Wednesday, August 27, 2008

Depois do susto que foi o nascimento de Haley, e depois de saber que Alex já estava melhor, resolvi visitar Sam em Londres. Ela já havia passado do prazo final da gravidez e para evitar que a criança nascesse sem pai, atendi seu apelo para que fosse até lá passar uns dias. Eles já sabiam que ia ser outro menino e ainda não haviam conseguido entrar em um consenso quanto ao nome. Josh queria que a criança tivesse seu nome, e Sam preferia um nome só do bebê, mas não sabia qual. Estava lá há quatro dias e ela já começava a entrar em desespero, com a alteração de humor em seu ultimo nível...

- Tio Scott, como é mesmo que brinca disso? – Chris parou do meu lado na sala com um barbante na mão, os dedos presos nele
- Como você conseguiu se amarrar assim? – desatei os nós e comecei do zero – Acompanha meus dedos, é fácil fazer uma cama de gato...

Refiz a brincadeira devagar dessa vez e Chris conseguiu imitar meus gestos. Sam apareceu na sala, suas mãos apoiadas na coluna e andando na velocidade de uma tartaruga. O menino levantou feliz e estendeu as mãos presas com o barbante pra mãe.

- Olha mãe, consegui! Fiz uma cama de gato! – disse orgulhoso
- Que lindo, meu filho. Parabéns... – Sam bagunçou o cabelo dele e Chris correu gritando pelo pai – Me empresta a sua, Cott?
- Pra que? Quer brincar de cama de gato também?
- Não, quero me enfocar com ela.
- Ai Sam, que horror! – disse rindo
- Cott, esse bebê não quer sair! Eu não tenho mais posição, tudo é desconfortável!
- Ora Sam, entenda o lado dele. Foi uma casa tão boa e quentinha por 9 meses, que ele não quer deixar ela.
- Oh que lindo, olha só você inventando besteira pra me animar... – ela se largou no sofá do meu lado e apertou minha bochecha
- Disponha...
- Se ao menos estivesse trabalhando... – disse azeda – Mas não, aquele bando de maricas não agüentam uma grávida levemente irritada e me mandaram tirar a licença e repousar!
- Levemente irritada? – ri alto – Querida, modéstia a sua, não?
- Ok, eu seu que ando sem paciência, mas já passou do prazo e nada! Por que ele não sai?? Ô BEBÊ, COLABORA COM A MAMÃE! – gritou olhando pra barriga e Josh apareceu correndo na sala, assustado – AGORA NÃO, JOSH! NÃO ME IRRITA HOJE, ISSO É CULPA SUA!
- Já chega, vamos dar uma volta! – levantei do sofá e a ajudei a levantar também – Um pouco de ar fresco vai fazer bem
- Ar fresco... Podia me sufocar logo com ele!
- Muito bem, Murta, vamos andando... – não dei bola pra irritação dela e a conduzi porta afora

Passamos a tarde toda caminhando pelos arredores do bairro dela, sempre numa velocidade reduzida por causa do barrigão. Sam reclamava, eu ouvia e debochava dela, e ela acaba rindo também. Josh merecia um pedestal, pois se essa criança não nascer logo e ele não assassinar minha amiga, vai ser santificado.

ººº

2 dias depois

Estávamos em um momento raro de paz celestial, assistindo a um filme na sala, quando Sam sentiu uma pontada. Já preparados para essa situação, Josh correu escada acima e 5 segundos depois estava de volta com bolsa e chaves do carro. Corremos para o carro e 10 minutos depois estávamos no hospital. Josh já havia testado todas as rotas possíveis e sabia o caminho mais rápido. Sam foi acomodada em uma sala com outra grávida e fiquei na recepção com Chris, esperando...

ººº

17 horas depois

- E ai? Como está se sentindo? – entrei no quarto com um copo de gelo na mão, para ela
- Cansada. Já saíram 3 grávidas em trabalho de parto, e eu ainda estou aqui! A última nem deitou na cama, entrou e saiu! Eu juro que se vier mais alguma...
- E o que o médico disse? Ele explicou essa demora toda?
- Disse que é normal, que estou com 3 cm de dilatação. Qual é, o bebê não é tão grande, 3 cm é o que? Isso? – e chutou a medida exagerada com a mão
- Na verdade, 3 cm são isso... – fechei a mão dela e quando viu o tamanho certo, se jogou pra trás na cama. A noite vai ser longa...

ººº

29 horas depois... E nada de bebê!

