Das anotações de Morgan O’Ohara Weasley
Dezembro de 1999
Quase 48 horas haviam se passado desde que Megan Langston havia adentrado pelas portas do hospital se esvaindo em sangue. Eu junto com Mirian Chronos, estávamos cuidando da paciente, Megan, e eu observava fascinada que com a dieta de sangue que eu havia prescrito, a jovem estava visivelmente melhor.
Meu professor, havia saído horas antes com os outros alunos para terminar as rondas e havia dado ordens expressas de que eu era a responsável ali. Claro que era uma faca de dois gumes, mas eu estava disposta a correr o risco e provar que eu poderia ser uma boa curandeira. Mesmo com a falta de descanso, eu me mantinha alerta a tudo e teve um momento que notei Mirian Chronos colocar a mão em meu ombro e senti uma energia restauradora muito boa vindo dela. Estava terminando minhas anotações enquanto Mirian lia, um livro escrito em runas antigas, quando escutei o ruído de canudinho num copo vazio. Olhei para Megan e ela me olhou com ar culpado:
- Desculpe, pode parecer estranho dizer isso, mas estava gostoso.
- Tudo bem, se o seu bebê se acalma com isso, faremos a vontade dele. - como ela tivesse quase a mesma idade que eu perguntei:
- Como conheceu seu marido?
- Ele me salvou. Devo minha vida a ele. - ela respondeu sonhadora.
- Ah que romântico, conte-nos como foi. Este livro está entediante. - disse Mirian e nos sentamos perto da paciente. Como ouvi sua barriga roncar novamente dei-lhe outro copo de sangue gelado e ela disse:
- ...Imaginem, eu andando sozinha à noite no Central Park, quando aqueles homens tentaram me atacar. Caleb não só os afugentou, como impediu que eu ficasse lá desmaiada. Levou-me para seu apartamento e cuidou de mim, enquanto eu me recuperava. Após isso, me levou até a minha casa.
- Imagino o susto dos seus pais...- comentei e ela disse.
- Meus pais morreram há 2 anos, não tenho parentes, e me sentia muito sozinha e deprimida, então quando conheci Caleb foi como...Vocês vão rir do que vou dizer:
- Prometemos não rir. - disse Mirian e eu acenei afirmativamente.
- Quando vi aquele homem lindo e corajoso, cuidando de mim foi como se visse uma luz na escuridão que era a minha vida.
- Ohhnnn!
Fizemos eu e Mirian ao mesmo tempo e nós três acabamos rindo. Após algum tempo de conversa em que pudemos nos conhecer melhor, Megan disse:
- Eles estão demorando não é?Eu sei que os vampiros têm poder de persuasão em nível altíssimo, mas aquela mulher me pareceu tão normal, e ele saiu com ela como se não pudesse desobedecer.
- Não fique com ciúmes, não vale a pena, falo por experiência própria... Com Lu, meu marido também é assim, quando se trata da Alex, e ela é humana, não vampira.
- Deixa Caleb voltar, que eu vou fritar aquele morcego assanhado. - sussurrou Megan irritada e Mirian depois de olhar para mim disse rindo.
- Não se preocupe, Alex é para Cal e Lu, ‘um os rapazes’, quando você os vir juntos, você vai entender.
Nesta hora a porta se abriu e Alex entrou na sala seguida por Alucard Chronos e o marido de Megan, Caleb, e eu pude entender o que ela quis dizer sobre luz na escuridão: os olhos de seu marido eram dourados e ele sorria para ela com uma felicidade genuína.
Após os cumprimentos Alex, se aproximou da maca e disse para Megan, que a olhava acomo se ela fosse uma rival em potencial. Alex percebeu e começou a falar com ela.
- Vejo que está melhor, fico contente com isso. Sou uma velha amiga de Caleb e...
- Você não é velha...- Langston falou e Alex respondeu a ele de bom humor:
- Alôô!! Jovem esposa grávida com ciúmes, não é bom para o bebê. Preciso desenhar??- e Langston ficou sem graça, enquanto Alucard gargalhava na sala dizendo:
- Continua um tapado com as mulheres, é isso que dá sumir no mundo. - e Alex disse:
- Sou amiga de Caleb. Não precisa ter receios comigo. Sempre fui imune ao charme dele.
- O que restava de meu ego foi ao chão. - disse Caleb brincando:
- Porque esta ligação entre vocês? Quer dizer, vocês já...??- a garota perguntou enquanto tomava um copo de shake com sangue gelado. - e Caleb respondeu:
- Alex sempre me rejeitou, ainda sinto o coração despedaçado. - e Alex olhou-o reprovadoramente.
- Eu e Caleb nunca nos envolvemos romanticamente, se é o que você quer saber.
Uma vez durante um luta, Caleb ficou fraco demais, e para não sermos mortos, eu o obriguei a se alimentar com o meu sangue. - vi que Caleb ficou embaraçado e Alucard colocou a mão forte em seu ombro, para lhe dar apoio.
- Ele podia ter perdido o controle... E porque o seu sangue? Ele já estava habituado ao sangue dos animais...- perguntei, pois Megan havia falado sobre a dieta de Caleb.
- Apesar da dieta de animais ser muito boa, ela não dá tanta energia e força aos vampiros quanto o sangue humano. E eram 10 contra 2, por melhor que eu seja boa num duelo, Caleb é 10 vezes melhor quando esta no auge de sua força. - respondeu Alex. E ela continuou:
- Acho que o fato de eu o alimentar, criou um vinculo entre nós, assim como tenho vínculos com Alucard. Por isso, esta afinidade entre nós. Eu os amo como se fossem meus irmãos.
