Por Louise Storm Lupin
- Alguém tem alguma pergunta, antes de encerrarmos por hoje? – Scott falou se recostando no balcão e sorrindo pra mim. Estava assistindo pela primeira vez a uma aula de culinária dele na cozinha do Underground
- Na mesa lá fora tinham alguns enfeites feitos com frutas – uma mulher morena levantou a mão – Como fez isso? Sempre tive essa curiosidade! Tentei fazer uma vez com laranjas, mas estraguei três delas
Scott sorriu para ela e pegou um limão da cesta, começando a descascar tão depressa que era impossível acompanhar. Depois começou a retorcer a casca (que saiu inteira, por sinal) e segundos depois tinha uma rosa na mão. A mulherada na cozinha olhava encantada.
- Foi essa que você viu? – a mulher confirmou pegando a rosa – É bem fácil, mas não dá tempo de ensinar agora. Prometo elaborar uma aula só com esses detalhes decorativos para depois das festas. E laranjas não são boas para isso. Dê preferência ao limão, pois depois você ainda pode reaproveitar e fazer uma caipirinha! – todo mundo riu – Agora nosso tempo acabou. Bom Natal pra todo mundo, e nos vemos semana que vem. Não se esqueçam da nossa brincadeira de amigo oculto!
Uma a uma elas foram saindo e se despedindo dele, e logo só restávamos nós dois na cozinha. Scott havia liberado todos os funcionários para passarem o natal em casa, mas nenhuma das alunas quis abrir mão da aula mesmo que fosse dia 23 de Dezembro, então somente ele veio. E hoje resolvi acompanhá-lo, pois combinamos de preparar todas as comidas para a festa aqui. Ninguém estava disposto a sujar a cozinha da casa, sem contar que no restaurante o espaço era imensamente maior.
Ele puxou a varinha do bolso e agitou, sumindo com todas as coisas usadas na aula e organizando o que íamos precisar. A idéia de cozinhar aqui havia sido realmente boa. Com a quantidade de gente que vem esse ano para o natal, precisaríamos de espaço. Além de nós dois, Remo, Gabriel e a namorada, Ben e Nicholas, esse ano Patrícia, a filha Alice e Renato ficariam no Rio de Janeiro, e Susan, recém divorciada, também estaria aqui com Lucas. Kegan e Karen também viriam com Chris, e Wayne e a esposa resolveram vir com os dois filhos e as gêmeas de Megan, junto do pai de Scott. Ninguém queria uma comemoração calma e vazia, para não deixar as meninas pensarem nos pais. E também Anna, a irmã mais nova de Ben, viria com o marido Peter e o filho de 4 anos deles, Jacob.
- Então... – Scott falou com um tom de voz debochado – Natal com a norinha. Como está se sentindo?
- Estou sentindo que vou atirar esse tomate em você se não calar a boca – Respondi olhando atravessada para ele, que só riu mais
- Ah qual é, Louise! A menina é legal, dê uma chance a ela
- Mas estou dando, não pedi que Gabriel a convidasse para o natal? – olhei para o relógio na parede – Aliás, amanhã essa hora ela já deve estar chegando pela chave de portal. Que horas Wayne falou que autorizou as outras?
- Só à noite! Não precisamos de cinqüenta pessoas circulando pela casa atrapalhando os preparativos.
- Aonde você colocou aquele limão? – olhei ao redor da cozinha cansada – Estou enjoada com esse tanto de comida nos cercando e com sede. Aquela caipirinha cairia bem agora...
Ele riu e apontou para o outro lado do balcão. Larguei o que estava fazendo e fui preparar a bebida. Estava um calor infernal na rua, e o ar-condicionado da cozinha não estava mais dando conta do recado. Preparei logo um capão para cada e entreguei o de Scott na mão dele.
- A um natal quente, barulhento e sem surpresas – ele disse erguendo o copo
- Amém!
