Wednesday, October 25, 2006

Delicada relação

Por Scott Foutley

Havia voltado da minha corrida diária com Louise, hoje com Remo tentando nos acompanhar, e tinha uma reunião às 9hs com o staff do Underground. Tudo normal, se não fosse por um fato que em um segundo estragou todo um dia: Ben havia invadido meu apartamento e estava plantado no meio da minha sala, com a cara mais lavada do mundo. Louise foi logo abraça-lo, mas me mantive imóvel, puto.

- Não vai falar mesmo comigo? – ele falou em tom de brincadeira
- Como você entrou aqui?
- Ainda tenho a chave...
- Ah sim, claro. Pode devolve-la, por favor?
- Calma Scott, nós temos muito que conversar.
- Não me pede para ter calma, porque eu não estou nervoso. Estou calmo, pedindo calmamente que você me devolva a minha chave e saia do meu apartamento – falei serio, apontando para a porta ainda aberta.
- Cott... – Louise começou
- Olha aqui, lavei a mão dessa vez, pode ver! – uma criança gordinha saiu do meu banheiro com as mãos estendidas, mostrando-as a Ben.
- Sim, agora estamos combinados. – Ben falou parando ele – Nicholas, essa é a Louise e aquele é o Scott. Esse é o Nicholas, meu filho...
- SEU O QUE? - Louise e eu falamos ao mesmo tempo

Minha amiga tinha uma cara de espanto e a minha não devia estar muito diferente, pois fez até com que eu fosse até eles, esquecendo que estava revoltado. Ele mandou o menino ir assistir televisão e começou a explicar a complicada historia que terminava nele sendo pai. Aparentemente uma amiga dele que sempre quis ser mãe solteira conseguiu seu maior desejo numa festa há 7 anos, onde ele fez questão de ressaltar que estávamos separados na época, e só contou a ele que o porre havia dado resultado há 2 meses, pois estava para morrer. Olhei para o menino no sofá e não tinha nem o que contestar sobre a paternidade, ele era a cara do Ben!

- Vou conversar com ele um pouco, vocês dois tem muito assunto para por em dia... – Louise falou se afastando e levando o garoto pra varanda
- Filho? – falei encarando ele – Foi por isso então que voltou?
- Não, na verdade. E você sabe muito bem disso.
- Há muito tempo que não sei de nada, Ben. Nem de noticias suas! Você passou quase um ano fora sem nem dar sinal de vida.
- Eu liguei pra você, inúmeras vezes, mas você não me atendia e não retornava as ligações!
- Pra que? Pra discutirmos mais pelo telefone? As coisas já estavam ruins demais sem mais essa.
- Eu não queria ter saído daquele jeito, me senti péssimo.
- Mas não te impediu de ir, certo?
- Eu precisava ir, não tinha opção, tenho um contrato com os Duendeiros a cumprir! Quer dizer, tinha.
- Como tinha? O que quer dizer?
- Tentei falar com você antes para contar isso. Sai da banda, essa turnê foi minha ultima.
- Saiu até quando? Você não consegue ficar longe muito tempo, sabe disso.
- É definitivo, já tem ate outra pessoa no meu lugar. – ele disse agora sério – não podia mais continuar com isso.
- Bom, claro que não, você agora tem um filho e precisa cuidar dele. E não era viajando todo mês que iria conseguir isso.
- Nicholas não foi o motivo do meu desligamento da banda, Cott. Foi você.

Por que? É só isso que pergunto: por que? Por que agora, depois de tanto tempo, depois de já ter me acostumado com os fatos, de ter seguido em frente, ele me vem com essa? Continuei calado, sem me manifestar, encarando-o e deixando que ele terminasse de falar sem interrupções.

- Percebi, assim que bati aquela porta da ultima vez que nos vimos, que não queria continuar fazendo isso, ter que ir embora de repente, sem data pra voltar. Eu te amo cara, não dá pra ficar longe. E eu sei que você também pensa assim, conheço você melhor do que ninguém.
- Você acha que tudo se resolve fácil assim, não é mesmo? – não agüentei e falei – que basta voltar depois de meses e como num passe de mágico tudo que aconteceu vai desaparecer e vamos viver felizes para sempre!
- Mas as coisas são simples! A vida é simples, são as pessoas que tornam ela difícil.
- Não acredito nisso... – falei puto
- Droga Cott, você tem sempre que complicar as coisas! Sempre!
- É, eu sou um cara complexo...

Virei as costas quase bufando, apanhei as chaves do carro em cima do balcão e sai batendo a porta. Nem me despedi ou disse aonde ia, só precisava sair dali. Não podia lidar com isso, não agora. Não podia e não queria também. Minha cabeça latejava e sai batido para o restaurante. Já estava atrasado para a reunião, nem mesmo tomei banho e me arrumei, sai com a roupa do copper. Ao menos por um tempo iria me ocupar com outra coisa e não pensar no que está acontecendo.

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