As Ilhas Hébridas não eram só o lar dos dragões negros que Morgan e Carlinhos preservavam. Era um lugar cheio de belezas naturais e mesmo no inverno, um bom rastreador com Caleb, podia encontrar caça selvagem, e logo ele se alimentava do sangue de alguns cervos adultos. Pedi a ele que não drenasse todo o sangue , para que pudesse jogar os animais não consumidos para Gaia, o dragão cego do Gringotes, que no inverno tem maior dificuldade em farejar suas presas e era um dos xodós de Morgan.
Após algum tempo e 5 cervos abatidos, notei que os olhos negros como carvão, já estavam da cor de ouro líquido e Caleb, olhava ao redor ansioso. Vimos quando Gaia, saiu do ninho e começou a puxar as carcaças para perto de si.
- Porque você foi embora???- disparei.
- Não queria falar disso agora...
- Mas precisa se explicar comigo e com Alucard...
- Ele está conectado com você não é?
- Sim, e você sabe que ele pode ouvi-lo a kilometros, então poupe o trabalho de se explicar duas vezes, merecemos uma resposta a nossa pergunta. - ele olhou para o dragão se alimentando a distancia e suspirou.
- Lembra de quando eu quase a matei?- disse direto.
- Você não ia fazer isso, estava...
- Como havia dito, os escoceses tem um sangue bom, e eu estava há muito tempo sobrevivendo com o sangue de animais selvagens. Uma humana jovem, oferecendo-se a mim espontaneamente, era um banquete.
- Certo, somos apetitosos, mas isso não era motivo para você ir embora, eu fiquei bem depois. - e ele ficou com o rosto contraído e continuou:
- Quando eu estava sugando o seu pescoço, senti uma euforia, uma alegria alucinada, e estava realizando um desejo que acalentava desde o nosso primeiro contato. - como eu o olhasse curiosa, ele disse:
- Estava provando você.
- Oh! - e fiquei vermelha e ele riu:
- Você ainda fica corada, que linda. - ele zombou.
- Besta! - rimos e a velha camaradagem voltava.
- Eu perdi o controle e passei dos limites seguros para você...Desculpe-me.
- Ok, desculpado. Mas você parou, lembro-me de acordar num hospital.
- Você me fez parar.
- Como?
- Quando parecia prestes a morrer, disse que quando o meu filho fosse nascer, eu deveria procurar a doutora O’Hara. Isso me trouxe de volta à razão.
- Você esta me dizendo que eu fiz uma premonição num estado de quase morte?
- Sim, e quando você falou sobre um bebê, imaginei que o filho seria nosso. Então eu tinha que me afastar de você, antes que causasse mais dano. Levei-a ao hospital o mais rápido que pude e lá encontrei Kyle, ele pressentiu que você estava morrendo. Não preciso dizer que Lu chegou logo depois dele.
- Mas Logan estava lá também...Lembro que quando acordei ele estava no quarto
- Lu mandou um patrono a ele, a meu pedido. Sabia que ele faria as mais modernas poções restauradoras e você ficaria bem, afinal aqueles dois homens a amavam e juntos seriam capazes de ir ao inferno por você. Podiam ajudar mais do que eu.
- Então você fugiu por medo de uma premonição...
- Sim, eu tive medo.
- Mas não estávamos envolvidos, a possibilidade de ter um filho era remota, para não dizer impossível. E você podia ter me contado. - e ele me olhou sério:
- Tínhamos contato muito além do necessário, eu me satisfazia em abraçar você, você achava que estava confortando o seu amigo, mas naquelas ocasiões, se eu quisesse, faria você ficar comigo.
- A humildade ainda passa longe de você...- revirei os olhos e ele continuou:
- Eu estava encantado por você. Você havia chegado perto demais do que restou do humano Caleb, e me mostrado um mundo onde eu poderia fazer parte, com família, amigos que me aceitariam sem eu me sentir um monstro. Eu achava que estava apaixonado por você e estava me sentindo tentado a querer obrigá-la a me amar.
- E o que te segurou?
- Vi e observei o jeito que Lu e Mirian agiam como casal. Eram um. Eu sabia que com os poderes dela, ela poderia sobreviver a ele, mas você não teria passado da primeira noite comigo. Eu a teria matado.
- Que presunção...
- Sabe...Uma vez eu quis saber se ainda era o mesmo jovem de antes da transformação e ao final, o que restava da jovem estava espalhado pelo quarto, sem nenhuma gota de sangue. Jurei nunca mais fazer isso, e quando você teve a premonição sobre um filho meu...Eu só pude pensar que você o carregaria.
- Então um dia você conheceu a Megan, e percebeu que o que sentia por mim, era uma paixão adolescente tardia, afinal você já tinha uns 150 anos e era literalmente ‘inocente’ no amor, mas com ela foi amor verdadeiro certo? E conseguiu se conter para não matá-la.
-Sim, era o amor do tipo que eu havia visto em sua mente e na de Alucard, que traz felicidade e medo ao mesmo tempo. O tipo que faz com que a gente corra todos os riscos para ter uma casa cheia de crianças, com jardim e um cachorro. - sorri e ele me olhou curioso:
- Você tem isso não é?- eu acenei positivamente e ele continuou:
- Eu não esperava que Megan ficasse grávida, acho que nem quis pensar nessa possibilidade, afinal isso nunca havia acontecido antes... E se nós vampiros apenas existimos, não somos ‘seres vivos’, porque procriaríamos?
- Você nunca a mordeu? Porque ela ainda é humana.
- Nunca, antes o tivesse feito, porque eu me mantive preso a um código idiota de não morder humanos para preservá-los e agora eu estou matando a minha mulher. Se eu a perder...- e vi o desespero nos olhos dele e o abracei como nos velhos tempos. Depois de alguns segundos ele me soltou:
- Desculpa! Você continua...
- Cheirando melhor que um bom filé sangrento eu sei, garoto. Agora posso te chamar de garoto, você parece meu filho, Ty. È tão cabeça dura quanto ele, você vai ver quando o conhecer. Sabe Cal, odeio este lance de juventude eterna, você não tem uma ruga. - e toquei seu cabelo e ele respondeu enquanto punha sua mão fria em meu rosto:
- Não se chateie com as pequenas marcas do tempo, são a prova do que você viveu e suportou, tornando-a melhor a cada dia. Obrigado a vocês dois por me perdoar, e me receber de volta. Sei dos sacrifícios que estão fazendo para me ajudar e vou recompensá-los...
- Deixe de bobagens, você é um membro da família e Megan é bem vinda junto com seu filho, agora vamos voltar. Alucard já deve ter rosnado para muita gente, gritado com outros, mas conseguiu que você fique livre não é?- ele fechou os olhos por alguns segundos e disse:
- Sim, ele conseguiu, e disse que depois que tudo acabar vai me encher de socos e quanto a você, ele vai amarrá-la numa camisa de força por ter saído com um vampiro faminto sem escolta. - acabei rindo ao imaginar Alucard que tinha um coração bondoso demais ‘tentando’ fazer algo do gênero com quem ele amava.
Antes de aparatarmos dei a mão a Caleb e olhei em seus olhos dizendo:
- Tenha em mente que nós estaremos ao seu lado, quer você goste ou não. Somos a sua família e não se dá as costas para a família, mesmo que ela seja um pé no saco de tão esquisita. - rimos e aparatamos de volta para Dublin.
Ainda tínhamos um nascimento para acompanhar e ele estava próximo. Só desejava que ele trouxesse esperança de que todos podiam viver juntos em paz, como um outro bebê trouxe há mais de dois mil anos atrás.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
0 comentários:
Post a Comment