- Sam, abre as pernas ai! – levantei da cadeira do quarto impaciente, com um instrumento perigoso na mão – Vamos dilatar isso a força, essa criança vai sair agora!
- Scott, seu louco! – Sam se cobriu depressa com o lençol, assustada – Guarda isso, você sabe ao menos o que é?
- Claro que sei, só acho que nunca foi usado pra acelerar um parto... – devolvi pra bandeja e ela riu
- Aaaargh, eu não agüento mais. É oficial, ele não quer sair de dentro de mim! – Sam estava quase chorando e sentei na ponta da cama – Estou cansada, com fome, com sede... Onde está o Chris?
- Josh foi levá-lo na casa da avó, achou melhor. Hospital não é lugar pra uma criança ficar 29 horas seguidas
- Olá! – o médico entrou no quarto - Vamos ver como estamos indo?

Me afastei da cama e ele examinou Sam. Pela expressão confiante, imaginei que ele fosse dizer que ela tinha chegago aos 50 cm de dilatação, que poderia parir um elefante.

- Quanto? Já dá pra tirar essa criança teimosa? – Sam perguntou esperançosa
- 5 cm – respondeu – Agüente mais um pouco, Samantha.
- E que opção eu tenho? – disse sem paciência e o médico saiu do quarto. Peguei o instrumento na mesa outra vez e olhei pra ela
- Tem certeza que não quer que eu ajude?
- Vai buscar outro copo de gelo pra mim, seu palhaço!

Sacudi a cabeça fingindo indignação e sai do quarto pela enésima vez desde que chegamos, 29 horas atrás...

ººº

36 horas depois...

- Muito bem, Samantha! – o médico cobriu a perna dela outra vez – Está na hora! Vamos?
- AHA! Ganhei de você, otária! – Sam apontou rindo para uma nova grávida que entrava no quarto e a mulher se assustou

Enquanto o enfermeiro empurrava a maca dela pra sala de parto, corri até a lanchonete para chamar Josh. Ficamos os dois com ela na sala, depois de todo esse martírio. Os médicos preparavam tudo e Sam acompanhava o movimento procurando alguma coisa.

- Doutor, não estou vendo o anestesista... – disse preocupada
- Não chamamos um, você disse que não queria tomar nada.
- Depois de 36 horas em trabalho de parto? O senhor Bebeu? EU QUERO AS DROGAS!
- Não temos mais tempo, Samantha. O bebê já vai nascer – ponderou
- Ele esperou 36 horas, 5 minutos não vão fazer diferença! Chama o anestesista!!

O medico sacudiu a cabeça e correram atrás do anestesista que estava de plantão naquele dia. E devidamente drogada, Sam não deu trabalho nenhum. Era como dopar um cão raivoso, ela ficou mansinha. Fazia o esforço necessário para empurrar a criança e gritava ocasionalmente com Josh, mas sem apresentar perigo. Quando ouvimos o choro, quis chorar junto com o bebê. Não de emoção, mas alivio pelo tormento chegar ao fim. O médico entregou o bebê a ela e parecia outra Samantha. Calma, chorando e sorrindo ao mesmo tempo.

- Sam, meu amor, ele ainda precisa de um nome – Josh trouxe o assunto de volta a tona depois de um tempo babando a cria
- Ah, escolhe o que você quiser, não me importo... – Sam, ainda dopada, respondeu sorrindo. Josh deu um sorriso perigoso e arregalei os olhos
- Er... Sam... – Josh beijou a testa dela e saiu do quarto apressado – Você autorizou Josh a escolher o nome do bebê?
- Cott, agora não... Estou tão cansada, preciso dormir... Pode apagar a luz pra mim?

A enfermeira pegou o bebê do colo dela pra limpá-lo e Sam adormeceu quase que instantaneamente. Perguntei a enfermeira onde registravam bebês e corri até lá, mas cheguei tarde demais. Josh já saia com uma certidão na mão, sorridente.

- O que você fez, Joshua? – perguntei em tom ameaçador
- Fica na sua, não fiz nada demais – se defendeu e me estendeu a certidão
- Joshua Wood Cohen Jr?? – olhei para ele incrédulo – Samantha vai assassinar você...
- Joshua é um nome lindo!
- Concordo. Pena que ninguém vá chamá-lo de Joshua, e sim de Junior. Eles fazem atestado de óbito aqui também? Dois registros em um dia só, pode ter desconto.
- Você está tentando me assustar, mas não vai conseguir. Com licença, vou ver o pequeno Joshua no berçário...

Josh guardou a certidão no envelope e saiu pelo corredor cantando. Fui atrás de um telefone para avisar as meninas que o bebê tinha nascido e aproveitei para contar mais essa. E todas foram unânimes: Sam vai matar Josh quando o efeito da droga passar.