- Kyle dizia que você estava se transformando numa provedora de vampiros. Sangue bom, linhagem forte...- disse Alucard e antes que ele falasse mais alguma coisa, Megan se contorceu quando ouvimos um barulho de mais alguma coisa se quebrando e um jato de sangue saiu pela sua boca. Com uma rápida examinada de Mirian na paciente, ela disse tensa:
- O bebê quebrou a espinha dela, ela vai morrer se não o tirarmos daí.
Meu professor entrou correndo na sala e disse enquanto examinava a paciente e punha luvas cirurgicas:
- Teremos que salvar pelo menos a criança, a mãe esta muito mal. Não há poção regeneradora suficiente para curá-la com o bebê ai dentro...
Peguei um bisturi e tentei cortar sua barriga para fazer uma cesariana de emergência, mas o tecido era muito resistente, olhei para Mirian e ela disse:
- Vou lançar feitiços curativos para ajudá-la a resistir. Caleb precisamos de você.
- Eu posso matá-la...- como ele hesitasse eu disse, largando o bisturi:
- Alucard, abra a barriga dela e tire o bebê. Caleb prepare-se para transformar Megan. - e nesta hora todos olharam para mim e expliquei rápido:
- A única forma de salvarmos Megan é se ela for transformada em vampira antes de morrer.
- Mas eu não posso e isso é muito doloroso...- Caleb começou a dizer e Mirian disse entendendo a minha idéia:
- Você quer salvar sua mulher ou não Caleb? Sem o poder regenerador dos vampiros, ela não vai resistir e pelo jeito o sangue do bebê está muito misturado ao da mãe, os meus poderes de cura não vão ajudar muito. Ela vai morrer.
Alex, puxou a mim e meu professor para trás dela e disse a nós:
-Fiquem atrás de mim. - fez um sinal para Alucard e ele mostrou as presas e as garras, Caleb reagiu automaticamente e enquanto Alucard rasgava a barriga da mulher com as garras e puxava o bebê lá de dentro, todo sujo de sangue e muco, Caleb com os olhos em chamas mordia o pescoço de Megan, e ela se contorcia na mesa.
Achava que era impossível para ela sentir dor, já que sua espinha estava quebrada, mas eu me enganei. Aqueles espasmos eram de dor e eu não podia fazer nada. Só torcer para que ela agüentasse.
Peguei o bebê para limpá-lo e cuidar quando percebi o brilho vermelho nos olhos e os dentes. Aquele bebê com apenas alguns minutos de vida tinha dentes e estava com fome e não era do leite da mãe como todos os outros. Era fome de sangue. Tomei cuidado para não ser mordida.
Caleb mordia a esposa, injetando o veneno e passava a língua em cima das marcas para que elas fechassem e segurassem o veneno dentro dela e a transformação ocorresse logo. Eu limpei o bebê e Mirian começou a falar com ele numa língua estranha e parecia que o bebê a entendia e se acalmou.
Mais alguns minutos e o corpo dilacerado de Megan começou a se regenerar e era uma coisa assustadora de se ver. Ossos se emendavam como se nunca tivessem se partido, a carne se juntava e parecia que ficava mais firme e lisa. E a mudança maior era no rosto. Onde antes havia uma expressão de dor e círculos roxos embaixo dos olhos, surgia uma face pálida e sem marcas de sofrimento, dava até medo de ver tanta beleza na morte.
O bebê depois de algum tempo e acho que sentindo os cheiros de sangue da sala, começou a se remexer com fome, e meu professor conjurou uma mamadeira da ala pediátrica e a enchi com um pouco do sangue das bolsas que estavam ali. Era estranho ver o bebê segurar um pouco de meu cabelo fascinado, enquanto tomava a mamadeira, parecia ter o entendimento de um bebê de 2 anos.
Após se sentir cheio, ele olhou para Caleb e esticou os braços. O pai o pegou e o abraçou com força, ambos se olharam nos olhos e deviam ter estabelecido alguma comunicação, pois Caleb disse:
- Mamãe precisa dormir um pouco Edward, quando ela estiver melhor ela fica conosco.
E o bebê entendeu e fechou os olhos adormecendo. Agora só nos restava esperar e torcer que o organismo de Megan aceitasse a nova condição.
Meu professor se aproximou e disse:
- Quero relatórios completos doutora O’Hara, amanhã na minha mesa...
- Weasley, professor... Senhor...- ele me olhou serio e disse:
- Doutora Weasley, quero os relatórios completos sobre sua paciente e o bebê. Será tópico de aula e discussão. E esteja preparada para fazer as rondas e apresentar os casos com os internos do ultimo ano. Estar aqui dentro por 48 horas, e ainda estar de pé já conta pontos a seu favor.
- Mas eu ainda sou novata...
- Depois de tudo o que vi hoje aqui, percebi que você entende os pacientes e faz de tudo para salvar vidas, isso é um dom. E não sou de desperdiçar um talento quando vejo um. Eu sei que você estuda mais que qualquer um dos meus alunos puxa-saco, suas notas provam isso, então não me custa nada, dar créditos extras a você para que você se forme e logo esteja na minha equipe do hospital. - e saiu me deixando aturdida.
