Friday, November 09, 2007

Brasil, 12 de Novembro de 1998

- Nicholas, já levantou? – bati na porta do quarto dele pela 3ª vez. Silêncio. – Nicholas?

Abri a porta do quarto e revirei os olhos. Um montinho ainda estava formado debaixo das cobertas. Puxei o lençol e Nicholas rolou para o outro lado. Quando me viu, fez cara de dor.

- Levanta, vai se atrasar pra escola
- Acho que estou doente, tio – falou com a voz fraca e tossiu. Tive que me segurar para não rir
- Doente? Está sentindo o que? – sentei na cama entrando na conversa fiada dele
- Meu estômago dói, acho que vou vomitar – ele tapou a boca pra dar mais realismo
- Nesse caso então melhor levar você ao hospital, vão colocá-lo no soro e logo vai ficar bom – já fui levantando da cama e ele sentou com os olhos arregalados
- Soro? Com agulha? – perguntou assustado e confirmei com a cabeça, ainda sério – Acho que não é para tanto, tio. Se eu ficar deitado aqui vai passar
- Boa tentativa – arranquei o lençol que ele puxou de volta e caminhei até a porta – Sai dessa cama e vai tomar banho, você vai pra escola. Vamos sair em meia hora e se tiver na cama ainda, levo você de pijama mesmo

Fechei a porta do quarto e agora tinha certeza que ele estaria na sala em meia hora de uniforme e mochila nas costas, então fui preparar o café. Tinha uma carta da Louise na bancada e li enquanto comia as torradas. Pelo que lia, eles estavam se divertindo muito com as Olimpíadas e Ben chegou a dar uma entrevista a uma amiga dos meninos de Beauxbatons. Em outro envelope tinha uma carta dos meus sobrinhos, pedindo que eu fosse até lá vê-los competir. Todos já tinham conquistado alguma medalha, com exceção de Chloe e Bridget, que só competiriam no último dia. Ainda dava tempo de vê-las e começava a repensar sobre ir até lá quando o telefone tocou. Era meu pai.

- Oi pai, tudo bem?
- Oi meu filho, está tudo indo... E você, como está? – a voz dele tinha um tom de preocupação diferente e não entendi o motivo
- Eu estou bem, na medida do possível.
- Pois é, eu fiquei sabendo pelos jornais. Por que não me contou, filho? Eu sinto muito.
- Pai, do que o senhor está falando? Andou colhendo aqueles cogumelos alucinógenos que Wayne deixou nos terrenos da casa antes de se mudar?
- Não precisa agir com sarcasmo pra amenizar a dor! Sei que um rompimento sempre é doloroso e sei o quanto você gosta do Ben!

Um minuto de silêncio. Ouvi meu pai se mexer do outro lado da linha parecendo desconfortável com o assunto e pensei alguns segundos no que ele tinha dito para ver se não tinha perdido alguma coisa, então comecei a rir.

- Pai, sério, do que está falando? Ben e eu não nos separamos, onde ouviu isso?
- Mas meu filho, saiu até no Profeta Diário, não tem lido o jornal? – ele parecia surpreso com a afirmação de que estávamos bem e aliviado ao mesmo tempo
- Não, não tenho lido nenhum jornal esses dias. Explica isso direito!
- Bem, estão dizendo que ele tem outra, a mãe do Nicholas
- Então Ben morreu e esqueceram de me avisar, e encontrou a mulher no além. Até onde sei, ela morreu!
- Olha, não sei explicar, mas está passando a entrevista que ele deu pra alguém de Beauxbatons na RRB. Ligue o rádio e vai entender melhor que eu, a memória do velho não anda boa
- Ok, não sai da linha, vou ligar o rádio

Sintonizei o rádio da estação da RRB e parecia já estar terminando. Ouvi a entrevistadora, que pela voz não devia ter nem 18 anos ainda, fazendo as perguntas e Ben respondendo. Sentei no sofá para ouvir com mais atenção.