Wednesday, August 20, 2008

Do diário de Alex McGregor Warrick

Alexandra e Logan Warrick, apesar de serem bruxos, acolheram em sua casa um menino de 9 anos, chamado Ethan. Ele era um órfão trouxa, então eles decidiram que para bem estar do garoto seria bom viverem como trouxas, para que ele não se sentisse deslocado. Claro que vez ou outra usavam magia, mas nada que abalasse a confiança e a segurança do menino. Afinal as crianças trouxas também acreditam em magia e contos de fada.
Cama quente, boa comida, riso, e muito, mas muito carinho vindo de ambas as famílias, era que havia de sobra naquela casa enorme e Ethan era amado como se fosse um deles.
A vida de Ethan na casa dos Warrick era o que os trouxas chamavam de “paraíso”. Até que...


Dizia Olivier Viera, que era o nosso advogado na Suprema Corte dos Bruxos, na abertura do julgamento da custódia de Ethan. Ele seria chamado para dar depoimento, estava numa sala separada e para nossa tranqüilidade Megan estava com ele, junto com uma assistente do advogado da outra parte. Nem todos da família puderam estar presentes no tribunal, pois era muita gente. Então nos espalhamos pelos corredores e antes de entrarmos na sala, Scott apareceu correndo, me fazendo sorrir de orelha a orelha, enquanto o abraçava:
- Não achei que viesse, Cott.
- Claro que eu tinha que vir, ou Louise e Yulli não iam me dar sossego. Elas estão na fase coruja com os bebês, varando a noite acordadas, então têm tempo de implicar com tudo e todos, e Sam está no mesmo caminho, o coitado do Josh já garantiu um lugar no céu, por 3 vidas, isso porque ainda não nasceu. E eu precisava de uma folga, afinal a sua é só o mês que vem, graças a Merlim. O Ben, está lá para dar cobertura e está adorando trocar fraldas. E eu quero saber todos os detalhes desta custódia, quero encarar bem a ladra de criancinha. (tomou fôlego):
- Oi futura Miss Milho, tio Cott chegou para mimar você, espera pra ver as coisas lindas que eu comprei. - disse enquanto me abraçava e beijava a minha barriga.
- Vamos andar um pouco, estou com dor nas costas por ficar sentada por muito tempo. - Peguei no braço dele e ficamos andando pelo corredor e rindo das coisas que ele ia contando enquanto esperávamos a decisão do juiz.
Quando o juiz disse que Ethan tinha deixado bem claro que havia escolhido ficar conosco, o advogado da família Selwyn até tentou protestar, mas o tal de Dunstan, pôs a mão no braço dele e ele se calou. Ethan correu para nós e nos abraçou, todo contente. Viera aproveitou a decisão favorável e passou ao juiz o pedido para que Ethan pudesse usar o nosso sobrenome.
Wilhelmina saiu de nariz empinado, e Dunstan ficou parado nos olhando, e veio falar conosco. Quando se aproximou Megan, que estava comemorando conosco, andou rápido até e deu-lhe um tapa no rosto, que ele recebeu sem reagir:
- Isso é por quase ter matado os meus filhos. - enquanto Ethan se aproximava mais de nós.
- Sei que o que eu fiz foi imperdoável senhora McGregor, mas eu acreditava sinceramente que estava recuperando o filho de meu primo. Tia Wilhelmina, inventou muita coisa e durante o julgamento a verdade apareceu. Fico feliz pelo Ethan ter conseguido ficar com vocês. Serão a família que ele precisa. Talvez possamos ter uma convivência pacífica.
- Não força, Dunstan. Não somos tão civilizados assim. - disse Logan e o homem se calou sem graça, e foi embora.
Chegamos no rancho e já havia um churrasco em andamento, e a casa para variar estava cheia, e logo estávamos todos rindo, brincando, e fazendo planos, e vez ou outra sentia minhas costas incomodarem. Como não era nada realmente incômodo, não liguei e continuei na festa. Fomos dormir muito tarde, e muito felizes...

