Tuesday, November 10, 2009

1º de Novembro de 2012

Ainda era muito cedo, até mesmo para o inicio do meu plantão, quando fui acordada por insistentes bicadas na janela de vidro do meu quarto. Remo sequer se moveu na cama quando levantei e abrindo as cortinas, vi que era uma das corujas de emergência de Hogwarts. Abri a janela nervosa, pois já havia reconhecido bem antes a letra de Yoshi, que por ser o diretor da Sonserina denunciava que o problema era com Clara. Abri a carta em sua pata tão depressa que quase a rasguei.

- Remo! – deixei a carta cair no chão ao terminar de ler e corri de volta para a cama – Temos que ir a Hogwarts agora!
- O que aconteceu? – ele se assustou com a violência com que o sacudia – Clara está bem?
- Não.

ººººº

Conseguir uma chave de portal antes das 6 da manhã não era tarefa fácil, mas quando se tem como amigo um Ministro da Magia, regras em situações de emergência podem ser quebradas. Depois de avisar a Scott e Gabriel sobre o que estava acontecendo, nós mesmos criamos a nossa e partimos para Hogwarts, enquanto meu filho usava uma para ir até Paris, dizendo saber onde conseguir ajuda.

Quando pisei na ala hospitalar da escola com Remo e Scott, a primeira visão que tive foi de minha filha desmaiada em uma cama, ao lado de uma bandeja lotada de frascos de poções que nem precisava chegar perto para saber que eram calmantes. Remo notou minha expressão quando assimilei a imagem dela aos frascos e segurou minha mão, mas tarde demais.

- Por que minha filha está dopada? – foi a primeira coisa que perguntei, sem me preocupar em ser educada.
- Sua filha apresentava perigo, Sra. Lupin – a enfermeira veio ao nosso encontro, ofendida – Não podia arriscar deixá-la se transformar outra vez.
- Suma com estes frascos daqui. Se der mais alguma poção calmante a minha filha, vai perder sua licença.
- Louise, se acalme – Remo falou mais controlado, me puxando para perto da cama onde ela estava.
- Calma coisa nenhuma, olhe o estado dela! – esbravejei, furiosa e as crianças se assustaram. Estavam todas sentadas nas camas ao redor – George, ela é sua sobrinha! Como deixou que fizessem isso?
- Lou, eu não tive escolha, McGonagall deu a ultima palavra – meu irmão tentou se justificar.
- Lou, por favor, se acalme – Ben interveio – Estávamos aqui o tempo todo a vigiando, se notasse algo de diferente, não deixaríamos que ela desse outra poção.
- Alguém pode explicar o que aconteceu aqui? – Remo falou sentando na cama ao lado dela, alisando seu cabelo – Como isso aconteceu?
- Meninas?

George olhou para Haley, Keiko e Artemis, que pareciam assustadas demais com tudo aquilo, mas começaram a relatar tudo que havia acontecido na noite anterior, onde as quatro resolveram se aventurar pela Floresta Negra no meio da noite. Ouvia a tudo sem interromper, até mesmo indiferente ao fato de que estavam fazendo algo proibido e perigoso, apavorada demais com a idéia de que minha filha havia virado um lobo sem qualquer explicação plausível. E mesmo depois de ouvir tudo e discutirmos possibilidades, ninguém parecia se aproximar de nada justificável.

Passei a manhã inteira sentada ao lado dela na cama, com sua cabeça em meu colo, esperando que o efeito de todas aquelas poções passasse depressa e ela pudesse acordar. Cada minuto que via minha filha desmaiada daquela forma aumentava mais a vontade de voar no pescoço da enfermeira. Remo sabia disso, e não saiu do nosso lado o tempo inteiro. George, Ben e as crianças também não foram a lugar algum, embora a enfermeira tenha tentado expulsar as crianças de volta pra seus salões comunais, mas não deixei que elas saíssem e ela não insistiu mais.

