- Como estou?
- Igual a um pingüim.
George fez uma careta na frente do espelho e ajeitou a gravata mais uma vez, saindo para me dar espaço para terminar de me arrumar. Era o dia do casamento de Julian e Chelsea e seriamos padrinhos, George junto com Susan e eu junto com Brendan. Ninguém acreditou que esse um dia chegaria, mas foi George que ganhou o bolão que fizemos, com a aposta de que Julian casaria antes dos 30. Eu apostei que nunca e Brendan que seria em outra encarnação. A cerimônia seria na igreja Saint Bartholomew-the-Great, uma das mais antigas de Londres.
- Estão todos prontos? – vovó entrou no quarto já arrumada e linda – Louise, ainda está sem sapatos? Já estão todos esperando, até Susan está pronta! O carro vai sair em 10 minutos, se apresse.
Expulsei George do quarto para que conseguisse terminar de me arrumar e em menos de cinco minutos já estava na sala, ao lado da família toda pronta esperando para sair junta. Chegamos à igreja alguns minutos depois e Susan e Brendan já estavam lá com meus tios, mas a primeira pessoa que vi quando desci do carro foi Julian. Ele estava muito bonito de terno e parecia extremamente nervoso. Sorria para as pessoas de um modo um pouco assustador, mas à medida que íamos conversando com ele e falando bobagens ele foi relaxando, e na hora que a cerimônia começou ele era o noivo mais empolgado que já existiu. Era inacreditável que aquele dia finalmente tivesse chegado. O primeiro primo estava casado, agora restavam quatro.
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O casamento de Julian e Chelsea em Agosto havia sido o evento do ano para a família. Parentes que não via há anos estavam presentes na cerimônia e a festa foi simplesmente divina. Até Remo, que assistiu a cerimônia ao lado do meu avô materno, se divertiu como nunca. Dançamos até fazer bolha nos pés e eu e Susan bebemos além da conta, mas ninguém passou mal e todos sobreviveram à noite sem incidentes. Brendan aproveitou a ocasião para apresentar sua nova namorada, Penélope, e ele jurava que ela era diferente das outras e não estava começando o namoro com um prazo de validade.
Mas entre o casamento de Julian e as visitas constantes a Scott na Suécia, o mês de Agosto passou como um raio e logo me vi parada em frente à fachada da loja de departamentos Purga & Sonda LTDA, às 7 horas da manhã do dia 1º de Setembro, dividida entra entrar e respirar. Era o primeiro dia da minha residência.
- Não sabe como entrar? – ouvi a voz conhecida de Sam e virei para o lado. Abri um enorme sorriso ao me lembrar que não estava sozinha.
- Sei, mas estava tentando me lembrar como se respira antes – falei um pouco nervosa e Sam riu.
- Eu vim assoprando dentro de um saco de papel no ônibus. Achei melhor vir de ônibus, assim teria mais tempo para me acalmar do que se aparatasse – ela explicou quando me espantei ao ouvir a palavra “ônibus”.
- Bom, nós nos matamos de estudar para estarmos aqui, não vamos nos limitar a calçada – dei um passo a frente e ela me acompanhou – Vamos entrar.
- Estamos aqui para começar o nosso estágio – Sam se aproximou mais e falou com o manequim que ficava dentro da vitrine velha e empoeirada.
A manequim moveu a cabeça de leve e em seguida Sam e eu havíamos atravessado o vidro, sem que nenhum trouxa pudesse notar que duas pessoas tinham acabado de desaparecer do nada. Ao chegarmos do outro lado não havia mais sinal da manequim, apenas uma recepção muito tumultuada. Haviam fileiras de bruxos e bruxas sentados em cadeiras de madeira aguardando para serem atendidos, cada um com o mais esquisito tipo de doença ou reação a feitiços, como uma bruxa com o rosto suado no centro da fileira da frente que estava abanando a si mesma vigorosamente com uma cópia do Profeta Diário, enquanto um assobio com um vapor preto saia torrencialmente pela sua boca; um outro bruxo aparentando estar sujo, no canto, ressoava como um sino a cada vez que se movia e com cada som sua cabeça vibrava horrivelmente, tanto que ele teve de agarrar a si mesmo pelas orelhas e segurá-la fixamente.
Bruxos e bruxas em jalecos verde-claro andavam para cima e para baixo nas fileiras, fazendo perguntas e fazendo anotações em pranchetas, e todos tinham o mesmo emblema bordado em seus peitos: uma varinha e um osso cruzados. Ficamos paradas no meio daquele caos, observando os curandeiros trabalhando, e levamos uma série de trombadas de pessoas que passavam apressadas pela recepção. Era tanta gente correndo de um lado para o outro que estava ficando tonta só de olhar. Ficamos um bom tempo paradas no mesmo lugar, até que uma voz enérgica nos tirou do transe e voltamos à realidade. Uma mulher de estatura mediana, cabelos curtos e ruivos e grossos óculos redondos estava parada na nossa frente, com uma prancheta na mão.