-Ai...- olhei para o lado e Logan continuava dormindo apesar do meu evidente desconforto.
Aquele ar descansado dele, enquanto eu estava exausta me irritou, e ‘pof’, foi o barulho que fiz ao socar o braço do Logan.
- Alex? O que foi? perguntou Logan acordando assustado do meu lado.
- Estou com dor nas costas Logan, acho que o travesseiro está baixo.
- Você esta dormindo com 3 travesseiros, quase sentada...
- Meus travesseiros estão te atrapalhando??- disse sentindo mais uma fisgada forte nas costas.
- Talvez eles estejam altos demais... - então ele me ajudou a me deitar sem os travesseiros e eu comecei a me debater, parecendo uma tartaruga de casco para baixo, e ele me levantou preocupado:
- O que foi agora?
- Senti falta de ar...E você demorou para me levantar. - e belisquei o braço dele que me olhou chocado:
- Mas eu te levantei logo...
- Foi a dor nas costas, reação automática. Preciso andar um pouco...Acho que vou pedir pro Scott fazer aqueles bolinhos de chuva dele, estou com fome...
- Você acabou d comer churrasco, pode fazer mal.
- O churrasco já era, quero comer bolinho de chuva e quero que o Scott faça, o dele é mais gostoso. Ai! - e me dobrei com dor, e comecei a suar. Logan ficou apavorado:
- Alex, o que você tem? Isso é mais sério que uma dor nas costas...
- Chama o Scott...
- Vamos para o hospital...
- Chama o Scott agora! - gritei com ele e o empurrei com força, e ouvimos um barulho de água correndo.
- Tá feliz agora Logan? Fez a bolsa d’agua estourar. Chama o Scott agora, ou juro que deixo esta criança nascer sem pai.
Logan que estava pálido, saiu correndo e pelo barulho acabou acordando as outras pessoas, Scott veio rápido e ao me ver apoiada na cama, fazendo respiração cachorrinho, olhou no relógio e mediu o tempo da contração. Quando respirei aliviada, ele assumiu as coisas:
- Quanto tempo Alex?
- Acho que menos de 10 minutos, ainda é cedo para ela nascer Cott.- disse com medo.
- Minha cara, se a sua filha resolveu nascer agora, é porque está pronta. E você vai tirar isso de letra... Lembra que com o Ty, você estava no meio do mato...Aqui você está... (olhou em volta). Num rancho cheio de vacas premiadas. - tentou fazer graça e ri.
Não demorou muito e Virna e Amélie, mãe do Logan, apareceram junto com Consuela, a cozinheira do rancho. Riven entrou no quarto todo preocupado, querendo me examinar. Olhei feio, enquanto bufava entre as contrações que estavam mais próximas:
- Se você chegar perto de mim Rivendel, vou te renegar.
- Mas tia, Alex, sou um curandeiro experiente... E se precisar de uma cesariana?
- E é meu sobrinho, troquei suas fraldas, e não vou deixar você me vendo botar um filho no mundo. Se precisarem me cortar, sua avó usa um facão, uma foice, mas você não encosta em mim. Fora!
Logan, entrou e eu o expulsei com uma voz bem forte. Depois que Virna me examinou e viu que o bebê já estava a caminho, mandou que trouxessem as coisas e disse que a hora havia chegado. Olhei para Scott e ele disse pálido:
- Não sei o que fazer, nunca ajudei nem em parto de cachorrinho, quanto mais de gente.
- Não se preocupe Scott, Alex já esta fazendo tudo sozinha, basta você segurar a mão dela, e fazer o que eu mandar ok?- disse Virna para o acalmar.
- Logan quer ficar com você Alex, ele pode ajudar...- disse Amélie, e eu repondi irritada:
- Ele já fez o bastante quando me engravidou naquela piscina em Hogwarts, deixa ele lá fora.
Foi a meia hora mais longa da minha vida. Suei, mordi, gemi, belisquei e acho que desloquei o braço de Scott, quando ouvimos o choro mais bonito do mundo. Logan invadiu o quarto, na hora em que ela colocava minha menininha em cima da minha barriga. Ele me olhou todo emocionado, e eu disse rindo e chorando ao mesmo tempo:
- Venha conhecer sua filha cowboy.
Ele se aproximou cuidadoso e meio sem jeito a pegou no colo.
- Bem vinda ao mundo Haley! Eu sou o seu pai.
Depois de todos darem uma olhada no bebê e Scott mergulhar a mão numa solução de murtisco, para aliviar as dores, Logan colocou a pequenina adormecida ao meu lado na cama e disse rouco:
- Nós temos uma menina e um menino, tudo isso no mesmo dia. É muita coisa não?
-Sim, agora eu só quero dormir pelas próximas 10 horas...
Mal sabiamos que Haley McGregor Warrick, não conhecia o significado das palavras: sono tranqüilo.

Monday, August 11, 2008

Segunda-feira, 11 de Agosto de 1999

- Qual cor fica melhor, verde ou amarelo? – Estendi dois vestidinhos para Scott, em duvida
- Verde, definitivamente – disse pegando da minha mão e jogando no carrinho – Amarelo a menina vai ficar parecendo um canário.
- É por isso que adoro fazer compras com você.
- Também adoro ir às compras com você, mas bem que podíamos ter começado a fazer esse enxoval mais cedo, não? O shopping está absurdamente lotado para uma segunda-feira e você com esse barrigão de 9 meses está retardando o processo.
- Pare de reclamar, não tive tempo de fazer isso antes. E não estou andando tão devagar assim, seu exagerado.
- Ah não, claro – Scott largou as sacolas e agachou, me imitando – Ai Cott, espera, meus pés estão doendo. Droga, porque os pés incham?
- Idiota – o acertei com as roupas, mas ri – Vamos logo, ainda temos que escolher um monte de coisa.