‘E essa foi a entrevista com meu ídolo, e com o ídolo de várias outras pessoas por aqui, tenho certeza. Mais uma vez, gostaria de agradecer ao apoio de todos, aos meus amigos que intercederam para a realização desse sonho, ao Ben por ser tão simpático e maravilhoso... Mas, além dessa entrevista, há ainda algumas curiosidades sobre Ben que gostaria de compartilhar... Durante toda a semana eu me propus a perseguir Ben por todos os lugares, saber dos seus gostos, seus costumes... Seus segredos. Mesmo que ele não tenha visto, mesmo que ninguém tenha reparado. Devo dizer: há muito mais sobre Ben O’Shea do que cabem nossas vãs idolatrias!’

Me mexi no sofá curioso. Essa menina me pareceu maluca. O que ela aprontou? Que curiosidades sobre Ben ela tem pra contar?

‘Ben O’Shea, como ele mesmo disse, ama muito alguém. E agora, caríssimos ouvintes, eu tenho a honra de dizer quem é a felizarda de tanto amor e tanta sorte. Seu nome e sua identidade não são ocultos. Muito pelo contrário. A sortuda atende pelo nome de Alexandra Selene McGregor, e está trabalhando como Chefe de Segurança das Olimpíadas, junto com Ben.’

Mais um minuto de silêncio. Meu pai engasgou do outro lado da linha e senti uma lágrima escorrer no meu rosto. Em seguida explodi em gargalhadas incontroláveis. Ela era louca! Ben de caso com Alex? Era a piada do ano! Com certeza todos estão dando muita risada disso, menos Alex e Ben, claro. Pobre garota, acabou de assinar a sentença de morte. Ela continuou falando e tentei controlar mais os risos para terminar de ouvir.

‘Eu sei, eu sei como vocês estão se sentindo. Também tive um momento de completa perplexidade. Mas acreditem: o romance de Ben e Alex (e acho que já tenho intimidade para chamá-la assim) é muito antigo! Fontes seguras afirmam que eles foram grandes amigos em Hogwarts e se formaram juntos. Assim como se formaram juntos na Academia de Aurores. E MAIS: Nicholas O’Shea é na verdade NICHOLAS MCGREGOR O’SHEA, filho de Alexandra e Benjamin! Se ele nasceu fruto de uma crise no casamento de Alex, ou outra coisa qualquer, não sei responder, mas Nicholas é, sempre foi, e sempre será, fruto desse amor tão intenso e duradouro entre os dois.’

Merlin! Agora ela exagerou um pouco! Meu pai começou a tossir descontroladamente na linha e recomecei a rir. Dessa vez não consegui ouvir o resto da entrevista, mas também não acho que ela possa contar mais nada de “chocante” depois da revelação que uma das minhas melhores amigas me traiu com o meu namorado e teve um filho com ele fora do casamento! Meu rosto já estava molhado de tantas lágrimas e minha barriga começava a doer por estar me contorcendo no sofá. Nem foi preciso tranqüilizar meu pai sobre o assunto, pois ele percebeu que a garota era doida e aquilo era um bando de mentira, então me despedi dele dizendo que nos veríamos em Hogwarts e desliguei o rádio.

Nicholas apareceu na sala vestido com o uniforme da escola, mochila nas costas, cara de sono e cabelo em pé.

- Estou pronto, mas não encontrei a escova para pentear o cabelo – falou bocejando
- Tudo bem, depois eu encontro. Vai trocar esse uniforme e coloca uma roupa de frio
- Hã? Por quê? Ta fazendo calor lá fora!
- Conseguiu o que queria, não vai para a escola hoje. Alias, vai faltar por uma semana. Vamos para Hogwarts!

Nicholas ficou me olhando sem entender nada, mas a parte de que ele não ia precisar ir a escola por uma semana o animou e logo correu para o quarto para se trocar. Separei algumas roupas minhas e dele, liguei para a escola para explicar que ele faltaria por uns dias e entrei em contato com o Ministério solicitando uma chave de portal. O circo estava armado nas Olimpíadas e sentado aqui esperando os relatos é que eu não fico! Eu perco o amigo, mas não perco a piada. E ainda mais uma dessas, que renderia gozações por toda a eternidade...

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