- O que foi? – perguntou preocupado – Aconteceu alguma coisa?
- Sim – peguei a carta outra vez e estendi a ele – Ligue pro escritório e diga que precisa de ausentar hoje, nós vamos até Hogwarts.
Ele me olhou sem entender, mas quando leu o conteúdo da carta, também perdeu o humor depressa. Dessa vez ela não ia escapar ilesa.
*****
- Louise, Remo! – fomos recebidos por um sorridente Hagrid assim que pisamos nos terrenos da escola – Quanto tempo não vejo vocês! O que trazem os dois até Hogwarts?
- Uma filha que aparentemente não tem limites – respondi irritada e Hagrid riu.
- Clara andou aprontando e McGonagall pediu que viéssemos conversar com ela – Remo explicou.
- Ah sim, ela e os outros são bem levados mesmo, estão sempre metidos em confusão e cumprindo detenção – ele denunciou o bando – Eu mesmo já apliquei uma outro dia, me ajudaram a cuidar dos animais na floresta.
Hagrid ia nos acompanhar até o castelo, mas paramos ao ouvir um estampido vindo de Hogsmeade. Depois outro, e mais outro, e assim foi por quase 2 minutos. Alex, Logan, Yulli, Segei, Lu, Mirian, Sam, Josh e Quim entraram um por um nos terrenos da escola e balancei a cabeça, incrédula. Então aquela visita não seria apenas por causa da Clara, mas sim porque todos estavam passando dos limites. Eles já vinham caminhando rindo ao perceberem que estávamos todos reunidos ali pelo mesmo motivo e Hagrid nos acompanhou até o escritório de McGonagall.
A diretora já estava nos esperando e entrar naquele escritório e vê-la nos encarando com um ar tão severo fez com que me sentisse com meus 16 anos outra vez. Descobri que por mais que o tempo tivesse passado e não fosse mais uma adolescente, Minerva McGonagall ainda me intimidava. E a julgar pela expressão no rosto das minhas amigas, intimidava a elas também. A impressão que tinha era de que sairia dali com uma detenção e menos alguns pontos para a Lufa-Lufa. Clara ia me pagar muito caro por essa humilhação interna.
- Não tenho cadeiras suficientes, mas acomodem-se, por favor – Minerva indicou algumas cadeiras e eu e as meninas sentamos – Acho que todos leram minha carta, então sabem por que estão aqui.
- Sim, imaginamos que nossos filhos sejam um pouco bagunceiros – Alex arriscou responder e o nariz de Minerva tremeu levemente.
- “Um pouco”? – ela falou soando um pouco nervosa – Seus filhos estão fora de controle! Vocês não deram educação a eles? Não souberam impor limites? Eles não obedecem a ninguém, simplesmente fazem o que querem e a hora que querem! Já considero um avanço que assistam às aulas junto dos outros ao invés de determinarem seus próprios horários! Descontar pontos não surte efeito e detenção é só um passatempo para eles, são punidos repetidamente e não aprendem. De Setembro pra cá, foram cerca de 20 detenções cumpridas, cada um. Isso é uma média de 2 detenções por mês! – ela terminou de falar e voltou a respirar.
- Minerva, eles são apenas crianças – o quadro de Dumbledore falou, sorrindo para nós.
- Crianças? – a voz exaltada de Fineus Nigellus Black saiu de outro quadro – Aquilo não são crianças, são demônios! Estão destruindo a reputação da minha amada casa!
- Ora Fineus, francamente! – agora ouvíamos a voz suave de Dilys Derwent – A Sonserina nunca teve uma boa reputação!
- Nunca fomos conhecidos como baderneiros e mal educados. Ao menos não até agora! – ele tornou a esbravejar.
- Já chega, fiquem quietos! – Minerva ordenou e Fineus fez cara feia, mas voltou a dormir.
- Minerva, o que eles tanto aprontaram durante o ano? – Remo perguntou – Que tipo de coisa eles estão fazendo?
- Eles implicam com colegas de classe, pregam peças em todo mundo, não respeitam as regras e estão sempre brigando – ela listou – Todos sabemos que existe uma espécie de tradição que diz que Sonserinos e Grifinórios não conseguem conviver em harmonia, mas eles levam isso ao pé da letra e passaram dos limites com essa “guerra” semana passada, ao começarem um duelo no meio da aula de DCAT! Ártemis, é claro, faz parte do grupo que duela contra a Grifinória.