Olhei em volta e Alex sussurrava algumas coisas para o bebê adormecido em seu colo. Alucard e Mirian estavam sentados de mãos dadas e esperavam a transformação de Megan, junto com Caleb. Ele estava tenso. Parecia congelado ao lado da mulher.
Respirei fundo e me sentei para esperar. Se eu tinha que fazer um relatório sobre toda esta situação, pelo menos precisava saber de toda a historia até o fim, e eu esperava que o final fosse feliz.
Wednesday, January 07, 2009
Sunday, January 04, 2009
Suécia, 19 de Julho de 1979
Havia passado à noite em claro desde que voltei do hospital. Toda a conversa que tive durante o dia inteiro com minha mãe ficava martelando na minha cabeça e cansado de me revirar na cama, levantei no meio da madrugada e me tranquei no escritório do meu pai. Sentei em sua poltrona e fiquei encarando o jardim pela janela até amanhecer.
Louise ia para casa na parte da tarde, mas antes havia saído com Megan e fiquei em casa sozinho com Wayne, que veio passar as férias em casa por causa da nossa mãe. Não queria sair do escritório e depois do café, Wayne se juntou a mim. Passamos à manhã toda de pijamas, jogando xadrez de bruxo sem conversar. Ninguém queria falar, tentávamos evitar ao máximo tocar no assunto que também mantivera meu irmão acordado por boa parte da noite.
- Acho que ouvi alguém aparatar – Wayne quebrou o silencio e parei para ouvir também
Ouvimos passos apressados na escada e segundos depois a porta do escritório abriu. Nosso pai entrou com uma aparência abatida, nunca havia visto o velho daquele jeito, e aquilo me apavorou. Levantei da cadeira esbarrando no tabuleiro e espalhando as peças e Wayne me olhou alarmado. Antes mesmo que ele falasse alguma coisa, já sabíamos.
- Meninos, vamos até a sala, por favor – papai falou cansado.
- Não – falei sacudindo a cabeça – Não! Não se atreva a falar que... – e minha voz morreu.
- Por favor, Scott, não torne as coisas mais difíceis – papai caminhou até a gente e Wayne o abraçou.
- Não! – papai tentou me abraçar também, mas o empurrei e corri para fora do escritório.
Passei por Megan no corredor, que chorava no ombro de Louise, e entrei no quarto batendo a porta. Apoiei as mãos na janela e encarei a piscina no jardim com a respiração ofegante. Ouvi a porta abrir e em seguida as mãos de Louise apertaram meu ombro. Olhei para ela com um olhar perdido e assustado e ela me puxou para perto dela. Abracei-a com força e comecei a chorar, desesperado. Minha mãe havia morrido e eu não sabia o que fazer.
No mesmo dia que recebemos a noticia da morte da mamãe, Louise se encarregou de avisar a todos os nossos amigos e no dia seguinte de manhã todos estavam na Suécia para acompanhar o enterro. Não me conformava e nem conseguia parar de chorar um minuto sequer, mas a parte mais dolorosa foi quando fecharam o caixão para descê-lo na terra. Foi quando me dei conta de que aquela era a última vez que estaria perto da minha mãe, a última vez que veria seu rosto que não fosse através de uma fotografia. E aquela última imagem da minha mãe me perturbava. Sabia que por mais que me esforçasse, sempre que pensasse nela, veria sua imagem dentro do caixão antes de imaginá-la saudável.
Depois do que pareceu uma eternidade, o caixão foi coberto com terra e o enterro finalmente chegou ao fim. Papai ainda recebia as condolências de algumas pessoas, a maioria funcionários do Ministério, e sentei em um banco mais afastado com meus amigos. Eles conversavam comigo e tentavam me animar, mas me limitava apenas a ouvir e balançar a cabeça. Alheio a conversa deles, vi quando dois funcionários da campanha de reeleição do meu pai se afastaram da multidão. Eles vinham conversando e não mantinham a voz baixa.
- Horrível isso tudo – um deles comentou olhando na direção do meu pai
- É, uma morte nunca é fácil – o outro respondeu olhando ao redor – Mas se quer minha opinião sincera, foi o melhor para o Stuart.
- Como é? – o outro se espantou e me mexi desconfortável no banco, a mão apertando a varinha no bolso – Me explique como perder a esposa pode ser o melhor para o Stuart.
- Ora Denis, vamos ser francos! Stuart quer ser reeleito como Ministro da Magia e estar casado com uma sangue-ruim não estava fazendo nada bem a sua campanha! E agora que ela morreu, ele vai ter o apoio dos que ficaram com pena e das famílias puro-sangue também!
- Não fala assim da minha mãe! – levantei do banco já com a varinha em punho e vermelho de raiva – Estupefaça!
Gritei fora de controle e o homem que chamou minha mãe d sangue-ruim voou longe. O outro homem chamado Denis se assustou e puxou a varinha, olhando para o outro caído.
- Expelliarmos! – o desarmei antes que ele pensasse em um feitiço
- Calma, garoto! – ele ergueu os braços, recuando – Não faça nenhuma bobagem!
- Scott! – meus amigos vieram correndo até mim
- Incarce- - o homem que derrubei já estava de pé e apontava a varinha pra mim
- Protego! – gritei depressa – Impedimenta! – o homem caiu para trás outra vez e corri até ele – Minha mãe não era uma sangue-ruim! – gritei na cara dele, chutando a varinha em sua mão
- Scott, chega! – senti quatro mãos me agarrarem e vi que Ben e Lu me puxavam para longe dele
- Me soltem! – me debati, mas em vão. Os dois eram mais fortes.
