
- E você não acha que nós o protegeríamos?
- Mas eu não sabia como vocês o receberiam, afinal por minha omissão, o pai do Ty está morto, e ele nunca vai esquecer disso.
- Julian seria muito bem recebido por nós, você notou que todos estão encantados por ele, e mesmo que não pareça a família a acolheu.
- Sim, me adoraram. - ela disse sarcástica.
- Acho que até o momento ninguém foi grosseiro com você, não é? Claro, que não vão soltar fogos, uma vez que você nos privou do meu neto este tempo todo, mas você é a mãe do Julian, e isso já faz com que tenhamos obrigações com você. Em qualquer coisa que precise, pode chamar a qualquer um de nós.
- Só quero que meu filho seja bem recebido, não precisam se importar comigo. - disse orgulhosa.
- Tem noticias de sua mãe? Ela sabe que Julian é um McGregor?- e notei que ela vacilou, mas respondeu:
- Não! Ela nunca soube que eu tive um filho. Não a vejo há anos, desde o ataque a Beauxbatons...
- O que vai acontecer quando sair no jornal que você vai se tornar uma de nós?
- Como assim?
- Se a sua mãe optar por continuar a vingança dela, ela virá atrás do Julian? Afinal, ele é muito parecido com o pai e o avô. - notei que ela ficou tensa, mas continuei:
- E se ela vier, eu garanto que ela vai me encontrar preparada Rory. Não vou permitir que ela machuque um dos meus novamente. Aliás, quero lhe pedir um favor: diga a ela para vir atrás de mim. Fui eu quem matou o companheiro dela. - pude ver o choque estampado no rosto dela.
- Mas ela disse que foi o senhor McGregor quem matou o meu...
- O seu...?
- Aquele homem era o meu pai biológico. Mas meu pai verdadeiro é quem me criou.
- Isso explica muita coisa, mas ela esta enganada. Naquele dia, fui eu quem lançou o feitiço fatal em Raoul Lestrange e o matei. Ele ia matar meu marido, foi a ultima coisa que fiz antes de desmaiar por causa dos meus ferimentos. Mas uma coisa que não entendo,como Antoine Montpellier entrou nesta historia?
- Eles se conheciam há anos, e ela sabia que meu pai gostava dela, então se viu obrigada a casar com um trouxa para se manter segura, já que estava grávida. E eu escondi o Julian de todos porque não queria que ela fizesse algo de ruim a ele.
- Porque você não contou ao Ty sobre ela? Afinal eram namorados...
- Por vergonha, medo e um pouco de esperança de que ela esquecesse esta historia de vingança, mas eu nunca, imaginei que ela fosse seqüestrar o Ty, eu teria impedido, eu juro. - e percebi que a garota falava a verdade.
- Acho que seria bom, você conversar com o Ty e contar tudo, sobretudo pelo bem das crianças. Agora quer você goste ou não, você faz parte desta família, e nós cuidamos uns dos outros. E então já decidiu?
- O que?
- Quando o perigo chegar a quem você vai ser leal desta vez? Vai proteger a sua mãe ou ao pai do seu filho?? - perguntei direta e objetivamente.
Antes que ela respondesse Ty se aproximou e passou o braço pelos ombros dela, ela quase pulou com o gesto, mas ele a segurou firme e disse brincando:
- O que tanto vocês conversam? Aposto que estão decidindo as cores dos enfeites do casamento.Nada laranja, por favor.
Sorri para ele e disse:
- Estávamos falando sobre o passado meu filho. Sobre coisas que terão de enfrentar para que este casamento dê certo.
- Não somos mais crianças, enfrentaremos o que vier, quando a hora chegar, mamãe. - nesta hora Edward começou a cantar uma música romântica a pedido de Logan e meu marido já vinha ao meu encontro com a mão estendida me convidando para dançar. Sorri e antes de ir ao encontro dele, disse aos dois:
- Seria bom, começarem a enfrentar as coisas desde já, vocês já não se conhecem mais como antes, e a postura de vocês é a de dois inimigos, mas podem remediar isso: dancem! Encarem como um treino, para o dia do casamento. - e enquanto eu dançava com Logan, gostaria que as palavras que Edward cantava se tornassem verdadeiras para Ty e Rory.

Don't you think it's time to say
Some things we haven't said
It ain't too late to get back to that place
Back to the way, we thought it was before
Why don't you look at me
Till we ain't strangers anymore

It's hard to find forgiveness
When we just turn out the lights
It's hard to say you're sorry
When we can't tell wrong from right
It would be so easy to spend your whole damn life
Just keeping score
So let's get down to it baby
There ain't no need to lie...