- Minerva, por que não nos escreveu antes, contando tudo isso? – Lu perguntou indignado.
- Porque de alguma forma eu pensava que poderia disciplina-los, mas estou jogando a toalha – pela primeira vez, Minerva pareceu cansada – Não vou expulsa-los agora no fim do ano letivo, mas quero que fiquem avisados que se essas crianças não entrarem na linha, não chegarão ao terceiro ano em Hogwarts.
- Com licença, Minerva – ouvimos uma batida na porta e Ben apareceu. Sorriu ao nos ver e olhou para a diretora – Temos um problema nas masmorras...
- O que foi agora? – ela perguntou e nos lançou um olhar acusador.
- É melhor ir até lá.
Minerva levantou de sua poltrona e saiu do escritório, pedindo que a aguardássemos. Ben deu passagem a ela e quando ouvimos a gárgula de pedra se fechando, ele começou a rir.
- Levaram bronca dela? – ele perguntou debochado.
- Nossa, eu to suando até de nervoso, me senti com 16 anos de novo! – respondi, minha mão um pouco gelada.
- O que essa mulher tem que assusta tanto? – Yulli perguntou também nervosa.
- Gente, ninguém merece depois de mais de 20 anos de formados, levarmos puxão de orelha de Minerva McGonagall! – Alex falou rindo de nervoso.
- Nunca fui chamado pelo diretor para levar bronca, é um absurdo entrar aqui pela primeira vez por causa da minha filha.
- Você nunca levou uma detenção? – perguntei incrédula e ele confirmou com a cabeça.
- Nossa, mas que vida academia chata você teve... – Sam comentou e rimos.
- O que foi que aconteceu nas masmorras? – Lu perguntou – Foram as crianças?
- Acho difícil eles terem culpa dessa vez, apareceram algumas pixações na parede – Ben respondeu – Parece que foram alguns grifinórios ofendendo os sonserinos, é a segunda vez que acontece.
Ficamos conversando por cerca de 10 minutos sobre os problemas que as crianças estavam causando na escola e ouvimos a gárgula se mexer, mas ao invés de um passo só, ouvimos vários subindo as escadas. Segundos depois, nossos filhos estavam dentro do escritório e levaram um susto ao nos verem em pé lá dentro. Ben se despediu e desceu correndo, deixando o escritório.
- Chamei os senhores aqui apenas para que saibam que seus pais já estão cientes de tudo que aprontaram na escola desde Setembro e para avisá-los que, a partir de agora até o fim do ano letivo, vocês estão proibidos de circular pelos corredores, pátio e qualquer parte dos terrenos da escola fora do horário de aula. Será do salão comunal para o salão principal para tomar café e almoçar, de lá para as salas e ao fim das aulas do dia, voltam para o salão comunal e lá devem permanecer até o dia seguinte – Minerva tomou fôlego novamente e falava de uma vez só – Se pegar vocês circulando pelos corredores depois do horário das aulas, vou começar a considerar expulsão mesmo tão próximo do fim do ano letivo.
- Mas diretora, não é justo só a gente pagar o pato pelo duelo na aula! – Clara começou a falar e de repente todos falavam ao mesmo tempo e ninguém entendia quase nada.
- É, os grifinórios também brigaram e foi o James que começou! – Haley protestou.
- O que chegou aos meus ouvidos foi que a Srta. Lupin lançou o primeiro feitiço – Minerva respondeu.
- Sim, mas porque ele provocou! – agora era Keiko falando e mais uma vez todos começaram a falar se atropelando.
- Não que isso seja da conta dos senhores, mas os alunos da Grifinória também serão devidamente punidos – ela respondeu estranhamente paciente – Agora outro assunto: quem foi o autor da brincadeira de mau gosto agora na masmorra?
Agora a sala caiu em silencio. As crianças trocaram olhares suspeitos, mas ao mesmo tempo negavam com a cabeça uns para os outros. Minerva observava a comunicação silenciosa entre eles, mas se cansou rápido.
- Srta. Lupin, não adianta negar, pois sei que foi a autora da brincadeira na primeira vez que aconteceu – ela falou e olhei furiosa para Clara, mas ela evitava me encarar – Existem testemunhas e elas me confirmaram alguns dias depois de já ter punido James Thruston e Brittany Dashwood que foi a srta. que escreveu nas paredes da masmorra e fez parecer que tinham sido os dois. Mas sei que não fez isso sozinha, então a hora de me dizer quem a ajudou é agora.