- Não vamos soltar até você se acalmar! – Lu falou ríspido e me arrastaram de volta pro banco
- O que está acontecendo? – papai veio correndo com Wayne, Megan, Karen e Kegan
- ELE CHAMOU A MAMÃE DE SANGUE-RUIM E DISSE QUE FOI MELHOR ELA TER MORRIDO! – cuspi as palavras aos berros e Wayne fechou o punho, olhando para o homem. Kegan segurou seu braço quando ele fez menção de ir até lá.
- Scott, vá para casa com seus irmãos! – papai ordenou olhando para os homens caídos no chão, nos encarando.
- Você não vai fazer nada? – perguntei incrédulo
- Vão para casa, eu cuido disso! – ele disse ríspido, lançando um olhar de raiva para os dois – Wayne, leve eles embora, agora!
Wayne ainda hesitou, mas papai o olhou severo e ele assentiu com a cabeça, guiando todos nós para fora do cemitério. Karen e Kegan foram os únicos que ficaram com ele e voltamos todos para a nossa casa, Lu e Ben ainda me segurando com medo de que eu voltasse a atacar os dois homens. Esperamos por horas espalhados pela sala, até que os três voltaram.
- Pessoal, vou levar vocês de volta para casa – Kegan puxou três objetos pequenos do bolso e entregou um ao Remo – Alex e Yulli, tem uma chave de portal para cada uma de vocês, para que voltem à Escócia e Japão. Os demais voltam para Londres pela caixa de fósforos que está com Remo – e entregou uma lata amassada e um lápis para as duas – Karen, depois eu volto, ok? – e minha irmã assentiu com a cabeça
- A gente volta ainda essa semana, ok? – Louise me abraçou e as meninas confirmaram o que ela disse, me abraçando também.
Cinco minutos depois todos já haviam desaparecido e papai sentou no sofá, me encarando. Wayne e Megan olhavam para ele curiosos.
- Pai, desculpa – falei depressa – Não queria fazer isso, mas se você visse como ele falava da mamãe...
- Você não tem que se desculpar, Scott – papai ergueu a mão, calmo – Quem tem que fazer isso é Elliot, e acredite, ele o fará.
- O que vai acontecer a eles, pai? – Wayne perguntou
- Foram demitidos – papai respondeu seco – Mas infelizmente as coisas não terminam ai.
- Por quê? – agora era Megan que falava – O que mais aconteceu?
- Por mais que tenha apenas defendido sua mãe, você atacou dois membros do ministério na frente de dezenas de trouxas – papai falou me encarando sério – O Conselho dos Bruxos já se manifestou quanto a isso e somado ao fato de que você utilizou uma maldição imperdoável por duas vezes, você terá que ir a julgamento e está fora do meu alcance impedir isso.
- Eu vou para Azkaban?? – perguntei assustado
- Não, se acalme, Azkaban está fora de cogitação – papai me tranqüilizou – Mas haverá algum tipo de punição e temos que estar preparados para isso.
- Não se preocupe, Scott – Karen falou apertando minha mão – Papai vai estar lá o tempo todo e o pai do Kegan faz parte do Conselho, vai ajudar.
- Vai dar tudo certo, filho.
Papai levantou do sofá e me puxou para um abraço, apertando meus cabelos. Sequer conseguia me lembrar a última vez que o abracei, mas aquele gesto me tranqüilizou um pouco. Claro que estava com medo do julgamento, mas meu pai estava do meu lado e sabia que independente da minha punição, tudo ia terminar bem.
Someday I'll wish upon a star
Wake up where the clouds are far behind me
Where trouble melts like lemon drops
High above the chimney tops that’s where you'll find me
Somewhere Over the Rainbow
Havia passado à noite em claro desde que voltei do hospital. Toda a conversa que tive durante o dia inteiro com minha mãe ficava martelando na minha cabeça e cansado de me revirar na cama, levantei no meio da madrugada e me tranquei no escritório do meu pai. Sentei em sua poltrona e fiquei encarando o jardim pela janela até amanhecer.
Louise ia para casa na parte da tarde, mas antes havia saído com Megan e fiquei em casa sozinho com Wayne, que veio passar as férias em casa por causa da nossa mãe. Não queria sair do escritório e depois do café, Wayne se juntou a mim. Passamos à manhã toda de pijamas, jogando xadrez de bruxo sem conversar. Ninguém queria falar, tentávamos evitar ao máximo tocar no assunto que também mantivera meu irmão acordado por boa parte da noite.
- Acho que ouvi alguém aparatar – Wayne quebrou o silencio e parei para ouvir também
Ouvimos passos apressados na escada e segundos depois a porta do escritório abriu. Nosso pai entrou com uma aparência abatida, nunca havia visto o velho daquele jeito, e aquilo me apavorou. Levantei da cadeira esbarrando no tabuleiro e espalhando as peças e Wayne me olhou alarmado. Antes mesmo que ele falasse alguma coisa, já sabíamos.
- Meninos, vamos até a sala, por favor – papai falou cansado.
- Não – falei sacudindo a cabeça – Não! Não se atreva a falar que... – e minha voz morreu.
- Por favor, Scott, não torne as coisas mais difíceis – papai caminhou até a gente e Wayne o abraçou.
- Não! – papai tentou me abraçar também, mas o empurrei e corri para fora do escritório.