We're not strangers anymore


Nota da autora: trechos da música: Till We Ain't Strangers Anymore, Bon Jovi.

Saturday, June 06, 2009

Rio de Janeiro, Maio de 2000.

- Paulo, eu não quero aquela bagunça que estava aqui na última vez que fechamos o restaurante pra um evento – falei sério e o gerente do meu restaurante concordava com a cabeça, anotando tudo que dizia em um bloco de papel – Dobre o numero de seguranças circulando aqui dentro, não é só pobre que faz escândalo, rico também adora um barraco.
- Sim senhor, vou cuidar de tudo – ele respondeu elétrico, conferindo o papel em que escrevia – Não vai acontecer outra vez.
- Assim espero.
- Sr. Foutley, tem visita para o senhor – Lucio entrou na cozinha e nos interrompeu – É sua amiga, a Sra. Lupin.
- Ok, mande-a entrar! – me espantei por Louise vir até o restaurante – Bom, já terminei de dizer o que queria, pode ir providenciar as coisas e depois conversamos.

Paulo assentiu com a cabeça e saiu da cozinha, ao mesmo tempo em que Louise entrava. Ela vinha carregando Clara no colo e uma bolsa de ginástica no ombro, parecendo agitada.

- Aconteceu alguma coisa, Lou? – perguntei preocupado, tirando a bolsa do ombro dela.
- Sim, um acidente de ônibus com mais de 15 feridos – respondeu depressa, passando Clara pro meu colo – Estão precisando da minha ajuda urgente no hospital e preciso que leve Clara a natação.
- Opa, calma! Não posso sair daqui agora, estou cheio de coisa pra fazer! – falei devolvendo o bebê, mas ela não pegou.
- Scott, por favor! Remo e Ben estão trabalhando e, diferente de você, eles têm chefe. Não tenho mais ninguém a quem recorrer! – ela implorou. Odiava quando fazia isso, pois eu sempre acabava cedendo.
- Ah, tudo bem, eu levo ela – falei derrotado e Lou respirou aliviada – Mas vai embora logo antes que mude de idéia!
- Obrigada, Cott – ela me abraçou e beijou meu rosto – Já disse o quanto eu te amo?
- Vai embora, mulher.
- Sua sunga está dentro da bolsa, você tem que entrar na água com ela! – Lou disse já na porta, saindo em seguida. Lúcio entrou logo em seguida e se espantou ao ver que tinha um bebê no meu colo.
- Sr. Foutley, o senhor vai sair? – perguntou fazendo cara feia.
- Sim, vou precisar cuidar de algumas coisas na rua – respondi pegando a bolsa dela e jogando no ombro – Paulo vai organizar o evento, eu volto mais tarde.
- Mas senhor, temos muita coisa para fazer! – ele insistiu.
- Eu pago um excelente salário a vocês para se virarem sozinhos nessas horas – respondi impaciente, saindo da cozinha – Se surgir alguma emergência, podem me ligar.

Não deixei que ele falasse outra vez e atravessei o restaurante com Clara no colo, saindo apressado. A academia onde ela tinha aula não era muito longe dali e fomos a pé mesmo. Caminhava na rua conversando com ela e algumas pessoas olhavam, achando graça. Clara já estava com quase 10 meses e além de já engatinhar pela casa toda deixando Louise maluca protegendo todas as tomadas, começava a querer falar. Já falava algo parecido com mamãe e papai e arriscava o nome de alguns bichos que Nicholas ensinava, além de já ter aprendido a falar Nick. Ela estava ficando cada dia mais parecida com Gabriel.

Cheguei com ela na academia e assim que pisamos na área da piscina, Clara já queria se atirar na água. No começo fiquei um pouco desconfortável com aquele monte de mãe me olhando, divididas entre cuidar para que seus filhos não se afogassem e prestar atenção no que eu fazia com a Clara. A professora ficava rindo enquanto dava as instruções do que devíamos fazer e a apesar de ter achado divertido, agradeci a Merlin quando a aula terminou.

- O que houve com a Louise? – a professora veio até mim depois da aula – Por que não veio hoje?
- Ela precisou trabalhar, foi chamada de ultima hora no hospital – respondi enquanto terminava de vestir Clara – Sobrou pra mim.
- Não se sinta ofendido, mas acho que não vai dar certo você vir às aulas com a Clarinha – a professora falou um pouco sem jeito e ri – Você acabou sendo uma distração pras outras mães e a aula não rendeu muito bem.
- É, eu percebi. Não se preocupe, só vim hoje porque foi uma emergência – fechei a bolsa e peguei Clara no colo, pronto para ir embora – Prefiro cuidar dela em casa.