- Novas internas? – assentimos com a cabeça e ela indicou o balcão com a mão livre – Por aqui.
Caminhamos desviando das pessoas para não perdê-la de vista e paramos onde ela mandou, ao lado de mais quatro pessoas com as mesmas expressões assustadas que as nossas, e logo deduzimos que eram os outros internos. Entre elas estava Mirian, que parecia muitíssimo aliviada em nos ver e logo correu para o nosso lado. A mulher gritou alguma coisa com o homem que cuidava da recepção e ele saiu apressado, e então ficou de frente para o nosso grupo. Do meu ponto de vista, naquele momento ela era um leão diante de 6 cordeiros assustados, esperando o momento do ataque.
- Meu nome é Dra. Weaver, sou a chefe da emergência do St. Mungus e vou fazer um tour rápido pelo hospital com vocês, tentem me acompanhar e guardem as perguntas para o Curandeiro que ficara responsável pelas suas avaliações – ela saiu andando depressa e corremos para acompanha-la – Aqui no térreo cuidamos dos acidentes com artefatos mágicos, tais como explosões de caldeirões, problemas com varinhas e quedas de vassoura. No 1º andar cuidamos dos ferimentos provocados por criaturas, como mordidas, envenenamento, queimaduras, espinhos encravados – a cada novo andar, ela corria escada acima com uma agilidade chocante e corríamos atrás dela para não perder nada – Aqui no 2º andar ficam concentrados os casos de acidentes mágicos, que incluem doenças contagiosas, catapora de dragão, doença do desaparecimento, furúnculus, entre outros. No 3º andar vocês irão cuidar de casos de envenenamento por poções ou plantas, onde são tratadas erupções na pele e regurgitações. No 4º andar ficam os danos causados por magia, que incluem azarações problemáticas, maldições, aplicação incorreta de feitiços, são os nossos pacientes que ficam internados por muito tempo, às vezes por anos – ela subiu um último lance de escada sem sequer apresentar cansaço, embora eu e todos os outros cinco estivéssemos suando – E aqui no 5º andar fica o Salão de chá para os visitantes e a lojinha do hospital. Se forem pegos aqui fora do horário de descanso, perdem suas vagas. Voltem para a recepção, os Curandeiros que os guiaram a partir de agora os encontrarão lá.
A mulher desapareceu escada abaixo e ficamos nos encarando por alguns segundos, tentando recuperar o fôlego, até que um dos garotos saiu na frente a seguindo pela escada e fizemos o mesmo. Não tinha ninguém na recepção quando chegamos, além do homem que trabalhava lá, e notei uma placa bem no alto da parede, com toda a descrição que ela havia acabado de nos dar do hospital. No final da tabela, tinha um aviso: "Se você não tem certeza aonde ir, não consegue conversar normalmente ou não se lembra de porque está aqui, nossa recepção vai ter o prazer de ajudá-lo”.
- Acho que vamos vir muito aqui na recepção – Sam comentou também lendo o quadro e rimos.
- Ah, novos internos! – ouvimos a voz de um homem bastante empolgado e viramos todos ao mesmo tempo – Eu sou o Dr. Benton e esse é a Dra. Lockhart, seremos seus supervisores durante o estágio de residência.
- Storm, Wood e Capter, vocês ficam comigo hoje – a Dra. Lockhart leu nossos nomes na ficha e sorriu gentil – Carter, McCrane e Taggart, com o Dr. Benton. No fim do dia vamos ver quem atendeu mais pacientes e aprendeu mais sobre a profissão, homens ou mulheres.
- Bem vindos à residência – o Dr. Benton nos atirou nossos jalecos verde-claro com o emblema do St. Mungus – O sonho começa agora.
Entreolhamos-nos empolgados e ansiosos enquanto vestíamos os jalecos e saímos atrás dos nossos supervisores do dia para começar as rondas e os observar atender os pacientes, antes de começarmos a nós mesmos fazer isso. Vestindo aquele jaleco com a varinha e o osso cruzados e com meu nome logo embaixo, percebi que nunca tive tanta certeza do que queria ser na vida como tinha naquele momento. Dr. Benton tinha razão, o sonho estava começando.
2 comentários:
Apesar de ainda estar bastante assustada com o movimento frenético desse hospital, eu tenho certeza de que essa frase de efeito do Dr. Benton é certa: "o sonho começa agora". Nem acredito que finalmente estamos aqui! *___*
Não sei como vocês duas conseguem achar graça nisso de ficar vendo pessoas soltando fumaça preta pelo nariz, balando a própria cabeça, e coisas bem piores... Tem que ter um estômago muito forte.
Sou mais o MEU estágio, que só preciso lidar com alguns duendes chatos durante os dias, mas é seguro e saudável. Hahaha! De qualquer maneira, boa sorte!
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