Passei por Megan no corredor, que chorava no ombro de Louise, e entrei no quarto batendo a porta. Apoiei as mãos na janela e encarei a piscina no jardim com a respiração ofegante. Ouvi a porta abrir e em seguida as mãos de Louise apertaram meu ombro. Olhei para ela com um olhar perdido e assustado e ela me puxou para perto dela. Abracei-a com força e comecei a chorar, desesperado. Minha mãe havia morrido e eu não sabia o que fazer.
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No mesmo dia que recebemos a noticia da morte da mamãe, Louise se encarregou de avisar a todos os nossos amigos e no dia seguinte de manhã todos estavam na Suécia para acompanhar o enterro. Não me conformava e nem conseguia parar de chorar um minuto sequer, mas a parte mais dolorosa foi quando fecharam o caixão para descê-lo na terra. Foi quando me dei conta de que aquela era a última vez que estaria perto da minha mãe, a última vez que veria seu rosto que não fosse através de uma fotografia. E aquela última imagem da minha mãe me perturbava. Sabia que por mais que me esforçasse, sempre que pensasse nela, veria sua imagem dentro do caixão antes de imaginá-la saudável.
Depois do que pareceu uma eternidade, o caixão foi coberto com terra e o enterro finalmente chegou ao fim. Papai ainda recebia as condolências de algumas pessoas, a maioria funcionários do Ministério, e sentei em um banco mais afastado com meus amigos. Eles conversavam comigo e tentavam me animar, mas me limitava apenas a ouvir e balançar a cabeça. Alheio a conversa deles, vi quando dois funcionários da campanha de reeleição do meu pai se afastaram da multidão. Eles vinham conversando e não mantinham a voz baixa.
- Horrível isso tudo – um deles comentou olhando na direção do meu pai
- É, uma morte nunca é fácil – o outro respondeu olhando ao redor – Mas se quer minha opinião sincera, foi o melhor para o Stuart.
- Como é? – o outro se espantou e me mexi desconfortável no banco, a mão apertando a varinha no bolso – Me explique como perder a esposa pode ser o melhor para o Stuart.
- Ora Denis, vamos ser francos! Stuart quer ser reeleito como Ministro da Magia e estar casado com uma sangue-ruim não estava fazendo nada bem a sua campanha! E agora que ela morreu, ele vai ter o apoio dos que ficaram com pena e das famílias puro-sangue também!
- Não fala assim da minha mãe! – levantei do banco já com a varinha em punho e vermelho de raiva – Estupefaça!
Gritei fora de controle e o homem que chamou minha mãe d sangue-ruim voou longe. O outro homem chamado Denis se assustou e puxou a varinha, olhando para o outro caído.
- Expelliarmos! – o desarmei antes que ele pensasse em um feitiço
- Calma, garoto! – ele ergueu os braços, recuando – Não faça nenhuma bobagem!
- Scott! – meus amigos vieram correndo até mim
- Incarce- - o homem que derrubei já estava de pé e apontava a varinha pra mim
- Protego! – gritei depressa – Impedimenta! – o homem caiu para trás outra vez e corri até ele – Minha mãe não era uma sangue-ruim! – gritei na cara dele, chutando a varinha em sua mão
- Scott, chega! – senti quatro mãos me agarrarem e vi que Ben e Lu me puxavam para longe dele
- Me soltem! – me debati, mas em vão. Os dois eram mais fortes.
- Não vamos soltar até você se acalmar! – Lu falou ríspido e me arrastaram de volta pro banco
- O que está acontecendo? – papai veio correndo com Wayne, Megan, Karen e Kegan
- ELE CHAMOU A MAMÃE DE SANGUE-RUIM E DISSE QUE FOI MELHOR ELA TER MORRIDO! – cuspi as palavras aos berros e Wayne fechou o punho, olhando para o homem. Kegan segurou seu braço quando ele fez menção de ir até lá.
- Scott, vá para casa com seus irmãos! – papai ordenou olhando para os homens caídos no chão, nos encarando.
- Você não vai fazer nada? – perguntei incrédulo
- Vão para casa, eu cuido disso! – ele disse ríspido, lançando um olhar de raiva para os dois – Wayne, leve eles embora, agora!
Wayne ainda hesitou, mas papai o olhou severo e ele assentiu com a cabeça, guiando todos nós para fora do cemitério. Karen e Kegan foram os únicos que ficaram com ele e voltamos todos para a nossa casa, Lu e Ben ainda me segurando com medo de que eu voltasse a atacar os dois homens. Esperamos por horas espalhados pela sala, até que os três voltaram.
- Pessoal, vou levar vocês de volta para casa – Kegan puxou três objetos pequenos do bolso e entregou um ao Remo – Alex e Yulli, tem uma chave de portal para cada uma de vocês, para que voltem à Escócia e Japão. Os demais voltam para Londres pela caixa de fósforos que está com Remo – e entregou uma lata amassada e um lápis para as duas – Karen, depois eu volto, ok? – e minha irmã assentiu com a cabeça
- A gente volta ainda essa semana, ok? – Louise me abraçou e as meninas confirmaram o que ela disse, me abraçando também.
Cinco minutos depois todos já haviam desaparecido e papai sentou no sofá, me encarando. Wayne e Megan olhavam para ele curiosos.
- Pai, desculpa – falei depressa – Não queria fazer isso, mas se você visse como ele falava da mamãe...
