Wednesday, August 27, 2008

Depois do susto que foi o nascimento de Haley, e depois de saber que Alex já estava melhor, resolvi visitar Sam em Londres. Ela já havia passado do prazo final da gravidez e para evitar que a criança nascesse sem pai, atendi seu apelo para que fosse até lá passar uns dias. Eles já sabiam que ia ser outro menino e ainda não haviam conseguido entrar em um consenso quanto ao nome. Josh queria que a criança tivesse seu nome, e Sam preferia um nome só do bebê, mas não sabia qual. Estava lá há quatro dias e ela já começava a entrar em desespero, com a alteração de humor em seu ultimo nível...

- Tio Scott, como é mesmo que brinca disso? – Chris parou do meu lado na sala com um barbante na mão, os dedos presos nele
- Como você conseguiu se amarrar assim? – desatei os nós e comecei do zero – Acompanha meus dedos, é fácil fazer uma cama de gato...

Refiz a brincadeira devagar dessa vez e Chris conseguiu imitar meus gestos. Sam apareceu na sala, suas mãos apoiadas na coluna e andando na velocidade de uma tartaruga. O menino levantou feliz e estendeu as mãos presas com o barbante pra mãe.

- Olha mãe, consegui! Fiz uma cama de gato! – disse orgulhoso
- Que lindo, meu filho. Parabéns... – Sam bagunçou o cabelo dele e Chris correu gritando pelo pai – Me empresta a sua, Cott?
- Pra que? Quer brincar de cama de gato também?
- Não, quero me enfocar com ela.
- Ai Sam, que horror! – disse rindo
- Cott, esse bebê não quer sair! Eu não tenho mais posição, tudo é desconfortável!
- Ora Sam, entenda o lado dele. Foi uma casa tão boa e quentinha por 9 meses, que ele não quer deixar ela.
- Oh que lindo, olha só você inventando besteira pra me animar... – ela se largou no sofá do meu lado e apertou minha bochecha
- Disponha...
- Se ao menos estivesse trabalhando... – disse azeda – Mas não, aquele bando de maricas não agüentam uma grávida levemente irritada e me mandaram tirar a licença e repousar!
- Levemente irritada? – ri alto – Querida, modéstia a sua, não?
- Ok, eu seu que ando sem paciência, mas já passou do prazo e nada! Por que ele não sai?? Ô BEBÊ, COLABORA COM A MAMÃE! – gritou olhando pra barriga e Josh apareceu correndo na sala, assustado – AGORA NÃO, JOSH! NÃO ME IRRITA HOJE, ISSO É CULPA SUA!
- Já chega, vamos dar uma volta! – levantei do sofá e a ajudei a levantar também – Um pouco de ar fresco vai fazer bem
- Ar fresco... Podia me sufocar logo com ele!
- Muito bem, Murta, vamos andando... – não dei bola pra irritação dela e a conduzi porta afora

Passamos a tarde toda caminhando pelos arredores do bairro dela, sempre numa velocidade reduzida por causa do barrigão. Sam reclamava, eu ouvia e debochava dela, e ela acaba rindo também. Josh merecia um pedestal, pois se essa criança não nascer logo e ele não assassinar minha amiga, vai ser santificado.

ººº

2 dias depois

Estávamos em um momento raro de paz celestial, assistindo a um filme na sala, quando Sam sentiu uma pontada. Já preparados para essa situação, Josh correu escada acima e 5 segundos depois estava de volta com bolsa e chaves do carro. Corremos para o carro e 10 minutos depois estávamos no hospital. Josh já havia testado todas as rotas possíveis e sabia o caminho mais rápido. Sam foi acomodada em uma sala com outra grávida e fiquei na recepção com Chris, esperando...

ººº

17 horas depois

- E ai? Como está se sentindo? – entrei no quarto com um copo de gelo na mão, para ela
- Cansada. Já saíram 3 grávidas em trabalho de parto, e eu ainda estou aqui! A última nem deitou na cama, entrou e saiu! Eu juro que se vier mais alguma...
- E o que o médico disse? Ele explicou essa demora toda?
- Disse que é normal, que estou com 3 cm de dilatação. Qual é, o bebê não é tão grande, 3 cm é o que? Isso? – e chutou a medida exagerada com a mão
- Na verdade, 3 cm são isso... – fechei a mão dela e quando viu o tamanho certo, se jogou pra trás na cama. A noite vai ser longa...

ººº

29 horas depois... E nada de bebê!