A professora agradeceu a compreensão menos sem graça e já estava saindo quando meu telefone tocou. Pensei logo ser Lúcio querendo fazer alguma pergunta idiota, mas me espantei ao reconhecer o numero da escola de Nicholas. Era a diretora pedindo que fosse buscá-lo imediatamente, pois havia se envolvido em uma briga. Sai correndo de volta para o restaurante para buscar o carro e cheguei à escola em menos de 15 minutos. Nicholas estava sentado no banco do corredor e tinha os cabelo todo bagunçado, camisa amassada e um machucado no canto da boca. Quando me viu, abaixou a cabeça e passou a encarar os sapatos.

- Nick! – Clara se agitou no meu colo, olhando pra ele.
- Sim, é o Nick. E ele está em tremenda enrascada... – falei o encarando sério e a diretora abriu a porta do escritório para que entrasse.
- Por favor, sente-se – ela indicou uma cadeira e me sentei.
- O que aconteceu? – já fui logo perguntando – Nicholas nunca brigou com ninguém.
- É o que estamos tentando entender, mas ele se recusa a falar. E o outro menino também não disse nada, o pai já veio buscar. Nicholas é um excelente menino, carinhoso, participativo, inteligente, um pouco bagunceiro às vezes, mas nada que não possamos controlar. Nunca se envolveu em nenhuma confusão com os colegas de classe, é a primeira vez.
- Mas como foi que isso aconteceu?
- Eles estavam no recreio e o Bruno, o menino com quem ele brigou, estava jogando bola. Nicholas estava sentado no banco lanchando e quando os vi outra vez, estavam rolando no chão. Trouxe-os para cá e perguntei o que estava acontecendo, mas ninguém me respondeu. Tudo que ouvi foi que Bruno é um “cérebro de amendoim” e Nicholas é um “cabeça de melão”. Se puder descobrir o que houve, ficaria muito grata. Precisamos saber por que nossas crianças se desentendem para poder trabalhar isso com elas.
- Certo, entendi – falei levantando da cadeira – Não se preocupe, ele vai falar o motivo.
- Obrigada. E desculpe faze-lo vir até aqui correndo, mas sempre chamamos os pais quando as crianças brigam – ela agradeceu e abriu a porta para que saísse.
- Vamos embora, mocinho – falei para Nicholas quando passei no corredor e ele levantou – Vamos ter uma conversa quando chegarmos em casa.

Nicholas levantou do banco calado e permaneceu assim por todo o trajeto de volta para casa. Entrou e foi direto para o quarto, mas fui atrás e não deixei que fechasse a porta. Deixei Clara brincando no chão e sentei na cama ao seu lado.

- E ai? Não vai contar o que aconteceu? – perguntei, mas ele continuou calado – Se não contar o que aconteceu e eu descobrir sozinho, vai ficar de castigo – ele continuava mudo e agora sacudia os ombros – Nick, você nunca brigou na rua, por que bateu naquele menino?
- O Bruno é um bobalhão, fica implicando comigo – ele falou baixinho, encarando o chão.
- Ok, mas não é certo brigar por isso. Se ele implica com você, reclame com uma professora ao invés de trocar socos com ele. O que ele pode ter feito para tirar você do sério desse jeito?
- Ele chamou você e meu pai de bichas – ele falou me encarando e reagi surpreso, não esperava por essa – Eu sei que vocês são gays, mas ele não tem o direito de usar isso pra ofender ninguém.
- Ah Nick, você não precisa brigar na rua por causa disso – falei passando a mão em seu cabelo e ele relaxou a expressão tensa – Ele fez muito mal em usar isso pra tentar ofender você, mas não devia ter brigado com ele.
- Eu sei, mas eu não consegui me controlar – Nick olhou pra mim firme – Sempre escuto piadinhas e nunca dei bola, mas ele falou um monte de coisas ruins.
- O que foi que ele falou pra você?
- Eu não quero repetir, por favor – ele implorou, me olhando com os olhos cheios de lágrima.
- Tudo bem, não precisa repetir. Vai tomar banho e tirar essa roupa suja, depois vou limpar os machucados.
- Eu não ligo de vocês serem diferentes. Vocês são os melhores pais do mundo – Nick levantou e se jogou em cima de mim, me abraçando.

Abracei-o de volta e depois de um tempo ele me soltou e entrou no banheiro. Clara ainda brincava no chão com os carrinhos dele e fiquei sentado na cama olhando para a porta, sem perceber que esboçava um sorriso. Sempre tive dúvidas quanto ao que ele pensava sobre fazer parte da única família diferente da de seus amigos, mas agora sabia que Nick poderia agüentar qualquer coisa, desde que estivéssemos ao seu lado para apoiar. E nós sempre estaríamos.