- Você não tem que se desculpar, Scott – papai ergueu a mão, calmo – Quem tem que fazer isso é Elliot, e acredite, ele o fará.
- O que vai acontecer a eles, pai? – Wayne perguntou
- Foram demitidos – papai respondeu seco – Mas infelizmente as coisas não terminam ai.
- Por quê? – agora era Megan que falava – O que mais aconteceu?
- Por mais que tenha apenas defendido sua mãe, você atacou dois membros do ministério na frente de dezenas de trouxas – papai falou me encarando sério – O Conselho dos Bruxos já se manifestou quanto a isso e somado ao fato de que você utilizou uma maldição imperdoável por duas vezes, você terá que ir a julgamento e está fora do meu alcance impedir isso.
- Eu vou para Azkaban?? – perguntei assustado
- Não, se acalme, Azkaban está fora de cogitação – papai me tranqüilizou – Mas haverá algum tipo de punição e temos que estar preparados para isso.
- Não se preocupe, Scott – Karen falou apertando minha mão – Papai vai estar lá o tempo todo e o pai do Kegan faz parte do Conselho, vai ajudar.
- Vai dar tudo certo, filho.
Papai levantou do sofá e me puxou para um abraço, apertando meus cabelos. Sequer conseguia me lembrar a última vez que o abracei, mas aquele gesto me tranqüilizou um pouco. Claro que estava com medo do julgamento, mas meu pai estava do meu lado e sabia que independente da minha punição, tudo ia terminar bem.
Someday I'll wish upon a star
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Somewhere Over the Rainbow
Friday, January 02, 2009
As Ilhas Hébridas não eram só o lar dos dragões negros que Morgan e Carlinhos preservavam. Era um lugar cheio de belezas naturais e mesmo no inverno, um bom rastreador com Caleb, podia encontrar caça selvagem, e logo ele se alimentava do sangue de alguns cervos adultos. Pedi a ele que não drenasse todo o sangue , para que pudesse jogar os animais não consumidos para Gaia, o dragão cego do Gringotes, que no inverno tem maior dificuldade em farejar suas presas e era um dos xodós de Morgan.
Após algum tempo e 5 cervos abatidos, notei que os olhos negros como carvão, já estavam da cor de ouro líquido e Caleb, olhava ao redor ansioso. Vimos quando Gaia, saiu do ninho e começou a puxar as carcaças para perto de si.
- Porque você foi embora???- disparei.
- Não queria falar disso agora...
- Mas precisa se explicar comigo e com Alucard...
- Ele está conectado com você não é?
- Sim, e você sabe que ele pode ouvi-lo a kilometros, então poupe o trabalho de se explicar duas vezes, merecemos uma resposta a nossa pergunta. - ele olhou para o dragão se alimentando a distancia e suspirou.
- Lembra de quando eu quase a matei?- disse direto.
- Você não ia fazer isso, estava...
- Como havia dito, os escoceses tem um sangue bom, e eu estava há muito tempo sobrevivendo com o sangue de animais selvagens. Uma humana jovem, oferecendo-se a mim espontaneamente, era um banquete.
- Certo, somos apetitosos, mas isso não era motivo para você ir embora, eu fiquei bem depois. - e ele ficou com o rosto contraído e continuou:
- Quando eu estava sugando o seu pescoço, senti uma euforia, uma alegria alucinada, e estava realizando um desejo que acalentava desde o nosso primeiro contato. - como eu o olhasse curiosa, ele disse:
- Estava provando você.
- Oh! - e fiquei vermelha e ele riu:
- Você ainda fica corada, que linda. - ele zombou.
- Besta! - rimos e a velha camaradagem voltava.
- Eu perdi o controle e passei dos limites seguros para você...Desculpe-me.
- Ok, desculpado. Mas você parou, lembro-me de acordar num hospital.
- Você me fez parar.
- Como?
- Quando parecia prestes a morrer, disse que quando o meu filho fosse nascer, eu deveria procurar a doutora O’Hara. Isso me trouxe de volta à razão.
- Você esta me dizendo que eu fiz uma premonição num estado de quase morte?
- Sim, e quando você falou sobre um bebê, imaginei que o filho seria nosso. Então eu tinha que me afastar de você, antes que causasse mais dano. Levei-a ao hospital o mais rápido que pude e lá encontrei Kyle, ele pressentiu que você estava morrendo. Não preciso dizer que Lu chegou logo depois dele.
- Mas Logan estava lá também...Lembro que quando acordei ele estava no quarto
- Lu mandou um patrono a ele, a meu pedido. Sabia que ele faria as mais modernas poções restauradoras e você ficaria bem, afinal aqueles dois homens a amavam e juntos seriam capazes de ir ao inferno por você. Podiam ajudar mais do que eu.
- Então você fugiu por medo de uma premonição...
- Sim, eu tive medo.
- Mas não estávamos envolvidos, a possibilidade de ter um filho era remota, para não dizer impossível. E você podia ter me contado. - e ele me olhou sério:
- Tínhamos contato muito além do necessário, eu me satisfazia em abraçar você, você achava que estava confortando o seu amigo, mas naquelas ocasiões, se eu quisesse, faria você ficar comigo.
- A humildade ainda passa longe de você...- revirei os olhos e ele continuou:
- Eu estava encantado por você. Você havia chegado perto demais do que restou do humano Caleb, e me mostrado um mundo onde eu poderia fazer parte, com família, amigos que me aceitariam sem eu me sentir um monstro. Eu achava que estava apaixonado por você e estava me sentindo tentado a querer obrigá-la a me amar.