Ele recolheu as sacolas do chão e fomos para o caixa pagar a pilha de roupas que estava embolada no carrinho. Não havia tirado meus dias de folga no trabalho por opção, então não havia tido tempo de pensar em absolutamente nada além dos móveis do quarto do bebê. E como meu chefe me obrigou a tirar folga assim que completei meus 9 meses, viemos às compras. Pagamos tudo depressa e fomos para outra loja, menos cheia dessa vez. Scott foi logo escolhendo bichos de pelúcia lindos e empurrando na minha mão, quando senti uma pontada na barriga. Soltei a girafa de pelúcia que abraçava e minha mão automaticamente segurou a barriga. Olhei para o chão e vi que estava molhado. Scott me olhou alarmado e soltou tudo que estava segurando na mesma hora, me amparando e abrindo caminho na loja, gritando que eu estava em trabalho de parto. As pessoas com medo foram abrindo quase um corredor para passarmos e eu não sabia se mantinha a mão na barriga, respirava, andava ou segurava as sacolas de compras.

Fizemos o trajeto shopping-hospital em tempo recorde. Scott ia dirigindo feito um louco na rua, a mão colada na buzina para que saíssem da frente. Em determinado trecho ele colou numa ambulância e aproveitou o caminho que ela abria para fugir do transito. Ele saiu do carro gritando quando paramos na porta do hospital e um enfermeiro veio correndo com uma cadeira de rodas.

- Rápido rapaz! – Scott falava agitado com o enfermeiro – A bolsa dela já estourou, a criança já deve ta saindo!
- Scott, calma! – gritei e ele parou de falar. Estava muito mais calma que ele – Eu estou bem, o bebê não vai cair no meio do corredor, infelizmente não é tão simples assim. Preciso que você avise ao Remo. Pode fazer isso sem deixá-lo apavorado?

Ele assentiu com a cabeça suando um pouco e ri. O enfermeiro me empurrou para dentro do hospital e ia preenchendo a ficha enquanto ele caminhava do meu lado dando instruções pro pobre homem. Scott só sossegou mesmo quando viu que Patrícia já havia me visto e assumiu o controle. Acabamos expulsando ele do quarto e ele saiu dizendo que ia avisar ao Remo. Espero não ter que gritar com ele também...

ººº

- Teve alguma noticia do Ethan? – perguntei a Ben enquanto estudava o quarto
- Sim, voltei ontem já tarde do Texas e descobrimos que quem o levou foi a avó. Alex está péssima, e isso pode fazer mal ao bebê – ele parou e olhou em volta – O que acha do berço daquele lado?
- Vamos ver como fica – Peguei uma ponta e ele a outra – Ao menos já sabem com quem ele está. Se ela é mesmo uma bruxa fica mais fácil rastrear. Essa lei de ascendência obrigou o ministério a catalogar todas as famílias desde quase a era dos dinossauros!

Erguemos o berço e colocamos na parede vazia. Estávamos reorganizando o quarto do bebê como Louise havia pedido e estávamos arrumando e desarrumando desde cedo, sem chegar a uma conclusão. Mas finalmente parecia que tínhamos chegado a um consenso. Olhamos o quarto da porta sorrindo satisfeito e Gabriel entrou correndo no quarto com um telefone na mão.

- Mamãe está tendo o bebê, temos que ir para o hospital! – ele gritava e pulava
- Ok, calma, nós vamos para o hospital, mas antes ligue para o Renato e peça pra ele pegar o Nicholas. Eu vou ligar pra Susan.

Ben correu em casa para ligar para Renato e minutos depois ele estava de volta com Nicholas. Susan chegou apressada com Lucas no apartamento e foi trocar de roupa. Não parava de consultar o relógio e apressá-los, mas parece que quanto mais urgente é a coisa, mais as pessoas demoram.