- Sam, abre as pernas ai! – levantei da cadeira do quarto impaciente, com um instrumento perigoso na mão – Vamos dilatar isso a força, essa criança vai sair agora!
- Scott, seu louco! – Sam se cobriu depressa com o lençol, assustada – Guarda isso, você sabe ao menos o que é?
- Claro que sei, só acho que nunca foi usado pra acelerar um parto... – devolvi pra bandeja e ela riu
- Aaaargh, eu não agüento mais. É oficial, ele não quer sair de dentro de mim! – Sam estava quase chorando e sentei na ponta da cama – Estou cansada, com fome, com sede... Onde está o Chris?
- Josh foi levá-lo na casa da avó, achou melhor. Hospital não é lugar pra uma criança ficar 29 horas seguidas
- Olá! – o médico entrou no quarto - Vamos ver como estamos indo?

Me afastei da cama e ele examinou Sam. Pela expressão confiante, imaginei que ele fosse dizer que ela tinha chegago aos 50 cm de dilatação, que poderia parir um elefante.

- Quanto? Já dá pra tirar essa criança teimosa? – Sam perguntou esperançosa
- 5 cm – respondeu – Agüente mais um pouco, Samantha.
- E que opção eu tenho? – disse sem paciência e o médico saiu do quarto. Peguei o instrumento na mesa outra vez e olhei pra ela
- Tem certeza que não quer que eu ajude?
- Vai buscar outro copo de gelo pra mim, seu palhaço!

Sacudi a cabeça fingindo indignação e sai do quarto pela enésima vez desde que chegamos, 29 horas atrás...

ººº

36 horas depois...

- Muito bem, Samantha! – o médico cobriu a perna dela outra vez – Está na hora! Vamos?
- AHA! Ganhei de você, otária! – Sam apontou rindo para uma nova grávida que entrava no quarto e a mulher se assustou

Enquanto o enfermeiro empurrava a maca dela pra sala de parto, corri até a lanchonete para chamar Josh. Ficamos os dois com ela na sala, depois de todo esse martírio. Os médicos preparavam tudo e Sam acompanhava o movimento procurando alguma coisa.

- Doutor, não estou vendo o anestesista... – disse preocupada
- Não chamamos um, você disse que não queria tomar nada.
- Depois de 36 horas em trabalho de parto? O senhor Bebeu? EU QUERO AS DROGAS!
- Não temos mais tempo, Samantha. O bebê já vai nascer – ponderou
- Ele esperou 36 horas, 5 minutos não vão fazer diferença! Chama o anestesista!!

O medico sacudiu a cabeça e correram atrás do anestesista que estava de plantão naquele dia. E devidamente drogada, Sam não deu trabalho nenhum. Era como dopar um cão raivoso, ela ficou mansinha. Fazia o esforço necessário para empurrar a criança e gritava ocasionalmente com Josh, mas sem apresentar perigo. Quando ouvimos o choro, quis chorar junto com o bebê. Não de emoção, mas alivio pelo tormento chegar ao fim. O médico entregou o bebê a ela e parecia outra Samantha. Calma, chorando e sorrindo ao mesmo tempo.

- Sam, meu amor, ele ainda precisa de um nome – Josh trouxe o assunto de volta a tona depois de um tempo babando a cria
- Ah, escolhe o que você quiser, não me importo... – Sam, ainda dopada, respondeu sorrindo. Josh deu um sorriso perigoso e arregalei os olhos
- Er... Sam... – Josh beijou a testa dela e saiu do quarto apressado – Você autorizou Josh a escolher o nome do bebê?
- Cott, agora não... Estou tão cansada, preciso dormir... Pode apagar a luz pra mim?

A enfermeira pegou o bebê do colo dela pra limpá-lo e Sam adormeceu quase que instantaneamente. Perguntei a enfermeira onde registravam bebês e corri até lá, mas cheguei tarde demais. Josh já saia com uma certidão na mão, sorridente.

- O que você fez, Joshua? – perguntei em tom ameaçador
- Fica na sua, não fiz nada demais – se defendeu e me estendeu a certidão
- Joshua Wood Cohen Jr?? – olhei para ele incrédulo – Samantha vai assassinar você...
- Joshua é um nome lindo!
- Concordo. Pena que ninguém vá chamá-lo de Joshua, e sim de Junior. Eles fazem atestado de óbito aqui também? Dois registros em um dia só, pode ter desconto.
- Você está tentando me assustar, mas não vai conseguir. Com licença, vou ver o pequeno Joshua no berçário...

Josh guardou a certidão no envelope e saiu pelo corredor cantando. Fui atrás de um telefone para avisar as meninas que o bebê tinha nascido e aproveitei para contar mais essa. E todas foram unânimes: Sam vai matar Josh quando o efeito da droga passar.

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