- Mãe? Pai? – ouvi a voz fraca de Clara de repente, quando já passava da hora do almoço.
- Sim, estamos aqui – respondi alisando seu rosto, aliviada por ela ter acordado – Como está se sentindo?
- Enjoada e um pouco tonta – ela fez uma careta dolorida – Não gosto dessas poções.
- Você não vai mais tomar nada – Remo respondeu.
- Cadê o meu irmão? – ela perguntou ao olhar rápido ao redor e não encontrar Gabriel.
- Estou bem aqui, pirralha – Gabriel apareceu na porta da enfermaria ao lado de um homem loiro e um garoto da idade das crianças. O homem sabia que era Ian Lafayette, amigo de escola, mas o garoto não conhecia – Como você está? Agüentando o tranco? – e Clara fez uma careta e sinal de mais ou menos com as mãos, fazendo as crianças rirem.
- Onde você estava? – perguntei de imediato.
- Ele foi me procurar, Sra. Lupin – Ian respondeu por ele, se aproximando com as mãos apoiadas no ombro do garoto – Eu sei o que aconteceu a ela, posso ajudar.
- Você sabe por que eu virei um lobo ontem? – Clara se ajeitou na cama, agitada. Ele confirmou com a cabeça.
- Tudo bem, pode falar na frente de todos eles – Remo indicou as crianças com a cabeça, quando elas ficaram tão agitadas quanto Clara – Ela vai contar tudo a eles de qualquer forma.
- Ok então – ele riu quando elas comemoraram batendo as mãos – Clara é uma semi-lobisomem. Ela herdou as características de um lobisomem, mas não todas. A grande diferença é que ela tem o poder sobre isso, é ela quem controla as transformações.
- Mas eu não queria isso ontem – ela o interrompeu – Nem sabia que podia fazer isso, não controlei nada.
- Porque foi sua primeira transformação. Começa quando o semi-lobisomem completa 13 anos. Você não começou a se sentir diferente depois que fez 13 anos? – ela confirmou com a cabeça e lembrei dos incidentes em casa – Não há como prever quando será a primeira transformação, só que será a partir do seu 13º aniversário. Mas a primeira vez sempre acontece quando você está sob forte estresse, em alguma situação onde não consiga controlar suas emoções.
- Tinha um lobisomem rosnando pra gente na hora.
- O medo e a raiva são as emoções mais vulneráveis a isso. Sempre que você estiver com muita raiva de alguma coisa, se não souber controlar isso, vai se transformar em um lobo – Remo e eu nos olhamos assustados e ele riu – Calma. Como disse, há como controlar isso. Clara vai ter que aprender a manter o controle sob suas emoções. Uma vez que conseguir isso, é ela quem vai determinar quando quer se transformar.
- E pra voltar ao normal só tenho que me acalmar? – ela perguntou.
- Enquanto não souber controlar o botãozinho de liga e desliga, sim.
- Não foi coincidência ser justamente uma noite de lua cheia, não é? – Remo perguntou, mas já sabíamos a resposta.
- Não. Embora ela não tenha que obrigatoriamente se transformar nelas, as noites de lua cheia a afetam. Ela vai ficar mais vulnerável, qualquer coisa por mais simples que seja pode causar a transformação. Até que você aprenda a controlar isso, é extremamente importante que não deixe nada a irritar, principalmente na lua cheia.
- Como você descobriu isso tudo? – perguntei intrigada.
- Porque até ontem, só existia um semi-lobisomem de conhecimento do Ministério no mundo bruxo – e apertou o ombro do garoto que estava com eles – Este é Devon. Ele tem 14 anos e se transformou pela primeira vez ano passado.
- Vamos deixar vocês conversando, aposto que Clara tem muitas perguntas a fazer ao Devon – Gabriel falou indicando a porta com a cabeça e entendemos que queriam conversar longe das crianças.

Ainda nem havíamos saído da enfermaria quando Clara começou a encher o menino de perguntas, e como ele só falava francês, servia de tradutora para os que não sabiam, que pareciam ter tantas perguntas quanto ela. Paramos nos bancos que tinham do lado de fora e Ben fechou a porta quando passou.

- Ok, qual é a parte da história que Clara não pode ouvir? – perguntei logo.
- É realmente importante que ela aprenda a controlar isso, o mais rápido possível, ou pode apresentar risco aos alunos – Gabriel foi quem respondeu e Ian assentiu com a cabeça.
- Clara deu sorte de ter tido um lobisomem como causador de sua primeira transformação – Ian começou a falar – No caso de Devon foi diferente e ele acabou matando um garoto de 13 anos. Eles não perdem o controle da mente quando estão em forma de lobo, mas se na hora em que se transformar estiver sob forte estresse, podem esquecer quem são. O garoto o provocou e quando ele se deu conta, era um lobo e estava em cima do corpo sem vida dele.
- Ai que horror! – Scott exclamou horrorizado – E como vocês o encontraram?
- A família de Devon foi meu primeiro caso de verdade no St. Napoleon. Eles foram atacados por uma matilha de lobisomens enquanto acampavam e a mãe foi mordida quando ainda estava grávida dele. Conseguimos salva-lo, mas ela morreu, e como ninguém sabia quais seriam os efeitos que isso teria sobre ele, o mantemos sob vigilância todos esses anos. Ele é meu protegido, e quando atacou o garoto, Dominique estava por perto. Não conseguiu ser rápido o bastante para salvar o menino, mas nos alertou sobre o que tinha acontecido e desde então temos estudado tudo sobre o assunto, até que conseguimos chegar a todas essas conclusões. Como nunca ouvimos falar de nenhum outro caso como esse, o Ministério ficou com todos os dados que tinham conseguido e o registrou como o primeiro semi-lobisomem da história.
- Ele tem acompanhamento psicológico uma vez por semana, mãe – Gabriel respondeu a pergunta que estava querendo fazer.
- Sim, ele ficou muito assustado com tudo que aconteceu e foi preciso muitas horas gastas em terapia para que ele superasse o trauma de ter matado aquele menino, mas Devon está ótimo agora. Tem total controle sobre seu dom e vive uma vida normal. Ele ainda recebe a visita da psicóloga na escola apenas porque acho mais prudente não interromper por enquanto.
- Então ela deve manter a rotina? – Remo perguntou – Não devemos fazer nada de diferente?
- Não, é muito importante que ela não saia da rotina. Claro que agora precisa de uma atenção especial, até que possa controlar isso sozinha, mas sem sair da rotina. Ela ainda é uma garota normal, com um dom.
- Então o plano é mantê-la calma. Tarefa difícil. – Ben falou e acabamos rindo.
- Não se preocupem, ela vai ficar bem. Devon adora ter esse poder e se a Clara que conheci nas férias ainda é a mesma, ela também vai adorar a novidade.
- Ah eu não tenho duvidas disso, e é ai que mora o verdadeiro perigo.

Todo mundo riu da minha cara de desespero com a possibilidade de Clara ter total controle sobre o que era, claramente, animagia sem esforço, e voltamos para a enfermaria. As crianças estavam em um papo animado quando entramos, falavam todas ao mesmo tempo em inglês e francês e riam alto. Clara já não aparentava mais estar sob o efeito dos calmantes e lembrava muito mais a garota alegre e cheia de energia que sempre foi. Ian tinha razão, ela já estava adorando ser uma semi-lobisomem.