- Scott, onde está o Scott?? – Falei andando de um lado para o outro – Você não o avisou? Ele não vai nos perdoar se esquecermos dele!
- Scott está com a Louise, Remo – Ben falou pacientemente, rindo – Calma, vai dar tudo certo.
- Ei Remo, olha só o que legal a foto do quarto que vocês arrumaram – Renato falou empolgado, com uma câmera na mão
- Deixe para o carro! – respondi em tom de aviso, nervoso – NICHOLAS, GABRIEL, LUCAS, SAIAM DA GELADEIRA!
- O que foi? Lanche pra viagem... – Nicholas deu de ombros com um sanduíche enorme na mão
- Minha irmãzinha vai nascer! – Gabriel falou empolgado, comendo um pacote de biscoito
- SUSAN! O que está fazendo? Estamos indo para um hospital! – puxei-a para fora do apartamento apressado. Ela estava se maquiando
- O que é? Tem médicos em hospitais! Estou divorciada, não morta!
- Ok, todos aqui, vamos! – Ben falou animado me ajudando a empurrar todos para escada abaixo, já que o elevador estava parado

Todos começaram a descer as escadas falando alto e animados e ia logo atrás, mas não cheguei a descer 2 lances e voltei para no corredor, estático. Ben voltou e me encarou, esperando uma explicação.

- Minha filha vai nascer... – falei assustado, com olhar vago
- Vamos embora, papai – ele segurou meu ombro e me empurrou para o meio dos outros – Louise está lhe esperando, mas a Clarinha pode não esperar muito tempo...

ººº

- Ela abriu os olhos! – Ben falou baixo, mas empolgado, e todos cercaram o berço outra vez
- Ah, fechou... – Gabriel falou desanimado
- Está abrindo outra vez! – Nicholas os chamou de volta
- Oi Clarinha – Scott se aproximou do berço e falava com uma voz engraçada – Sempre que quiser doce, eu moro no andar debaixo
- Ela não precisa descer as escadas – Gabriel abaixou e ficou na altura dele, brincando com a mãozinha do bebê – Eu sou seu irmão favorito e também sempre vou ter doce escondido
- Por que ninguém tem doce escondido pra mim? Nicholas perguntou indignado
- Porque ninguém consegue esconder, você encontra todos – Ben respondeu e rimos
- Ok, já chega, parem de respirar em cima da minha filha!

Espantei todos de cima dela e Remo a pegou no colo, trazendo até mim. Ela bocejou e fechou os olhos outra vez e todos sentaram na beirada da cama para continuar babando mais um pouco. Ela era tão pequena e rosada, exatamente igual ao Gabriel quando nasceu. Mas algo me dizia que era apenas nisso que eles seriam parecidos. Chame de premonição, palpite ou a boa e velha intuição de mãe, mas sabia que aquele bebê dormindo no meu colo, parecendo um anjinho, me daria muito trabalho...

Saturday, August 09, 2008

Diário de gravidez

Por Yulli Hakuna Menken

Seis meses atrás, três meses de gestação...

- Já podemos ver o sexo? – Sergei perguntou entusiasmado enquanto Yuri passava uma pasta gelada na minha barriga, para a ultra-sonografia.
- Talvez. Já deu tempo de crescer um pouco, mas não sei se o suficiente...
- Mas se for homem e puxar o pai, já vamos ver agora. Será bem evidente. – ele disse orgulhoso e virei os olhos. Yuri riu.

Quando ligou o monitor, não disse nada por vários minutos.

- Então? Vê três pernas aí? – Sergei perguntou brincalhão, interrompendo o silêncio tenso. Yuri nos encarou assustado, mas sorrindo.
- Não. Vejo nitidamente quatro pernas. Acho que devo dar os parabéns, mas vocês vão ser pais de gêmeos. E pelo que vejo aqui, um casal...

A primeira reação de Sergei foi dar uma gargalhada estrondosa. A minha foi arregalar os olhos e encarar Yuri, como se ele fosse começar a rir da piada a qualquer momento. Mas não aconteceu. E só para comprovar, ele nos mostrou no monitor as duas “sementinhas” desenvolvidas no meu útero. Eu seria mãe de gêmeos.

Cinco meses atrás, quatro meses de gestação...

- Tem certeza de que está se sentindo bem? Se quiser ir para casa, eu cuido de tudo aqui.
- Já disse que estou bem, Sammy. Foi só um enjôo. É normal na gravidez. De qualquer maneira, não posso ir para casa agora. Se esqueceu que os correspondentes da Birmânia vão vir negociar as taxas alfandegárias?
- Seus enjôos não estão demorando a passar? Li em uma revista que enjôos de gravidez geralmente duram até os dois meses... – ele insistiu soando preocupado e ri.
- Geralmente não é sempre. Depende de cada grávida. Além do mais, tenho direito de me enjoar por dois, não tenho? – completei sorrindo e ele forçou um, em resposta. - Você não deveria estar fazendo aqueles relatórios? Temos uma reunião importantíssima daqui a pouco.
- Mas...
- Sem ‘mas’, Sammy. Vá trabalhar. Eu estou muito bem. Sério. – insisti com um leve tom de impaciência quando ele pareceu não se convencer. Sacudiu os ombros e saiu da sala.

