Sunday, April 23, 2006

Jogo de cintura...

Por Louise Graham Storm

Voltava de uma festa de uns amigos do hospital, já passava das 3 da manha. Havia acabado de deixar uma das minhas amigas em casa e dirigia em direção a minha. Uma das pistas no caminho estava bloqueada e fui obrigada a fazer um desvio por onde os outros carros estavam passando. Liguei o rádio alto para não dar sono e quando estava cantando distraída, vi uma blitz policial logo à frente. Pensei logo: tomara que não me parem, pois bebi um pouco na festa e vão encrencar... Mas isso é Lei de Murphy, basta você torcer pra uma coisa que o contrario acontece. Um dos policiais fez sinal para que eu encostasse o carro e obedeci, preocupada.

LS: Algum problema seu guarda?
- Saia do veiculo, por favor.

Sai sem discutir, afinal, não havia feito nada de errado. Ele olhou dentro do carro com uma lanterna e ia atrás dele, conferindo se não ia deixar nada acidentalmente cair lá dentro pra pôr a culpa em mim depois. Ele parecia incomodado comigo de olho, mas resmungou algo inaudível e se virou pra mim, com um aparelho na mão.

- Vou ter que pedir que a senhora assopre esse aparelhinho.
LS: Você já começou mal, pois senhora está no céu.
- Desculpe pelo senhora então, mas ainda terá que fazer o teste do bafômetro.
LS: Olha... O senhor não me leve a mal, mas não vou assoprar nada não.
- Como não? Isso é uma ordem de uma autoridade, não estou lhe pedindo um favor.
LS: E onde diz que sou obrigada a acatar com a sua ordem? Não tenho conhecimento de lei alguma que lhe dê o direito de me obrigar a assoprar essa coisa!

O policial se enfezou e começamos a bater boca no meio da rua. Eu não ia fazer teste algum, sabia que não estava bêbada, mas ia acusar um nível baixo ali que seria o suficiente para ele querer me dar uma multa ou me arrancar dinheiro por ela. Já estava me irritando com ele insinuando que ia me levar presa por desacato a autoridade, então peguei o telefone na bolsa e liguei para o Scott, dizendo que estava chamando meu advogado.

LS: Alô? Dr. Foutley?
SF: Dr. Foutley? É você, Louise?
LS: Sim, sou eu mesma! Preciso dos seus serviços aqui. Tem um gentil senhor querendo me obrigar a fazer um teste do qual sei que não sou obrigada!
SF: Ta maluca? O quanto você bebeu? São 3 da manha... Acho que ligou errado...
LS: Sim, isso mesmo. É, pode vir aqui que estou esperando!
SF: Você ta brincando não é?
LS: Estou falando serio! Sim, isso dá processo mesmo!
SF: Ok, ok, já entendi, estou indo... Não discute mais com o guarda, não to disposto a parar numa delegacia pra te soltar...

O policial arregalou os olhos quando ouviu a palavra “processo” e Scott anotou o endereço que havia passado a ele. Fiquei encostada no carro de braços cruzados encarando ele estressada, decidida a sair dali sem levar uma multa. Não demorou nada e Scott chegou, saindo do carro com uma roupa arrumada, mas a cara que denunciava que havia sido arrancado da cama. Ele carregava uma pasta preta como se ali dentro tivessem documentos que provassem que eu não era obrigada a fazer o teste, mas sabia muito bem que o que tinha ali era a documentação do restaurante.

SF: Qual é o problema aqui, Louise?
LS: Que bom que chegou! Oi, seu guarda? Pode vir aqui um instante?
- Você está tumultuando meu trabalho, bastava apensar fazer o teste e já estaria em casa!
SF: Minha cliente não vai fazer teste de bafômetro algum, ela foi muito bem instruída e conhece seus direitos, sabe que não é obrigada!
LS: Isso mesmo! Diz a ele que posso processá-lo, Dr. Foutley!
SF: O senhor queira, por favor, soletrar seu nome, para que entre no processo?
- Não vou soletrar nada! Vou prender os dois!
SF: E sob que acusação meu senhor? Vamos ser francos, você não tem nada! Vai nos levar pra delegacia, aborrecer o seu superior, não vamos pagar multa e nem ficar presos e ainda vai envolver o delegado na confusão! Com sorte o senhor mantém o emprego depois de tudo isso...

Scott passou mais um bom tempo discutindo com o policial, mas por fim o homem cedeu e nos liberou, talvez por medo de que realmente fosse processado. Eu tinha que segurar o riso vendo meu amigo puxar papeis com mapas de encanamento e documentação de prefeitura, lendo-os como se fossem leis que me livrassem da multa. Fomos embora depressa e quando estávamos a uma distancia segura, caímos na gargalhada pelo telefone. É... Pra morar em um país como o Brasil, se não aprender a ter jogo de cintura, dança!


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N.A.: Baseado em fatos reais rs

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