Rio de Janeiro, 14 de Novembro de 1981
- Não, claro que eu vou! Acabei de chegar em casa e vou ligar pra minha prima, ela ainda está no hospital, mas ela vai comigo sim e... – a voz da Nanda morreu quando ela entrou na sala – Arthur, eu ligo pra você depois. Lou? O que está fazendo em casa?
Nanda acendeu a luz e caminhou até o sofá onde eu estava sentada, encarando fixamente a janela. Ela parou na minha frente e tirou a caixa que eu segurava nas mãos, já quase a amassando.
- Lou... – ela olhou a caixa e me encarou de volta – Você está...?
- Não sei, não tive coragem de abrir ainda – falei finalmente, os olhos cheios de lágrima
- É dele, não é? – Nanda falava com tanta pena na voz que estava me fazendo querer morrer. Não precisei falar para ela saber qual era a resposta – Sinto muito...
Tapei o rosto com as mãos e me afundei ainda mais no sofá, começando a chorar. Nanda me devolveu o teste de gravidez que segurava e me puxou do sofá.
- Bom, você não pode ficar na incerteza esperando a barriga crescer para confirmar. Levanta daí e faz logo esse teste
- Tenho medo do que ele vai me dizer, quero muito estar errada
- Mas se não estiver, não há nada que possa fazer. Não adianta adiar, é pior...
Concordei com ela e levantei do sofá, indo até o banheiro e secando as lágrimas. Isso não podia estar acontecendo comigo...
ººº
Londres, 15 de Novembro de 1981
- Ele então me ligou, dizendo que estava preso dentro do carro e um monte de garotas de 13 anos enlouquecidas socavam o vidro querendo arrancar ele de lá!
- E o que ele fez??
- Não sei, eu estava ocupado e não podia ajudar muito. Sugeri aparatar, mas ele achou que seria falta de educação. Só pude rir da situação e deixar que ele se virasse...
- Como você é ruim, Cott! Coitado do Ben...
- Olha quem está falando, Samantha Cohen! Você também está rindo!
- Estão falando mal de quem, hein? Se bem conheço meus amigos, para rirem desse jeito, é porque estão soltando o veneno!
- Está atrasada, Alexandra... Sam e eu já estamos no 3º copo de café!
- Não amole, Cott. Experimente trabalhar no Ministério e vai ver que é impossível sair no horário...
- Não obrigado, já tive uma péssima experiência lá e não pretendo repetir
Meu espelho de duas vias começou a apitar de repente e Alex sentou, rindo junto com Sam da minha dificuldade para encontrá-lo. Quando finalmente achei, vi que era Louise.
- É a Lou! – falei animado
- Ah eu quero falar com ela! – Sam logo esticou a mão para me tomar o espelho
- Eu também quero! Diz que estamos todos com saudades! – Alex sorria animada
- Oi Lou! – atendi a chamada feliz por estar falando com ela – Como você está? Alex e Sam estão aqui na minha frente mandando beijos, antes que esqueça
- Manda um beijo pra elas também, estou com saudades de vocês – ela respondeu com um tom de voz um pouco forçado
- Está tudo bem, Lou? Sua voz está estranha...
As meninas pararam de se sacudir nas cadeiras e me encararam sérias, vendo que eu não ria mais. Lou também se calou e logo percebi que ela estava chorando. Entrei em desespero, sem saber o que estava acontecendo.
- Lou, o que houve? Por que você está chorando?
- Ah Cott, eu... – ela começou a soluçar no espelho – eu estou grávida. E não quero essa criança...
Por um instante ficamos todos calados, sem saber o que falar ou até mesmo como reagir. Normalmente deveríamos reagir a isso com alegria, mas não quando ela nos conta isso aos prantos e o pai da criança está morto. E principalmente quando ela diz que não quer ter o bebê. Foi Alex que quebrou o silencio e tirou o espelho da minha mão.
- Lou, me escuta, por favor. Sei que você está triste e tem todos os motivos do mundo pra isso, mas não faça nada que vá se arrepender depois.
- Alex eu não posso fazer isso, não vou conseguir sozinha – Louise chorava cada vez mais
- Pode sim, claro que pode. Lembra quando eu perdi o bebê, como fiquei? E não foi nada planejado, eu não queria perder ele, sequer sabia que estava grávida! Como você acha que vai se sentir se interromper isso por vontade própria?
- Eu vou olhar pra ele e lembrar do Remo... Não quero, já está muito difícil sem isso, não acho que consiga suportar. Não posso fazer isso sozinha.
- Você não está sozinha, nós estamos aqui para ajudar no que precisar – peguei o espelho de volta e a encarava sério
- Não é a mesma coisa, vocês estão muito longe. E não vou voltar a Londres, não posso
- Então eu vou até você. Já falamos sobre isso mais de uma vez e agora não vou mais dar ouvidos a você. Não vou deixar você sozinha agora.
- Você vem mesmo? – ela continuava chorando, mas parecia mais controlada – Ah Cott, você tem sua vida aí, está começando a se organizar e ...
- Não Lou, chega, já falei que vou. Não tenho nada que me prenda aqui e posso voltar sempre que quiser para ver as meninas. Só quero que você me prometa que não vai fazer nenhuma besteira até eu chegar. Pode prometer isso?
- Não vou fazer nada...
- Então amanha dê um jeito de me buscar no aeroporto, estou indo hoje a noite
- Lou, nós não podemos ir, mas vamos dar um jeito de ver você muito em breve! – Sam falou puxando o espelho e Lou sorriu pela primeira vez
- Pensa que esse foi o jeito encontrado pra manter ele vivo... – Alex apareceu no espelho também sorrindo – E com o Cott ai você não vai se sentir tão sozinha.
- Obrigada meninas... Preciso ir agora, já estou atrasada para o trabalho. Amo vocês, estou com saudades.
- Mais tarde chamo você outra vez, antes de ir embora – e ela desligou
- Ai gente, desculpa o atraso! Vocês não imaginam o inferno que foi para conseguir passar por toda aquela fiscalização com as chaves de portal! – Yulli acabara de chegar e mudou a expressão ao nos ver – Merlin, que caras! O que aconteceu??
Nós três nos encaramos mudos, ainda sem muita reação, e contamos a ela o que havia acontecido antes de sairmos os quatro do pub para o meu apartamento. Tinha apenas algumas horas para arrumar tudo que queria levar e encontrar uma passagem...
Continua...
Saturday, February 24, 2007
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