Mal tive tempo de pegar o telefone e a porta foi novamente aberta, com urgência. Sergei entrou afoito e respirando com dificuldade.

- Você está bem??? – perguntou desesperado com as duas mãos apertando o peito.
- Estou. O que você está fazendo aqui?
- Pedi para que Sammy me ligasse se alguma coisa acontecesse. Ele me disse que você se enjoou. Vim correndo.
- A Academia de Aurores não tem mais nada para fazer? Só tive um enjôo. Não é o primeiro...
- Esses seus enjôos estão demorando muito a passar. Temos que falar com o Yuri. Li em uma revista que eles geralmente acabam...
- ... com dois meses de gestação. Já sei. Você e o Sammy estão tendo muito tempo ocioso para lerem revistas.
- Por que não fazemos assim: como eu já tirei o restante da tarde de folga, podemos ir pra casa, pedir um yakisoba, assistirmos filmes... Eu, você e as crianças. – ele disse sorrindo e passando a mão na minha barriga.
- Você pode até estar de folga, mas eu não estou. Muito pelo contrário. Tenho muito trabalho para fazer.
- Se dê folga! Você é ou não a chefe dessa empresa?
- E agora ser chefe significa ser à toa? Vá pra casa, durma, leia revistas de gravidez e livros de auto-ajuda sobre “como educar gêmeos” e “como lidar com adolescentes” e de noite, quando chegar, pedimos a comida, assistimos os filmes, e tudo o mais. Eu, você, Keiko e Hiro.

Ele já ia começar a responder, mas parou. Sorri para ele.

- Keiko e Hiro. Você já escolheu os nomes?!
- Você disse que eu podia, não disse? Se não gostou de um deles...
- São lindos. O que significam?
- Keiko quer dizer “alegre” e Hiro “generoso”.
- Perfeitos. Keiko e Hiro Vanderheid Hakuna Kinoshita Menken. – ele listou sorridente e me puxou para um beijo. Sammy abriu a porta.
- Desculpem. Yulli, a “Birmânia” já está aqui.
- Já??? – perguntei assustada consultando as horas. – São muito pontuais! Péssimo sinal. – Recolhi depressa os papéis na mesa e Sergei lançou em mim seu pior olhar de cachorro abandonado. – Nem adianta, tenho que trabalhar. Nos vemos mais tarde. – dei outro beijo e acompanhei Sammy para fora.

Três meses atrás, seis meses de gestação...

- Você não está “uma bola”! – Miyako disse cansada enquanto eu me lamentava na frente do espelho. Minha barriga tinha adquirido um tamanho assustador e havia perdido todas as minhas roupas, até as que tinha comprado um mês antes e que já eram largas o suficiente para uma “grávida normal”.
- Estou sim! Não tenho mais roupas. Estou cheia de estrias e comendo como uma desesperada. Nunca fui assim... – comecei a chorar, do nada. Nas últimas semanas, começar a chorar por qualquer coisa era uma nova mania. Miyako se levantou indo me abraçar.
- Mamãe, pare com isso! Sua barriga está linda! E é natural você estar comendo muito. Tem dois bebês aí dentro, se esqueceu?
- Como posso me esquecer se eles ficam chutando toda hora? – perguntei limpando o rosto e Miyako riu.
- Você é uma boba. Continua linda, como sempre foi.
- Sergei não acha.
- Ta brincando? Se Sergei babar mais nessa barriga, a próxima vez que vier para casa, vou trazer um bote. – ela disse sarcástica e eu recomecei a chorar. – O que foi???
- Não fale isso: “a próxima vez que vier pra casa”. Dá a impressão que ainda vai demorar. Sinto tanto a sua falta...
- Eu também mãe, mas não posso sair de Beauxbatons todo final de semana. Máxime está sendo muito boazinha me liberando com tanta freqüência...

Não disse nada, mas a abracei com mais força, ainda chorando. Miyako deixou que ficássemos assim por vários minutos. Quando Sergei chegou em casa, subiu para o quarto radiante, com várias sacolas na mão.