- Ninguém me ajudou, eu fiz tudo sozinha – Clara respondeu depressa, mas Ártemis reagiu de forma suspeita ao ouvi-la falar.
- Está me dizendo que entrou no salão comunal da Grifinória e colocou as latas de spray nos pertences de seus colegas sem nenhum aluno da casa lhe ver? – Minerva insistiu e Clara confirmou com a cabeça – Pois eu não acredito.
- Fui eu que coloquei as latas de spray na mala deles – Ártemis se acusou – Clara me entregou na porta do salão comunal e eu fiz o resto.
- Arte! – Clara exclamou olhando para ela.
- Você não fez a brincadeira sozinha, não é justo levar a culpa sozinha também – ela se justificou e Lu parecia orgulhoso por ela ter assumido sua parcela de culpa, mas Mirian parecia prestes a esganá-la.
- E dessa vez, também a ajudou? – Minerva perguntou e todos negaram ao mesmo tempo.
- Dessa vez não tivemos culpa, diretora! – Clara falou – Estávamos dentro do salão comunal quando Penny disse que tinham pixado as paredes da masmorra.
- É difícil acreditar, considerando o histórico de todos vocês – ela insistiu.
- Mas não fui eu dessa vez, eu juro! – Clara agora parecia desesperada para que Minerva acreditasse nela – Não sei quem foi, mas eu não tive nada a ver com isso!
- Só pode ter sido o James, ele ainda está mordido por ter apanhado da Clara na aula do tio George – Haley acusou o garoto e os outros a apoiaram.
- Minerva, nós sabemos que eles não têm credito para que acredite no que dizem, mas se eles estão negando com tanta veemência, acredito que não tenham tido culpa mesmo – falei em defesa deles, embora minha vontade fosse ajudar a dar bronca.
- Sabemos quando nossos filhos estão mentindo, embora eles pensem que possam nos enganar – Yulli falou e Keiko engoliu seco – E se eles estão afirmando que dessa vez não fizeram nada, eu acredito neles.
- E apesar das coisas que fizeram, uma coisa é fato: eles têm coragem de assumir quando são pegos – Alex também saiu em defesa das crianças.
- Sim, eles sentem um estranho prazer em se orgulhar de tudo de errado que fazem – Sam falou e eles sorriram orgulhosos – Tirem esses sorrisos da cara, só estamos defendendo porque levar a culpa sem ter feito nada não é justo! – e os sorrisos murcharam depressa.
- Muito bem, se estão certos de que eles não tiveram culpa, vou apurar para saber quem foi o verdadeiro culpado. Por enquanto, estão salvos. Agora podem ir, acho que já dei todos os avisos que queria. E não se esqueçam que a regra de não perambular pela escola fora do horário de aula já está valendo. Quando a aula de Transfiguração terminar, todos de volta para o salão comunal. Só saiam de lá para o jantar.
Todos assentiram com a cabeça e começamos a descer as escadas um atrás do outro. Já de volta ao corredor, cada um puxou seu filho pela orelha para uma bronca particular e agarrei Clara pelo braço, arrastando para um canto.
- Ai mãe, meu braço! – ela reclamou quando a soltei, alisando o braço – Você tem a mão pesada, sabia?
- Agradeça por já estar grandinha o suficiente ou ia esquentar sua bunda! – respondi irritada e ela calou a boca, mas cruzou os braços emburrada – Qual é o seu problema? Por que faz essas coisas? – ela deu de ombros. Aquilo me enfureceu ainda mais - Tivemos que ouvir um sermão da Minerva sobre não termos imposto limites a você!
- Por que atacou o garoto na aula do seu tio? – Remo perguntou.
- Porque ele é um babaca! – ela respondeu ainda emburrada.
- Olha o vocabulário, Clara! Não foi essa a educação que lhe demos, exijo respeito quando estiver falando comigo e sua mãe! – Remo perdeu a paciência e ela se espantou com seu tom de voz. Pela primeira vez o vi furioso com algo que ela tivesse feito. Nem mesmo quando conseguiu ser expulsa do colégio francês Remo levantou a voz.
- Desculpa – ela murmurou de cabeça baixa.
- Eu só queria entender o que passa pela sua cabeça para desrespeitar a diretora, desobedecer tudo que lhe mandam fazer! – recomecei a falar – Responda direito, por que atacou o garoto na aula do George?
