Friday, January 02, 2009

As Ilhas Hébridas não eram só o lar dos dragões negros que Morgan e Carlinhos preservavam. Era um lugar cheio de belezas naturais e mesmo no inverno, um bom rastreador com Caleb, podia encontrar caça selvagem, e logo ele se alimentava do sangue de alguns cervos adultos. Pedi a ele que não drenasse todo o sangue , para que pudesse jogar os animais não consumidos para Gaia, o dragão cego do Gringotes, que no inverno tem maior dificuldade em farejar suas presas e era um dos xodós de Morgan.
Após algum tempo e 5 cervos abatidos, notei que os olhos negros como carvão, já estavam da cor de ouro líquido e Caleb, olhava ao redor ansioso. Vimos quando Gaia, saiu do ninho e começou a puxar as carcaças para perto de si.
- Porque você foi embora???- disparei.
- Não queria falar disso agora...
- Mas precisa se explicar comigo e com Alucard...
- Ele está conectado com você não é?
- Sim, e você sabe que ele pode ouvi-lo a kilometros, então poupe o trabalho de se explicar duas vezes, merecemos uma resposta a nossa pergunta. - ele olhou para o dragão se alimentando a distancia e suspirou.
- Lembra de quando eu quase a matei?- disse direto.
- Você não ia fazer isso, estava...
- Como havia dito, os escoceses tem um sangue bom, e eu estava há muito tempo sobrevivendo com o sangue de animais selvagens. Uma humana jovem, oferecendo-se a mim espontaneamente, era um banquete.
- Certo, somos apetitosos, mas isso não era motivo para você ir embora, eu fiquei bem depois. - e ele ficou com o rosto contraído e continuou:
- Quando eu estava sugando o seu pescoço, senti uma euforia, uma alegria alucinada, e estava realizando um desejo que acalentava desde o nosso primeiro contato. - como eu o olhasse curiosa, ele disse:
- Estava provando você.
- Oh! - e fiquei vermelha e ele riu:
- Você ainda fica corada, que linda. - ele zombou.
- Besta! - rimos e a velha camaradagem voltava.
- Eu perdi o controle e passei dos limites seguros para você...Desculpe-me.
- Ok, desculpado. Mas você parou, lembro-me de acordar num hospital.
- Você me fez parar.
- Como?
- Quando parecia prestes a morrer, disse que quando o meu filho fosse nascer, eu deveria procurar a doutora O’Hara. Isso me trouxe de volta à razão.
- Você esta me dizendo que eu fiz uma premonição num estado de quase morte?
- Sim, e quando você falou sobre um bebê, imaginei que o filho seria nosso. Então eu tinha que me afastar de você, antes que causasse mais dano. Levei-a ao hospital o mais rápido que pude e lá encontrei Kyle, ele pressentiu que você estava morrendo. Não preciso dizer que Lu chegou logo depois dele.
- Mas Logan estava lá também...Lembro que quando acordei ele estava no quarto
- Lu mandou um patrono a ele, a meu pedido. Sabia que ele faria as mais modernas poções restauradoras e você ficaria bem, afinal aqueles dois homens a amavam e juntos seriam capazes de ir ao inferno por você. Podiam ajudar mais do que eu.
- Então você fugiu por medo de uma premonição...
- Sim, eu tive medo.
- Mas não estávamos envolvidos, a possibilidade de ter um filho era remota, para não dizer impossível. E você podia ter me contado. - e ele me olhou sério:
- Tínhamos contato muito além do necessário, eu me satisfazia em abraçar você, você achava que estava confortando o seu amigo, mas naquelas ocasiões, se eu quisesse, faria você ficar comigo.
- A humildade ainda passa longe de você...- revirei os olhos e ele continuou:
- Eu estava encantado por você. Você havia chegado perto demais do que restou do humano Caleb, e me mostrado um mundo onde eu poderia fazer parte, com família, amigos que me aceitariam sem eu me sentir um monstro. Eu achava que estava apaixonado por você e estava me sentindo tentado a querer obrigá-la a me amar.
- E o que te segurou?
- Vi e observei o jeito que Lu e Mirian agiam como casal. Eram um. Eu sabia que com os poderes dela, ela poderia sobreviver a ele, mas você não teria passado da primeira noite comigo. Eu a teria matado.
- Que presunção...
- Sabe...Uma vez eu quis saber se ainda era o mesmo jovem de antes da transformação e ao final, o que restava da jovem estava espalhado pelo quarto, sem nenhuma gota de sangue. Jurei nunca mais fazer isso, e quando você teve a premonição sobre um filho meu...Eu só pude pensar que você o carregaria.
- Então um dia você conheceu a Megan, e percebeu que o que sentia por mim, era uma paixão adolescente tardia, afinal você já tinha uns 150 anos e era literalmente ‘inocente’ no amor, mas com ela foi amor verdadeiro certo? E conseguiu se conter para não matá-la.
-Sim, era o amor do tipo que eu havia visto em sua mente e na de Alucard, que traz felicidade e medo ao mesmo tempo. O tipo que faz com que a gente corra todos os riscos para ter uma casa cheia de crianças, com jardim e um cachorro. - sorri e ele me olhou curioso:
- Você tem isso não é?- eu acenei positivamente e ele continuou:
- Eu não esperava que Megan ficasse grávida, acho que nem quis pensar nessa possibilidade, afinal isso nunca havia acontecido antes... E se nós vampiros apenas existimos, não somos ‘seres vivos’, porque procriaríamos?
- Você nunca a mordeu? Porque ela ainda é humana.
- Nunca, antes o tivesse feito, porque eu me mantive preso a um código idiota de não morder humanos para preservá-los e agora eu estou matando a minha mulher. Se eu a perder...- e vi o desespero nos olhos dele e o abracei como nos velhos tempos. Depois de alguns segundos ele me soltou:
- Desculpa! Você continua...
- Cheirando melhor que um bom filé sangrento eu sei, garoto. Agora posso te chamar de garoto, você parece meu filho, Ty. È tão cabeça dura quanto ele, você vai ver quando o conhecer. Sabe Cal, odeio este lance de juventude eterna, você não tem uma ruga. - e toquei seu cabelo e ele respondeu enquanto punha sua mão fria em meu rosto:
- Não se chateie com as pequenas marcas do tempo, são a prova do que você viveu e suportou, tornando-a melhor a cada dia. Obrigado a vocês dois por me perdoar, e me receber de volta. Sei dos sacrifícios que estão fazendo para me ajudar e vou recompensá-los...
- Deixe de bobagens, você é um membro da família e Megan é bem vinda junto com seu filho, agora vamos voltar. Alucard já deve ter rosnado para muita gente, gritado com outros, mas conseguiu que você fique livre não é?- ele fechou os olhos por alguns segundos e disse:
- Sim, ele conseguiu, e disse que depois que tudo acabar vai me encher de socos e quanto a você, ele vai amarrá-la numa camisa de força por ter saído com um vampiro faminto sem escolta. - acabei rindo ao imaginar Alucard que tinha um coração bondoso demais ‘tentando’ fazer algo do gênero com quem ele amava.
Antes de aparatarmos dei a mão a Caleb e olhei em seus olhos dizendo:
- Tenha em mente que nós estaremos ao seu lado, quer você goste ou não. Somos a sua família e não se dá as costas para a família, mesmo que ela seja um pé no saco de tão esquisita. - rimos e aparatamos de volta para Dublin.
Ainda tínhamos um nascimento para acompanhar e ele estava próximo. Só desejava que ele trouxesse esperança de que todos podiam viver juntos em paz, como um outro bebê trouxe há mais de dois mil anos atrás.

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