- Olhem o que eu comprei para os bebês! – ele virou as sacolas na cama e estendeu um vestidinho azul claro com um brasão de flecha prateada. E logo em seguida, um short e camiseta minúsculos, da mesma cor e brasão. – Uniformes do Appebly Arrows!
- NÃO!!! – Miyako protestou. – Eles vão torcer para o Quiberon Quafflepunchers, não vão, bebezinhos? – ela perguntou para meu umbigo com uma voz mansinha. Sergei protestou com um resmungo. – Qual é, Sergei! Appebly Arrows está falido. O torcedor mais novo do time deve ser você...
- Querem parar, vocês dois? Eles vão torcer para os times que quiserem. Eles têm livre arbítrio, sabiam? E se não gostarem de quadribol? Vocês vão ignorá-los, por causa disso? – falei em atropelos e sem pensar enquanto lágrimas caíram com mais freqüência. Sergei se apressou a me consolar e vi Miyako guardar as roupas nas sacolas e sair do quarto.
- Eu vou amá-los de qualquer jeito, mesmo que eles não gostem de quadribol e não queiram ser aurores. Aliás, se eles não quiserem, vou amá-los mais ainda. – Sergei disse enquanto me abraçava e limpava meu rosto. Ri. – Fique calma, ok? Nós vamos nos sair bem...

Dois meses atrás, sete meses de gestação...

- Nós estamos nos saindo muito piores do que imaginava! – falei desesperada tentando lacrar a fralda no boneco da maneira como a instrutora ensinara minutos atrás. Sergei estava parado ao meu lado sem saber como ajudar. Os outros casais já haviam terminado e nos observavam reprovadores.
- Esses “trouxas” realmente são impressionantes. – Sergei cochichou no meu ouvido, espantado. – Temos mesmo que aprender a lacrar fraldas manualmente? Temos varinhas...
- Nós temos! Agora quer fazer o favor de me ajudar com isso? – perguntei nervosa e em voz alta e Sergei se apressou a me acudir. Com muito custo, conseguimos, embora tivesse ficado bem torta em comparação aos outros.
- Ótimo. Próxima etapa: banho. Tirem a fralda do boneco e levem eles até a banheira. Vou ensinar, passo a passo. – A enfermeira disse paciente e com um único puxão, arranquei a fralda recém-lacrada. – O pai segura o bebê de bruços e a mãe pega o sabonete, passa em suas próprias mãos e esfrega no corpo do bebê, tomando cuidado com as orelhas, olhos, nariz e boca.

Sergei segurou o boneco de barriga para baixo e eu ia ensaboando ele bem devagar. Quando fui ensaboar o rosto, no entanto, Sergei se descuidou com o embaraço de nossos braços e o boneco caiu na banheira de rosto pra baixo e a água o cobriu. Foi um minuto tenso. Os outros casais, assim como a enfermeira, pararam e ficaram olhando o boneco boiar na água. Eu e Sergei nos encarávamos em silêncio e sem reação. Sem agüentar a pressão do local, sai correndo sem dizer nada. Ouvi Sergei vir atrás de mim.

- Yulli, espera! Você não pode correr assim! – ele me alcançou segurando meu braço e me fazendo parar. Respirava depressa e estava chorando.
- Você...afogou...nosso...filho! – disse entre soluços enterrando o rosto nas mãos.
- É só um boneco. – ele respondeu se aproximando e pulei para trás.
- Era nosso filho representativo. Se conseguimos afogar um boneco na banheira, não sei como esses dois aqui vão sobreviver! – gritei exaltada no estacionamento e algumas pessoas observavam.
- Você está exagerando... Não pode ficar tão nervosa assim. – Sergei disse baixo, olhando ao redor e para mim em seguida. – É só eu não dar banho neles. Está bom assim? – ele perguntou incerto e recomecei a chorar.
- Você já está desistindo! Sabia que você desistiria. É muita pressão para você não é? Dois filhos de uma vez. Sem contar que eu estou redonda e azeda, exatamente como um limão.
- Não estou desistindo! Não dá pra te entender! – ele disse impaciente, mas logo se arrependeu e me puxou para um abraço forte sem que eu conseguisse impedir. – Você é o limão mais bonito que já vi. Vocês três são as coisas mais importantes pra mim. – me olhava sério enquanto falava e amoleci, o abraçando com mais força.
- Vai ficar tudo bem, não vai? – perguntei insegura.
- Vai sim. Vai dar tudo certo.

14 de julho de 1999: o dia do nascimento...

- Vai dar tudo certo. Respira fundo. – Sergei falava agitado e sem parar enquanto apertava a minha mão no centro cirúrgico. Como não tive dilatação suficiente, a cesárea iria começar a qualquer momento e a anestesia já estava começando a surtir efeito.

Foi tudo muito rápido. Para mim, questão de poucos segundos. Ouvimos um choro de bebê invadir a sala e Yuri levou até mim e Sergei uma menina, ainda com os olhos bem fechados, mas bem branquinha. Miyako também estava lá, e cochichou “bem-vinda Keiko” com um largo sorriso. Alguns minutos depois, Yuri trouxe Hiro, que chorou apenas alguns segundos e depois adormeceu nos braços dele. Sergei apertava minha mão com tanta força que estava dormente, mas não importava. Foi o momento mais feliz de nossas vidas.