- E o que te segurou?
- Vi e observei o jeito que Lu e Mirian agiam como casal. Eram um. Eu sabia que com os poderes dela, ela poderia sobreviver a ele, mas você não teria passado da primeira noite comigo. Eu a teria matado.
- Que presunção...
- Sabe...Uma vez eu quis saber se ainda era o mesmo jovem de antes da transformação e ao final, o que restava da jovem estava espalhado pelo quarto, sem nenhuma gota de sangue. Jurei nunca mais fazer isso, e quando você teve a premonição sobre um filho meu...Eu só pude pensar que você o carregaria.
- Então um dia você conheceu a Megan, e percebeu que o que sentia por mim, era uma paixão adolescente tardia, afinal você já tinha uns 150 anos e era literalmente ‘inocente’ no amor, mas com ela foi amor verdadeiro certo? E conseguiu se conter para não matá-la.
-Sim, era o amor do tipo que eu havia visto em sua mente e na de Alucard, que traz felicidade e medo ao mesmo tempo. O tipo que faz com que a gente corra todos os riscos para ter uma casa cheia de crianças, com jardim e um cachorro. - sorri e ele me olhou curioso:
- Você tem isso não é?- eu acenei positivamente e ele continuou:
- Eu não esperava que Megan ficasse grávida, acho que nem quis pensar nessa possibilidade, afinal isso nunca havia acontecido antes... E se nós vampiros apenas existimos, não somos ‘seres vivos’, porque procriaríamos?
- Você nunca a mordeu? Porque ela ainda é humana.
- Nunca, antes o tivesse feito, porque eu me mantive preso a um código idiota de não morder humanos para preservá-los e agora eu estou matando a minha mulher. Se eu a perder...- e vi o desespero nos olhos dele e o abracei como nos velhos tempos. Depois de alguns segundos ele me soltou:
- Desculpa! Você continua...
- Cheirando melhor que um bom filé sangrento eu sei, garoto. Agora posso te chamar de garoto, você parece meu filho, Ty. È tão cabeça dura quanto ele, você vai ver quando o conhecer. Sabe Cal, odeio este lance de juventude eterna, você não tem uma ruga. - e toquei seu cabelo e ele respondeu enquanto punha sua mão fria em meu rosto:
- Não se chateie com as pequenas marcas do tempo, são a prova do que você viveu e suportou, tornando-a melhor a cada dia. Obrigado a vocês dois por me perdoar, e me receber de volta. Sei dos sacrifícios que estão fazendo para me ajudar e vou recompensá-los...
- Deixe de bobagens, você é um membro da família e Megan é bem vinda junto com seu filho, agora vamos voltar. Alucard já deve ter rosnado para muita gente, gritado com outros, mas conseguiu que você fique livre não é?- ele fechou os olhos por alguns segundos e disse:
- Sim, ele conseguiu, e disse que depois que tudo acabar vai me encher de socos e quanto a você, ele vai amarrá-la numa camisa de força por ter saído com um vampiro faminto sem escolta. - acabei rindo ao imaginar Alucard que tinha um coração bondoso demais ‘tentando’ fazer algo do gênero com quem ele amava.
Antes de aparatarmos dei a mão a Caleb e olhei em seus olhos dizendo:
- Tenha em mente que nós estaremos ao seu lado, quer você goste ou não. Somos a sua família e não se dá as costas para a família, mesmo que ela seja um pé no saco de tão esquisita. - rimos e aparatamos de volta para Dublin.
Ainda tínhamos um nascimento para acompanhar e ele estava próximo. Só desejava que ele trouxesse esperança de que todos podiam viver juntos em paz, como um outro bebê trouxe há mais de dois mil anos atrás.
Após algum tempo e 5 cervos abatidos, notei que os olhos negros como carvão, já estavam da cor de ouro líquido e Caleb, olhava ao redor ansioso. Vimos quando Gaia, saiu do ninho e começou a puxar as carcaças para perto de si.
- Porque você foi embora???- disparei.
- Não queria falar disso agora...
- Mas precisa se explicar comigo e com Alucard...
- Ele está conectado com você não é?
- Sim, e você sabe que ele pode ouvi-lo a kilometros, então poupe o trabalho de se explicar duas vezes, merecemos uma resposta a nossa pergunta. - ele olhou para o dragão se alimentando a distancia e suspirou.
- Lembra de quando eu quase a matei?- disse direto.
- Você não ia fazer isso, estava...
- Como havia dito, os escoceses tem um sangue bom, e eu estava há muito tempo sobrevivendo com o sangue de animais selvagens. Uma humana jovem, oferecendo-se a mim espontaneamente, era um banquete.
- Certo, somos apetitosos, mas isso não era motivo para você ir embora, eu fiquei bem depois. - e ele ficou com o rosto contraído e continuou:
- Quando eu estava sugando o seu pescoço, senti uma euforia, uma alegria alucinada, e estava realizando um desejo que acalentava desde o nosso primeiro contato. - como eu o olhasse curiosa, ele disse:
- Estava provando você.
- Oh! - e fiquei vermelha e ele riu:
- Você ainda fica corada, que linda. - ele zombou.
- Besta! - rimos e a velha camaradagem voltava.
- Eu perdi o controle e passei dos limites seguros para você...Desculpe-me.
- Ok, desculpado. Mas você parou, lembro-me de acordar num hospital.