- Eu sou culpada, pode me punir, tudo bem? – ela se esquivou e não respondeu.
- Clara, sua mãe lhe fez uma pergunta, responda!
- Com licença – fomos interrompidos por um homem de terno que segurava o braço de um menino com o uniforme da Grifinória. Clara fez uma careta ao ver o garoto e tornou a cruzar os braços – Não sei se lembram de mim, mas sou Anthony Thruston, era da Grifinória quando estavam quase se formando.
- Anthony, mas é claro que lembro de você – Remo apertou sua mão e sorriu – Era do terceiro ano quando me formei.
- Sim, isso mesmo. Desculpe interromper a conversa, mas meu filho tem algo a dizer a você – ele puxou o garoto para frente.
- Pai, por favor... – o menino suplicou, mas ele estava irredutível.
- James, faça o que estou mandando! – esbravejou – Não lhe eduquei para ser grosseiro com as pessoas e ofender quem nem ao menos conhece! – o garoto balançou a cabeça derrotado e encarou Remo.
- Desculpe por ofendê-lo dizendo que lobisomens são bestas irracionais e que não são domesticáveis – ele falou de uma vez só e Remo e eu nos espantamos.
- Ainda não terminou, não é? – Anthony apertou o ombro do garoto e ele bateu o pé, mas o olhar severo do pai o fez ceder e ele encarou Clara.
- Desculpe por ofender seu pai, Lupin – ele falou azedo e Clara não respondeu, mas Remo a olhou feio e ela descruzou os braços.
- Desculpas aceitas – ela respondeu entediada e também a olhei atravessado – Desculpa ter batido em você – ela completou, mas com um leve tom de deboche.
- Pronto, agora estamos todos bem – Anthony falou outra vez – Remo, sinto muito meu filho tê-lo ofendido. Eu não o eduquei para ser assim, não sei por que age dessa forma.
- Tudo bem, não me ofendeu de verdade – Remo respondeu olhando para Clara – Ofendeu mais a minha filha, mas ele já se desculpou com ela, então está tudo bem.
- Que bom. Agora vamos, James. McGonagall me chamou aqui para fazer queixa de você e quero que escute tudo que ela tem para me dizer! – ele se despediu e puxou o filho pelo braço, entrando no escritório da diretora.
- Por que não disse que atacou o garoto por ele ter ofendido seu pai? – perguntei assim que eles saíram.
- Porque eu ia ter que repetir o que ele disse – ela respondeu de cabeça baixa e Remo e eu nos olhamos.
- Bom, por essa briga não vamos castigá-la, mas ainda tem as outras pendentes – falei outra vez e Remo me apoiou.
- Exato. Pode esquecer praia e viagem com o seu irmão. A única viagem que fará nessas férias será para o Rancho, para o casamento do Ty. Depois disso, vai passar os 2 meses em casa.
- As férias inteiras?? – ela perguntou indignada – Mas eu vou morrer de tédio!
- Não se preocupe quanto a isso, minha querida – falei no mesmo tom de deboche que ela usava – Sempre estão precisando de voluntários para os projetos sociais do hospital, vou arrumar uma vaga para você.
- Ah ótimo, trabalho voluntário... – ela resmungou.
- Se não aprende nada nas detenções, vai aprender ajudando os outros – Remo falou e ela revirou os olhos, inconformada.
- Agora tome o rumo da sala de aula e não esqueça que está proibida de circular pelos corredores até o fim do ano letivo. Se voltarmos aqui ainda esse semestre, peço sua transferência pra escola de magia mais longe que existir! – ameacei.
- Esse semestre? Então quer dizer que em Setembro zera tudo? – ela perguntou debochada.
- Não abuse da minha paciência, Clara – respondi lhe lançando um olhar furioso e ela desfez o sorriso que tinha no rosto.
- Anda, vá para a sala com os outros – Remo a empurrou para junto dos outros encrenqueiros.
Ficamos observando eles andarem juntos pelo corredor, já conversando como se nada tivesse acontecido. Estava uma fera por ela estar a um passo de ser expulsa de mais uma escola, mas não conseguia deixar de sentir uma pontada de orgulho por ter defendido o pai dos comentários maldosos do colega, mesmo que tenha escolhido partir para a agressão para fazê-lo se arrepender. E o modo como ela e os amigos se apoiavam e se defendiam era impossível não ser comparado a nós mesmos quando ainda estudávamos em Hogwarts. No fundo, eles tinham a quem puxar.