Brindamos e viramos a caipirinha depressa. E com a mesma rapidez que pus na boca, cuspi. Scott levou o jato no meio da camisa por estar perto demais e me encarou perplexo, o copo pela metade parado no ar.
- Pode me explicar o que foi isso?
- Desculpa. Acho que errei a mão no limão, ficou horrível
- Fez elas separadas? Porque a minha está perfeita – disse bebendo mais um pouco
- Deixa provar a sua – tomei o copo da mão dele e bebi, mas cuspi outra vez
Scott ficou me encarando sem falar nada por alguns segundos, uma expressão preocupada e pensativa no rosto. Curiosa, parei e o encarei também. Então um sorriso podre começou a surgir no rosto dele, lembrando muito um Grinch. Ele secou a camisa ainda rindo e caminhou para trás de mim, apertando meu ombro com uma massagem. Senti-o aproximar o rosto do meu ouvido.
- Querida, você está grávida...
A gargalhada que soltei foi tão espontânea e sincera que Scott até se assustou. Estava agora de frente para ele e ainda ria bastante, até que ele começou a rir também. Mas não era uma risada como a minha. Era como se estivesse rindo por eu estar achando graça do que ele havia dito. O sorriso no meu rosto começou a morrer aos poucos, até que fiquei séria e alarmada. Ele parou de rir também.
- Não posso estar grávida – disse com a voz falhando
- Mas você está – ele foi categórico
- Como pode ter tanta certeza?
- Porque já passamos por isso antes, e conheço você. Só hoje em duas horas você me deu quatro motivos diferentes para levantar a suspeita. Agora rejeita uma caipirinha deliciosa. Ah meu amor, pode começar a fazer o enxoval. Você está gravidíssima!
Apoiei as mãos no balcão sentindo minhas pernas perderem força e Scott correu para pegar uma cadeira onde pudesse sentar. Passei a mão na testa e estava suando frio. Comecei então a forçar a memória para algo que me confirmasse que Scott tinha razão. Não foi preciso pensar muito. Logo a última semana das Olimpíadas me veio a mente e me lembrei da pequena imprudência no banheiro dos monitores em Hogwarts. Maldita Hogwarts!
- Scott, isso não pode ser sério – minha voz soou desesperada – Tenho quase 40 anos, não posso estar grávida!
- E qual o problema de ter outro filho aos 40? Yulli também está grávida, e está adorando! Não foi você quem disse a ela que a idade não fazia a menor diferença?
- Eu menti! Só queria que ela não se apavorasse, falaria qualquer besteira como essa!
Afundei o rosto nas mãos e abaixei a cabeça, reprimindo a vontade louca que estava de gritar. Ouvi Scott puxar outra cadeira e sentar do meu lado, me abraçando e rindo.
- Vai dar tudo certo, Lou. Não tem motivo pra se preocupar – ele puxou minhas mãos para destapar meu rosto – E pense em como Remo e Gabriel vão ficar felizes com essa notícia.
- Oh meu Deus, preciso contar a eles – falei ainda em estado de choque
- Seria bom. A não ser que queira que eles descubram sozinhos... Pode ser engraçado, mas acho que eles vão demorar alguns meses para notar. Talvez quando você entrar em trabalho de parto – disse em tom sério e acabei rindo
- Não fale nada, ainda. Preciso confirmar isso antes.
- Claro. E acho seguro dizer que não vamos terminar mais nada hoje, então que tal irmos até a clínica da Patrícia? Ela deve estar com saudades...
Concordei com a cabeça e respirei fundo antes de levantar. Trancamos o restaurante e fomos direto para a clínica da nossa amiga. Nada como uma ultra-sonografia rápida para tirar de vez todas as dúvidas. Já podia ver os olhos do Remo e do Gabriel brilhando se isso se confirmasse. Apesar de assustada com essa possibilidade, não pude deixar de sorrir ao imaginar a felicidade dos dois...
Thursday, December 20, 2007
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