Por Scott Foutley
Havia saído de casa com o intuito de realizar a reunião que fora marcada há um mês com os funcionários do meu restaurante, mas o fato é que não consegui desenvolver os tópicos separados pelo meu puxa-saco mor. Já tinha dispensado todos para seus serviços e circulava impaciente pela cozinha, acabando por atrapalhar quem estava trabalhando. Lúcio, meu puxa-saco, entrou apavorado procurando por mim.
- Sr. Foutley tem um homem lá fora dizendo que quer falar com o senhor... Já disse que está ocupado, mas ele é insistente!
- Não deixei ninguém entrar, Lúcio! Estou falando sério! – disse sabendo de quem se tratava
- Vai ficar fugindo de mim como uma criança? – Ben falou empurrando a porta que Lúcio tentava manter fechada
- Aqui não é lugar e nem é hora para conversarmos.
- Não vou a lugar nenhum sem antes você me escutar – ele falou agarrando a camisa de Lúcio – e você me solta ou vou te dar umas porradas!
- Deixe Lúcio, solte-o... – falei cansado – por favor, nos deixem a sós um minuto.
Os funcionários que circulavam pela cozinha saíram atrás de Lúcio, que ajeitava a camisa indignado e resmungando, mas sem coragem de enfrentar Ben. Ele fechou a porta assim que eles passaram e veio caminhando na minha direção.
- O que você quer Benjamin?
- Quero que você me escute antes de sair tomando decisões precipitadas.
- Decisões precipitadas? Você só pode estar brincando!
- Sim, precipitada, pois não acredito que nesse tempo todo você não sentiu minha falta.
- Pra ser bem sincero com você, não senti não. Já estava até me perguntando se você um dia realmente tinha passado pela minha vida. Por mim, poderia ter desaparecido de vez. Volta pra sua vida, Ben. Volta pra ela e me esquece, ok?
- Não posso... – ele fez uma pausa como se estivesse escolhendo bem as palavras – a verdade é que eu menti pra você sobre a razão da minha volta...
- E posso saber qual é a verdade então? – disse já me estressando
- A verdade é que estou doente, um tumor inoperável. Voltei por que você é a única pessoa em quem confio para cuidar do Nicholas.
- O que? Está brincando, não é? – falei já com a voz falhando
- Sim, claro que estou brincando, minha saúde está perfeita! Mas viu como você sente minha falta? Já ia começar a gaguejar!
- Isso não teve graça! – falei irritado e sai andando
- Ah qual é Cott, desculpa, não era pra você ficar irritado! Volta aqui... – e me segurou pelo braço
- Como pode brincar com uma coisa dessas? Se quiser conversar desse jeito, pode ir embora. Pra fazer palhaçada basta procurar um circo.
- Ta bom, ta bom, desculpa, foi uma brincadeira de mau gosto, eu sei. Mas agora sei que você está mentindo e que sentiu sim a minha falta durante esse tempo. E sentiria se eu sumisse de novo!
- Tem uma grande diferença entre sumir no mundo e morrer! Vou perguntar outra vez: o que você quer?
- Quero a vida que tinha com você de volta. Quero que você me perdoe pelas coisas que disse.
- Ben, eu sinto muito, mas não consigo simplesmente esquecer tudo que aconteceu. Queria poder apagar tudo com essa facilidade toda, mas a verdade é que não consigo.
- Tubo bem, não estava esperando que você fosse esquecer tudo rápido, sei que você demora a digerir esse tipo de coisa. E também não estou pedindo isso.
- E o que quer que eu faça então?
- Só quero que você me dê uma chance. Uma chance pra tentar consertar tudo. Acha que consegue isso?
Ben se aproximou mais e apertou meu ombro. Estava fazendo um enorme esforço para não encara-lo, mas era impossível. Ele me olhava com aquele sorriso irônico que sempre me irritou profundamente, mas hoje não estava me tirando do sério. Não conseguia passar uma borracha em toda a confusão que nos separou, mas senti tanto a falta dele nesses meses que estava disposto a tentar superar tudo para termos nossa vida de volta.
- Vamos precisar providenciar um quarto para o menino... – falei sorrindo e ele pareceu respirar aliviado
- Ah, bom, ele não ocupa muito espaço, não vai ser difícil.
- Você tem alguma idéia de como criar uma criança??
- Só sei que preciso mantê-lo vivo e que se ele emagrecer, é porque não estou dando comida suficiente, obvio...
- Foi o que imaginei... – disse rindo – acho que um bom começo seria procurar um terapeuta pra ele.
- E por que?
- Porque? Ele acabou de perder a mãe, o pai é gay e vai ser criado por ele e o namorado! Que criatura não ia precisar de um terapeuta??
Demos risada da situação e deixei o restaurante sob os cuidados de Lúcio enquanto voltava para casa com ele para conhecer direito a criança. Não era bem do jeito que eu imaginava acertas as coisas com Ben, mas acho que vamos tirar isso de letra. E não há como negar que vai ser deveras engraçado...
Wednesday, November 01, 2006
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