- Você me fez parar.
- Como?
- Quando parecia prestes a morrer, disse que quando o meu filho fosse nascer, eu deveria procurar a doutora O’Hara. Isso me trouxe de volta à razão.
- Você esta me dizendo que eu fiz uma premonição num estado de quase morte?
- Sim, e quando você falou sobre um bebê, imaginei que o filho seria nosso. Então eu tinha que me afastar de você, antes que causasse mais dano. Levei-a ao hospital o mais rápido que pude e lá encontrei Kyle, ele pressentiu que você estava morrendo. Não preciso dizer que Lu chegou logo depois dele.
- Mas Logan estava lá também...Lembro que quando acordei ele estava no quarto
- Lu mandou um patrono a ele, a meu pedido. Sabia que ele faria as mais modernas poções restauradoras e você ficaria bem, afinal aqueles dois homens a amavam e juntos seriam capazes de ir ao inferno por você. Podiam ajudar mais do que eu.
- Então você fugiu por medo de uma premonição...
- Sim, eu tive medo.
- Mas não estávamos envolvidos, a possibilidade de ter um filho era remota, para não dizer impossível. E você podia ter me contado. - e ele me olhou sério:
- Tínhamos contato muito além do necessário, eu me satisfazia em abraçar você, você achava que estava confortando o seu amigo, mas naquelas ocasiões, se eu quisesse, faria você ficar comigo.
- A humildade ainda passa longe de você...- revirei os olhos e ele continuou:
- Eu estava encantado por você. Você havia chegado perto demais do que restou do humano Caleb, e me mostrado um mundo onde eu poderia fazer parte, com família, amigos que me aceitariam sem eu me sentir um monstro. Eu achava que estava apaixonado por você e estava me sentindo tentado a querer obrigá-la a me amar.
- E o que te segurou?
- Vi e observei o jeito que Lu e Mirian agiam como casal. Eram um. Eu sabia que com os poderes dela, ela poderia sobreviver a ele, mas você não teria passado da primeira noite comigo. Eu a teria matado.
- Que presunção...
- Sabe...Uma vez eu quis saber se ainda era o mesmo jovem de antes da transformação e ao final, o que restava da jovem estava espalhado pelo quarto, sem nenhuma gota de sangue. Jurei nunca mais fazer isso, e quando você teve a premonição sobre um filho meu...Eu só pude pensar que você o carregaria.
- Então um dia você conheceu a Megan, e percebeu que o que sentia por mim, era uma paixão adolescente tardia, afinal você já tinha uns 150 anos e era literalmente ‘inocente’ no amor, mas com ela foi amor verdadeiro certo? E conseguiu se conter para não matá-la.
-Sim, era o amor do tipo que eu havia visto em sua mente e na de Alucard, que traz felicidade e medo ao mesmo tempo. O tipo que faz com que a gente corra todos os riscos para ter uma casa cheia de crianças, com jardim e um cachorro. - sorri e ele me olhou curioso:
- Você tem isso não é?- eu acenei positivamente e ele continuou:
- Eu não esperava que Megan ficasse grávida, acho que nem quis pensar nessa possibilidade, afinal isso nunca havia acontecido antes... E se nós vampiros apenas existimos, não somos ‘seres vivos’, porque procriaríamos?
- Você nunca a mordeu? Porque ela ainda é humana.
- Nunca, antes o tivesse feito, porque eu me mantive preso a um código idiota de não morder humanos para preservá-los e agora eu estou matando a minha mulher. Se eu a perder...- e vi o desespero nos olhos dele e o abracei como nos velhos tempos. Depois de alguns segundos ele me soltou:
- Desculpa! Você continua...
- Cheirando melhor que um bom filé sangrento eu sei, garoto. Agora posso te chamar de garoto, você parece meu filho, Ty. È tão cabeça dura quanto ele, você vai ver quando o conhecer. Sabe Cal, odeio este lance de juventude eterna, você não tem uma ruga. - e toquei seu cabelo e ele respondeu enquanto punha sua mão fria em meu rosto:
- Não se chateie com as pequenas marcas do tempo, são a prova do que você viveu e suportou, tornando-a melhor a cada dia. Obrigado a vocês dois por me perdoar, e me receber de volta. Sei dos sacrifícios que estão fazendo para me ajudar e vou recompensá-los...
- Deixe de bobagens, você é um membro da família e Megan é bem vinda junto com seu filho, agora vamos voltar. Alucard já deve ter rosnado para muita gente, gritado com outros, mas conseguiu que você fique livre não é?- ele fechou os olhos por alguns segundos e disse:
- Sim, ele conseguiu, e disse que depois que tudo acabar vai me encher de socos e quanto a você, ele vai amarrá-la numa camisa de força por ter saído com um vampiro faminto sem escolta. - acabei rindo ao imaginar Alucard que tinha um coração bondoso demais ‘tentando’ fazer algo do gênero com quem ele amava.
Antes de aparatarmos dei a mão a Caleb e olhei em seus olhos dizendo:
- Tenha em mente que nós estaremos ao seu lado, quer você goste ou não. Somos a sua família e não se dá as costas para a família, mesmo que ela seja um pé no saco de tão esquisita. - rimos e aparatamos de volta para Dublin.
Ainda tínhamos um nascimento para acompanhar e ele estava próximo. Só desejava que ele trouxesse esperança de que todos podiam viver juntos em paz, como um outro bebê trouxe há mais de dois mil anos atrás.
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