Monday, August 11, 2008

Segunda-feira, 11 de Agosto de 1999

- Qual cor fica melhor, verde ou amarelo? – Estendi dois vestidinhos para Scott, em duvida
- Verde, definitivamente – disse pegando da minha mão e jogando no carrinho – Amarelo a menina vai ficar parecendo um canário.
- É por isso que adoro fazer compras com você.
- Também adoro ir às compras com você, mas bem que podíamos ter começado a fazer esse enxoval mais cedo, não? O shopping está absurdamente lotado para uma segunda-feira e você com esse barrigão de 9 meses está retardando o processo.
- Pare de reclamar, não tive tempo de fazer isso antes. E não estou andando tão devagar assim, seu exagerado.
- Ah não, claro – Scott largou as sacolas e agachou, me imitando – Ai Cott, espera, meus pés estão doendo. Droga, porque os pés incham?
- Idiota – o acertei com as roupas, mas ri – Vamos logo, ainda temos que escolher um monte de coisa.

Ele recolheu as sacolas do chão e fomos para o caixa pagar a pilha de roupas que estava embolada no carrinho. Não havia tirado meus dias de folga no trabalho por opção, então não havia tido tempo de pensar em absolutamente nada além dos móveis do quarto do bebê. E como meu chefe me obrigou a tirar folga assim que completei meus 9 meses, viemos às compras. Pagamos tudo depressa e fomos para outra loja, menos cheia dessa vez. Scott foi logo escolhendo bichos de pelúcia lindos e empurrando na minha mão, quando senti uma pontada na barriga. Soltei a girafa de pelúcia que abraçava e minha mão automaticamente segurou a barriga. Olhei para o chão e vi que estava molhado. Scott me olhou alarmado e soltou tudo que estava segurando na mesma hora, me amparando e abrindo caminho na loja, gritando que eu estava em trabalho de parto. As pessoas com medo foram abrindo quase um corredor para passarmos e eu não sabia se mantinha a mão na barriga, respirava, andava ou segurava as sacolas de compras.

Fizemos o trajeto shopping-hospital em tempo recorde. Scott ia dirigindo feito um louco na rua, a mão colada na buzina para que saíssem da frente. Em determinado trecho ele colou numa ambulância e aproveitou o caminho que ela abria para fugir do transito. Ele saiu do carro gritando quando paramos na porta do hospital e um enfermeiro veio correndo com uma cadeira de rodas.

- Rápido rapaz! – Scott falava agitado com o enfermeiro – A bolsa dela já estourou, a criança já deve ta saindo!
- Scott, calma! – gritei e ele parou de falar. Estava muito mais calma que ele – Eu estou bem, o bebê não vai cair no meio do corredor, infelizmente não é tão simples assim. Preciso que você avise ao Remo. Pode fazer isso sem deixá-lo apavorado?

Ele assentiu com a cabeça suando um pouco e ri. O enfermeiro me empurrou para dentro do hospital e ia preenchendo a ficha enquanto ele caminhava do meu lado dando instruções pro pobre homem. Scott só sossegou mesmo quando viu que Patrícia já havia me visto e assumiu o controle. Acabamos expulsando ele do quarto e ele saiu dizendo que ia avisar ao Remo. Espero não ter que gritar com ele também...

ººº

- Teve alguma noticia do Ethan? – perguntei a Ben enquanto estudava o quarto
- Sim, voltei ontem já tarde do Texas e descobrimos que quem o levou foi a avó. Alex está péssima, e isso pode fazer mal ao bebê – ele parou e olhou em volta – O que acha do berço daquele lado?
- Vamos ver como fica – Peguei uma ponta e ele a outra – Ao menos já sabem com quem ele está. Se ela é mesmo uma bruxa fica mais fácil rastrear. Essa lei de ascendência obrigou o ministério a catalogar todas as famílias desde quase a era dos dinossauros!

Erguemos o berço e colocamos na parede vazia. Estávamos reorganizando o quarto do bebê como Louise havia pedido e estávamos arrumando e desarrumando desde cedo, sem chegar a uma conclusão. Mas finalmente parecia que tínhamos chegado a um consenso. Olhamos o quarto da porta sorrindo satisfeito e Gabriel entrou correndo no quarto com um telefone na mão.

- Mamãe está tendo o bebê, temos que ir para o hospital! – ele gritava e pulava
- Ok, calma, nós vamos para o hospital, mas antes ligue para o Renato e peça pra ele pegar o Nicholas. Eu vou ligar pra Susan.

Ben correu em casa para ligar para Renato e minutos depois ele estava de volta com Nicholas. Susan chegou apressada com Lucas no apartamento e foi trocar de roupa. Não parava de consultar o relógio e apressá-los, mas parece que quanto mais urgente é a coisa, mais as pessoas demoram.

- Scott, onde está o Scott?? – Falei andando de um lado para o outro – Você não o avisou? Ele não vai nos perdoar se esquecermos dele!
- Scott está com a Louise, Remo – Ben falou pacientemente, rindo – Calma, vai dar tudo certo.
- Ei Remo, olha só o que legal a foto do quarto que vocês arrumaram – Renato falou empolgado, com uma câmera na mão
- Deixe para o carro! – respondi em tom de aviso, nervoso – NICHOLAS, GABRIEL, LUCAS, SAIAM DA GELADEIRA!
- O que foi? Lanche pra viagem... – Nicholas deu de ombros com um sanduíche enorme na mão
- Minha irmãzinha vai nascer! – Gabriel falou empolgado, comendo um pacote de biscoito
- SUSAN! O que está fazendo? Estamos indo para um hospital! – puxei-a para fora do apartamento apressado. Ela estava se maquiando
- O que é? Tem médicos em hospitais! Estou divorciada, não morta!
- Ok, todos aqui, vamos! – Ben falou animado me ajudando a empurrar todos para escada abaixo, já que o elevador estava parado

Todos começaram a descer as escadas falando alto e animados e ia logo atrás, mas não cheguei a descer 2 lances e voltei para no corredor, estático. Ben voltou e me encarou, esperando uma explicação.

- Minha filha vai nascer... – falei assustado, com olhar vago
- Vamos embora, papai – ele segurou meu ombro e me empurrou para o meio dos outros – Louise está lhe esperando, mas a Clarinha pode não esperar muito tempo...

ººº

- Ela abriu os olhos! – Ben falou baixo, mas empolgado, e todos cercaram o berço outra vez
- Ah, fechou... – Gabriel falou desanimado
- Está abrindo outra vez! – Nicholas os chamou de volta
- Oi Clarinha – Scott se aproximou do berço e falava com uma voz engraçada – Sempre que quiser doce, eu moro no andar debaixo
- Ela não precisa descer as escadas – Gabriel abaixou e ficou na altura dele, brincando com a mãozinha do bebê – Eu sou seu irmão favorito e também sempre vou ter doce escondido
- Por que ninguém tem doce escondido pra mim? Nicholas perguntou indignado
- Porque ninguém consegue esconder, você encontra todos – Ben respondeu e rimos
- Ok, já chega, parem de respirar em cima da minha filha!

Espantei todos de cima dela e Remo a pegou no colo, trazendo até mim. Ela bocejou e fechou os olhos outra vez e todos sentaram na beirada da cama para continuar babando mais um pouco. Ela era tão pequena e rosada, exatamente igual ao Gabriel quando nasceu. Mas algo me dizia que era apenas nisso que eles seriam parecidos. Chame de premonição, palpite ou a boa e velha intuição de mãe, mas sabia que aquele bebê dormindo no meu colo, parecendo um anjinho, me daria muito trabalho...

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